David Zamory, militante da Esquerda Marxista, entregou sua carta de renúncia ao cargo na direção da Macro ABC/SP, instância do PT que congrega as cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
Leia aqui uma apresentação feita pelo camarada David e, em seguida, a carta de renúncia entregue à Macro ABC/SP
Meu nome é David Zamory, desde os 22 anos sou filiado ao PT de São Bernardo do Campo, cidade onde nasci e cresci, entretanto, ja era petista muito antes disso. Meus pais, assim como tantos outros trabalhadores e trabalhadoras participaram da fundação do PT e a CUT no ABC paulista nos anos 80. Eu, assim como tantos outros jovens, cresci acompanhando os comícios e atividades do PT, onde Lula e outros dirigentes históricos do partido falavam em esperança para o futuro.
Sou militante da Esquerda Marxista, que na condição de tendência do partido, sempre combateu a política de colaboração de classes que desvirtuou os princípios que estiveram presentes na origem do PT. Um partido que lutava de forma independente e intransigente pelos trabalhadores e não tinha vergonha em dizer publicamente que combatia por uma sociedade sem explorados, nem exploradores, uma sociedade socialista.
Foi com esses ideais que lançamos nossa candidatura à coordenação do PT na região do ABC paulista durante o Processo de Eleições Diretas (PED) em 2013. As “Coordenações Macros-Regionais do PT de São Paulo” são uma instância intermediária entre os diretórios municipais e o diretório estadual. A “Macro PT ABC” congrega 7 cidades (Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) e é composta pelo coordenador da Macro e mais uma direção regional de 21 pessoas. Embora não seja uma instância de direção, a Macro tem, ou pelo menos deveria ter, um importante papel de articulação regional do partido e de diálogo com os movimentos sociais da região.
Como resultado desse combate, ganhamos uma das 21 cadeiras da direção da Macro, entretanto, passados pouco mais de um ano, o balanço das ações do partido em todas as esferas só pode nos levar a conclusão da necessidade de renúncia desse posto. E é com esse intuito que publico a carta a seguir entregue à coordenação da Macro ABC:
Carta de renúncia à direção da Macro ABC
Eu, David Zamory, filiado número 5354618 do PT de São Bernardo do Campo, venho através desta, renunciar ao posto de direção da “Macro PT ABC” pelos motivos que seguem.
Em 2013, nós da Esquerda Marxista, em conjunto com militantes do Núcleo de Participação e Organização Popular (POP) do PT de Mauá, militantes do PT de Santo André, ligados à oposição do sindicato dos Químicos do ABC, além de militantes do PT de São Bernardo, em especial a companheira Maria de Deus, da direção do Sindicato dos Servidores Públicos de São Bernardo, tomamos uma decisão de apresentar uma candidatura à coordenação da Macro ABC. Era um grupo pequeno, não tínhamos a ilusão de ganhar a maioria dos votos e nem de ganhar qualquer cargo, mas sim fazer um alerta à direção do partido e um chamado a toda a militância.
As jornadas de junho, que haviam acabado de acontecer àquela altura, já haviam dado o recado do descolamento do PT dos trabalhadores e particularmente da juventude, mas a direção do partido resolveu fingir que não era com ela, alegando que se tratava de manifestações da direita. Porém, pouco mais de um ano depois, as eleições de 2014 e a acachapante derrota do PT na região do ABC, berço histórico do partido, tanto no primeiro, quanto no segundo turno, mostrou toda a insatisfação da base histórica do PT com os rumos do partido e dos seus governos.
E esse fracasso eleitoral não foi à toa. Se não bastasse a óbvia constatação de que passados 12 anos de governo federal petista, a redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário, bandeiras históricas do movimento sindical, e que beneficiariam diretamente a base operária do ABC não saíram do papel, os governos locais também não decepcionaram menos.
Em São Bernardo, os funcionários públicos em 2008 votaram em peso no PT contra a administração da direita, e agora só tem frustração. O sonhado plano de cargos, carreiras e remuneração, com redução da jornada e aumento de salário não saiu do papel, a única coisa que avançou foi o processo de terceirização. É por essas e outras, que em pesquisa realizada pelo próprio governo constatou-se que apesar dos investimentos do governo federal na reforma das Unidades Básicas de Saúde, na construção de Unidades de Pronto Atendimento 24hrs e na construção de um Hospital de Clinicas Municipal, o atendimento da saúde segue sendo a principal reclamação dos munícipes, isso porque a estrutura é importante, mas além de ainda insuficiente, os médicos, enfermeiros e demais servidores da saúde seguem sendo totalmente desvalorizados pela atual administração.
A relação com a juventude que foi às ruas em Junho de 2013 também não poderia ser pior. A “Batalha da Matrix” evento de Hip-Hop organizado por jovens da periferia e que reúne todas as terças-feiras quase mil jovens na Praça da Matrix no centro da cidade, convive com a repressão policial e nenhum dialogo com a prefeitura, mesmo este tendo uma “Coordenação de Ações para a Juventude ( CAJUV)”. Este órgão do governo, que diga-se de passagem, já foi devidamente entregue aos partidos coligados de direita em troca de um pseudo apoio politico/eleitoral, convive com um continuo processo de sucateamento fruto dos constantes cortes de verba, e mais recentemente, o espaço onde o CAJUV desenvolve suas atividades correu o risco de ser privatizado pela vinda de uma unidade do SESC pra cidade.
Apesar de tudo isso, e muito mais, conseguimos impedir a vitória de Aécio Neves com uma vitória apertada de Dilma no segundo turno. Logo após as eleições, o prefeito de São Bernardo, que coordenou a campanha de Dilma no Estado de São Paulo, atribuiu a derrota no ABC e em todo o Estado à falta de diálogo da presidenta com os movimentos sociais, entretanto, na primeira oportunidade que ele teve de mostrar como se faz esse diálogo, fez exatamente o contrário do que disse. No final de 2014, o Movimento de Luta dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), movimento que compõe a direção estadual e nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), organizou uma ocupação com 300 famílias que estavam prestes a ficar desalojadas por não conseguir mais pagar o seu aluguel. Mas ao invés do diálogo, a prefeitura enviou, sem qualquer ordem judicial, a Guarda Civil Metropolitana, para desocupar violentamente um terreno privado, que há anos estava completamente vazio.
2015 começa ainda pior. No ABC, os prefeitos anunciam o aumento das passagens de ônibus mais uma vez. No governo federal, Dilma começa o seu segundo mandato entregando o ministério da fazenda a Joaquim Levy, alto-executivo do Bradesco, um dos bancos que mais lucram com o arrolamento da dívida pública, e o ministério da agricultura para a inimiga pública número um do MST e da reforma agrária: Katia Abreu. O resultado só podia ser o de ataque aos direitos dos trabalhadores com a edição das Medidas Provisórias 664 e 665, assim, a direita que foi derrotada nas urnas, se sente mais forte do que nunca e segue atacando nossos direitos.
E apesar de tudo isso a posição da direção do partido, em todos os níveis, segue sendo de apoio incondicional e irrestrito a estes governos de coalizão. Diante disso, não há mais condições politicas de compor a direção de qualquer instância do partido. Assim, eu renuncio, chamando todos aqueles ainda fiéis aos princípios que nortearam a fundação do PT, a se juntarem a nós na formação de uma poderosa Frente de Esquerda, capaz de mobilizar amplas parcelas da população em defesa dos diretos dos trabalhadores, da juventude e no combate pelo Socialismo.
Seguimos juntos na luta! Saudações Socialistas!
David Zamory – membro da direção da Macro ABC