De volta às ruas, um balanço dos atos de 7 de junho

Os atos do último domingo tiveram força e impacto, mesmo não sendo massivos. As manifestações por aqui certamente foram impulsionadas pela onda de protestos que varre os EUA e que chegou também à França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha etc. 

PT, PCdoB, CUT não convocaram as manifestações do dia 7. Uma matéria no site da CUT, de 4 de junho, dizia que as ações pelo impeachment de Bolsonaro “serão realizadas, por enquanto, sem ações de rua, mantendo, portanto, o isolamento social, única proteção contra o novo coronavírus, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)”. Na realidade, utilizam a pandemia para manter a paralisia.

Defendemos o isolamento social, é claro, mas a questão é que a maior parte da classe trabalhadora não tem direito a este isolamento. A maioria das fábricas tem funcionado normalmente e os transportes públicos seguem sendo pontos de aglomeração nas grandes cidades. Os hospitais lotados ou próximos da lotação total dos leitos de UTI. Em diversos locais, prefeitos e governadores começam a flexibilizar as medidas de isolamento, em pleno crescimento da pandemia. Às condições sanitárias se somam as condições econômicas: informais recebendo (quando conseguem receber) a migalha de R$ 600 do auxílio emergencial, a redução de salários, o desemprego. O governo Bolsonaro, assim como o conjunto do sistema que ele representa, é um risco tão grande para a vida da classe trabalhadora, que muitos que puderam se arriscaram, saíram às ruas, pra avançar na luta pra derrubar este governo, dar uma resposta aos bolsonaristas mais radicais e grupelhos protofascistas e suas ameaças, lutar contra o racismo e a violência policial, em sintonia com os protestos em outros países.

Os atos foram significativos politicamente, mesmo não sendo massivos, pois contaram com uma ampla simpatia popular. Tiveram ainda que superar as restrições da pandemia, a “desconvocação” de dirigentes políticos e de personalidades, e também a intimidação policial.

No Rio de Janeiro, em Curitiba, e outras cidades, quem chegava para o ato era revistado por policiais. Muitos desistiam de se aproximar dos locais de concentração por conta do forte aparato policial. Um caso escandaloso é de Fortaleza (CE), em que a polícia, comandada pelo governador Camilo Santana, do PT, cercou a praça onde ocorreria o ato para impedir sua realização, os manifestantes caminharam por ruas da cidade cercados pela polícia, 7 foram presos. Em Belém, 112 manifestantes foram detidos. A justificativa para estas medidas é que os manifestantes iriam causar aglomerações. Em Campinas, interior de São Paulo, o prefeito ameaçou multar em 10 mil reais manifestantes pelo mesmo motivo, o contraditório é que no dia seguinte os comércios e shoppings foram reabertos na cidade, provocando grandes aglomerações. 

Em São Paulo, um juiz proibiu a realização do ato na Avenida Paulista, para onde estava marcado, argumentando a possibilidade de confronto com o grupo de bolsonaristas que também estava previsto para se reunir no mesmo local, e que na semana anterior teve que ser protegido pela polícia para não ser escorraçado pelos manifestantes contra o governo. A Frente Povo Sem Medo, junto às lideranças de torcidas, transferiu o ato para o Largo da Batata. Sem entrarmos aqui no mérito se esta foi ou não uma decisão acertada, a questão é que a partir disso estar definido, seria uma atitude sectária dividir as forças e manter o chamado para a Av. Paulista, como fez o PCO. Nosso bloco esteve presente no Largo da Batata.

A imprensa, em geral, buscou tratar de uma maneira positiva os protestos, tentando trazê-los para o campo seguro da “defesa da democracia”, ou seja, da defesa da democracia e das instituições burguesas. Mas foram obrigados a mostrar que as manifestações não eram apenas “em defesa da democracia”, “contra o fascismo e o racismo”, mas também por “Fora Bolsonaro”. A forma simpática como os principais órgãos de imprensa reportaram as manifestações, é mais uma demonstração de que importantes setores da burguesia estão descartando o governo Bolsonaro, que, por sua vez, está cada vez mais isolado. Até Trump criticou a forma como o Brasil está lidando com a pandemia, e até o mentor ideológico da família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, fez bravatas em vídeo sobre “derrubar o governo”.

Nesse domingo ficou nítida também a fraqueza dos bolsonaristas mais radicais. No Distrito Federal, em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde ousaram sair às ruas, foram grupelhos minoritários, que tiveram que ser protegidos pela polícia.

A Esquerda Marxista já analisava que a pandemia iria aprofundar as contradições do sistema capitalista, provocar saltos na consciência de classe, e poderia gerar explosões revolucionárias mais a frente. O fato é que em plena pandemia, este processo já começou, no Brasil e no mundo. Este primeiro ensaio do retorno às ruas nos enche de esperanças. Num contexto em que o governo busca esconder o número de mortes por Covid-19 e busca por todos os meios acabar com o isolamento social capenga que tem ocorrido até agora, derrubar este governo é condição fundamental para salvar vidas. E as vidas que estão sob risco maior são a dos estratos mais pobres da classe trabalhadora, onde a maioria é negra. Portanto, a luta por salvar vidas negras no Brasil hoje passa pela luta para derrubar Bolsonaro. Nesse sentido, no Brasil, a justa consigna antirracista “Vidas Negras Importam” só é consequente de fato quando conectada à consigna “Fora Bolsonaro”.

Bolsonaro disse na segunda-feira para apoiadores que “o grande problema do momento é isso que vocês estão vendo aí um pouco na rua ontem, estão começando a colocar as mangas de fora”. Sim Bolsonaro, este é seu grande problema, enfrentar o ódio da classe trabalhadora e da juventude, que está colocando as mangas de fora, e que quando se mobiliza de forma massiva, unitária e organizada, derruba governos e pode abrir o caminho pra derrubar todo o sistema. 

Veja fotos da intervenção da Esquerda Marxista e da Liberdade e Luta nos atos do final de semana:

Rio Claro/SP:

Cascavel/PR:

São Paulo/SP:

Rio de Janeiro/RJ:

Joinville/SC:

Curitiba/PR:

Manaus/AM:

Campinas/SP:

Bauru/SP: