“Derrote os Brancos com a Cunha Vermelha”: a essência da revolução mundial

O icônico cartaz da Guerra Civil de El Lissitzky, Derrote os Brancos com a Cunha Vermelha, é talvez a obra de arte mais reconhecível de toda a Revolução Russa. Sua influência permanece enorme até hoje. Neste artigo, Nelson Wan e James Kilby exploram como a Cunha Vermelha surgiu, como ela captura a essência da revolução e como uma obra de propaganda como esta pode ser considerada uma grande obra de arte.

“Em Moscou, em 1918, passou diante dos meus olhos o curto-circuito que dividiu o mundo em dois. Este único golpe empurrou o tempo que chamamos de presente como uma cunha entre o ontem e o amanhã. Meus esforços agora se voltam para aprofundar ainda mais a cunha. É preciso pertencer a este ou àquele lado – não há meio-termo.” (El Lissitzky, 1918)1

A Revolução Russa de 1917 marcou o início de uma onda de genialidade artística e criativa que abalou as profundezas da sociedade. Pela primeira vez em suas vidas, as massas oprimidas da Rússia tiveram as portas da arte e da cultura abertas diante de si. Enquanto isso, os melhores e mais brilhantes artistas e intelectuais russos alinhavam-se à revolução.

Um dos maiores desses artistas foi o virtuoso Eleazar Markovich Lissitzky, mais conhecido como “El Lissitzky”. El Lissitzky foi, entre outras coisas, fotógrafo, designer, tipógrafo e arquiteto. Ele revolucionou quase todos os campos da arte em que trabalhou e, após a Revolução de Outubro, identificou-se de corpo e alma como comunista.

Embora suas contribuições em outros campos tenham sido seminais, a obra pela qual El Lissitzky é talvez mais conhecido é seu cartaz da Guerra Civil, Derrote os Brancos com a Cunha Vermelha, produzido para auxiliar na luta bolchevique contra os exércitos brancos da reação.

Derrote os Brancos com a Cunha Vermelha é uma brilhante representação do processo revolucionário em uma de suas fases mais intensas: a da guerra civil.

No curso dessa luta, a sociedade se polariza ao mais alto grau. Não há como escapar da pergunta: de que lado você está?

Foi precisamente nesse ponto que a Revolução Russa se encontrava no final de 1919, quando El Lissitzky provavelmente produziu A Cunha Vermelha. Embora a Revolução de Outubro de 1917 tenha sido, em grande parte, um evento sem derramamento de sangue, em março de 1918 a intervenção dos imperialistas mundiais — que financiaram, armaram e enviaram tropas à contrarrevolução — deu início ao banho de sangue da Guerra Civil.

Ao longo dessa luta, a sociedade — e, de fato, o mundo — dividiu-se em dois campos opostos: os Vermelhos e os Brancos. Apesar de ser chamada de “guerra civil”, tratou-se, na realidade, de uma guerra internacional, espalhada por vastos territórios e envolvendo um número significativo de nações.

Com o tempo, todos os partidos pequeno-burgueses do antigo Império Russo acabaram divididos internamente ou alinhando-se com os Brancos. O campesinato também se fraturou: de um lado, as camadas pobres e médias, que se beneficiaram da política fundiária dos bolcheviques e estavam dispostas a defendê-la; de outro, os camponeses ricos — os kulaks —, em sua maioria hostis à revolução.

Derrote os Brancos com a Cunha Vermelha retrata esse processo de maneira intensamente gráfica, como a luta entre dois lados em escala internacional: a luz contra a escuridão. Não há campo intermediário.

Aqui vemos uma luta entre a revolução, representada com clareza à esquerda, superando a contrarrevolução, representada com tons obscuros à direita. A própria cunha vermelha comunica claramente a ponta de lança da revolução – o Exército Vermelho, sob a liderança dos bolcheviques – esmagando os exércitos brancos da reação.

Como acontece com muitos grandes artistas revolucionários, houve esforços por parte da burguesia para separar a arte de El Lissitzky de suas convicções revolucionárias – mas isso é impossível. Como disse Trotsky, um artista não é uma “máquina vazia”2; é uma pessoa viva, com uma psicologia moldada pela sociedade ao seu redor.

A imagem de A Cunha Vermelha nos mostra que El Lissitzky não era um mero “companheiro de viagem”, que observava a revolução de fora como um processo cego, mas que, de fato, possuía uma apreciação profunda da dinâmica interna do processo revolucionário e da totalidade que uma revolução representa.

Está bastante claro que El Lissitzky compreendeu a Revolução Russa a partir de dentro, como um comunista. A olho nu, as revoluções parecem caóticas e sem forma. Para um pequeno-burguês, não há razão nem racionalidade científica por trás de uma revolução. Mas El Lissitzky não está retratando o caos. A Cunha Vermelha expressa clareza, unidade de propósito e ação, coerência e a própria luta de classes – tudo com precisão matemática. Trotsky descreveu o marxismo como a “álgebra da revolução”, o que é uma descrição adequada do que A Cunha Vermelha retrata.3

Como obra de arte, A Cunha Vermelha é altamente abstrata, mas suas formas simplificadas proporcionam uma clareza de significado ainda mais profunda. Com exceção de alguns triângulos e retângulos menores, a composição é feita inteiramente de formas bidimensionais – e, ainda assim, expressa dinamismo e movimento.

A forma da cunha vermelha é nítida e vigorosa. Com toda a sua força concentrada em um ponto, ela penetra o círculo branco inerte. As cunhas vermelhas menores expressam o movimento de irromper na imagem e destroçar os pequenos retângulos cinzas. O texto alinha-se a esse movimento. E, enquanto contingentes menores do Exército Vermelho são representados na retaguarda como uma série de retângulos ordenados, as forças adicionais dos Exércitos Brancos são retratadas em desordem ao serem confrontadas pelos Vermelhos.

Uma influência altamente provável para A Cunha Vermelha foi o Monumento ao Exército Vermelho, de Nikolai Kolli / Imagem: domínio público

Ao utilizar formas e cores abstratas para representar as forças da revolução e da contrarrevolução, não há qualquer indício de nacionalismo nessa luta. Trata-se, simplesmente, de uma batalha entre as duas classes decisivas da sociedade moderna: a classe trabalhadora internacional e os capitalistas de todos os países.

Uma influência altamente provável sobre A Cunha Vermelha foi o Monumento ao Exército Vermelho, de Nikolai Kolli, construído em 1918 em Moscou para celebrar a derrota da tentativa de golpe militar do general Krasnov, em novembro de 1917.

Simplesmente intitulado A Cunha Vermelha, o monumento de Kolli consistia em um triângulo vermelho inserido verticalmente como uma cunha em um bloco retangular branco. Uma rachadura visível serpenteia para baixo a partir da ponta do triângulo, sugerindo que a força da cunha vermelha conseguiu romper a solidez da estrutura branca.

A metáfora abstrata dessa cunha vermelha visava representar a vitória do Exército Vermelho sobre a contrarrevolução branca. O monumento conseguiu transmitir uma narrativa compreensível para todos os estratos da sociedade russa — como, sem dúvida, também ocorreu com a transmutação do monumento de Kolli por El Lissitzky em sua Cunha Vermelha.

A própria cunha vermelha é, de fato, uma metáfora adequada para a vanguarda da revolução. Em um nível, representa as forças militares dos Vermelhos: afiadas o suficiente para perfurar as defesas dos Brancos e subjugá-los. Mas, em outro nível, expressa o programa vermelho da revolução: a expropriação dos capitalistas e latifundiários, o poder dos trabalhadores e a terra para os camponeses.

Os bolcheviques utilizaram habilmente seu programa para provocar uma cisão nos exércitos da contrarrevolução, dividindo suas forças entre os altos escalões militares — junto aos capitalistas e latifundiários a quem serviam — e as fileiras inferiores, muitas das quais foram politicamente conquistadas para o lado da revolução.

De fato, dos 21 exércitos de intervenção estrangeira enviados pelos imperialistas para ajudar a esmagar a revolução, quase todos tiveram de ser retirados após motins — ou diante do perigo de rebeliões — surgidos dentro de suas próprias fileiras.

A cunha vermelha, portanto, revela-se eficaz em derrotar os Exércitos Brancos a partir de dentro, algo que o cartaz de El Lissitzky transmite com excelência.

A Cunha Vermelha também é notável por expressar o profundo impacto que a Revolução Russa exerceu sobre uma camada de artistas e sobre sua arte.

A entrada das massas no palco da história desencadeou um enorme desejo reprimido de conquistar o mundo da cultura. A luta para transformar a sociedade produziu uma sensação de elevação espiritual que, naturalmente, encontrou reflexo na arte daquele período.

A revolução atraiu uma ampla camada de artistas, que se conectaram com o novo espírito da época. As velhas tradições e rotinas do passado foram abandonadas em favor de novas ideias e novas técnicas.

A Cunha Vermelha é claramente um produto da escola de arte “suprematista”, iniciada em 1915 pelo amigo e mentor de El Lissitzky, Kazimir Malevich. Malevich criou algumas das primeiras pinturas completamente abstratas do mundo. Ele rejeitou a imitação das formas naturais e defendeu a criação de composições geométricas abstratas, com uso de cores limitadas, a fim de demonstrar “a supremacia do sentimento puro na arte criativa”.4

Malevich apontava corretamente que a arte que simplesmente reproduz uma imagem fiel de objetos materiais não constitui, por si só, uma grande arte. O mais significativo são os sentimentos que uma obra é capaz de provocar nas pessoas.

Embora isso contenha, sem dúvida, uma verdade profunda, Malevich — como idealista filosófico — exagerou a centralidade do mundo dos sentimentos e emoções “não objetivos”, tratando-os como primários em relação ao mundo material. Sua filosofia do Suprematismo, portanto, estava envolta em um manto de misticismo.

Uma das obras mais famosas de Malevich, na qual ele levou a abstração ao seu extremo, é sua pintura do Quadrado Negro (para representar o “sentimento puro”) sobre um fundo branco, realizada em 1915. A partir dessa obra, ele avançou para arranjos mais complexos de formas geométricas, como sua Composição Suprematista (Retângulo Azul Sobre o Feixe Vermelho), também pintada em 1915.

O Quadrado Negro de Malevich — e outras obras semelhantes — abriu caminho para uma verdadeira revolução na arte, baseada em abstrações capazes de evocar sentimentos. Algumas das melhores criações artísticas desse período emergiram dessa tendência.

Após 1917, Malevich abraçou plenamente a revolução, tornando-se membro do Colégio de Artes do Narkompros (Comissariado do Povo para a Educação). Apesar de sua oposição filosófica ao marxismo, foi convidado a lecionar em diversas escolas de arte de prestígio, o que lhe ofereceu amplas oportunidades para expor suas obras. Isso testemunha a cultura de liberdade de expressão artística que caracterizou os primeiros anos do regime bolchevique, antes de ser sufocada pela ascensão da burocracia stalinista.

O Quadrado Negro de Malevich – e outras obras – abriram caminho para uma verdadeira revolução na arte / Imagem: Kazimir Malevich, 1915, Quadrado Suprematista Negro, óleo sobre tela de linho, 79,5 x 79,5 cm, Galeria Tretyakov, Moscou

Em outubro de 1919, El Lissitzky convenceu Malevich a se juntar a ele como professor na Escola de Arte Popular de Vitebsk, na Bielorrússia. Além de ensinar design gráfico, impressão e arquitetura, El Lissitzky passou o verão em Vitebsk desenhando e criando cartazes de propaganda.

Foi em Vitebsk que Malevich converteu El Lissitzky ao estilo suprematista. Logo depois — no final de 1919 ou início de 1920 — El Lissitzky produziu Derrote os Brancos com a Cunha Vermelha.

Apesar de suas enormes contribuições à arte desse período, Malevich foi descrito por El Lissitzky como “preso em um mundo desprovido de objetos reais”5. Cabia, portanto, a El Lissitzky empreender uma aplicação mais prática das ideias suprematistas de Malevich em A Cunha Vermelha e em outras obras.

A Cunha Vermelha era um cartaz produzido em massa, diferentemente de uma pintura ou escultura. Avançava para o campo da tipografia, do design gráfico e da produção de cartazes. E, ao contrário das tentativas de Malevich de transmitir o “sentimento puro” (algo que, de fato, não pode existir), buscava intencionalmente explorar — e ajudar a desenvolver — um sentimento muito específico: o otimismo revolucionário e a determinação da classe trabalhadora e dos pobres em sua luta para transformar o mundo.

Não foi por acaso que El Lissitzky escolheu produzir sua Cunha Vermelha como um cartaz, em vez de uma pintura ou escultura tradicional. Segundo ele, o design tipográfico passou por uma transformação radical após a Revolução Russa:

“São as grandes massas, as massas semianalfabetas, que se tornaram o público. […] O livro tradicional foi rasgado em páginas separadas, ampliado cem vezes, colorido para maior intensidade e levado para a rua como um cartaz.”6

Houve uma explosão de arte de rua nos anos que se seguiram à Revolução de Outubro, na qual os cartazes desempenharam um papel fundamental. Segundo o historiador da arte Mikhail Guerman:

“O cartaz estimulava o pensamento, expressava indignação, transbordava entusiasmo, provocava risos, respondia a eventos instantaneamente e comunicava notícias sem demora. Os cartazes eram desenhados à noite para serem colados nas ruas pela manhã. Embora os cartazes tenham sido feitos com a consciência de que sua vida duraria apenas um dia, na história da arte eles perduraram ao longo dos anos. Perduraram não apenas como testemunhos de grandes eventos, mas também por sua grande e rigorosa perfeição.”7

Esse era o espírito da arte Agit-Prop produzida por El Lissitzky e outros artistas de vanguarda naquele período.

De fato, nos anos seguintes à criação de A Cunha Vermelha, El Lissitzky e Malevich cofundaram a Unovis (Exponentes da Nova Arte), um coletivo de artistas suprematistas. Em vez de criar obras para exibição em galerias ou residências particulares, eles decoravam as paredes e os interiores de edifícios públicos com designs, cartazes e placas suprematistas. Seu objetivo era disseminar o suprematismo como linguagem visual da revolução mundial.

O que também é notável em A Cunha Vermelha, de El Lissitzky, é que ela foi produzida como um cartaz de propaganda — e, ainda assim, esse fato não diminui sua qualidade artística.

A grande arte é aquela que trata das grandes questões — de vida e morte — que movem a existência de milhões. É a arte que tem algo a dizer sobre o mundo em que vivemos, que desperta emoções e incita à ação.

Grande parte da arte verdadeiramente significativa é, portanto, política, pois trata das condições de vida, das lutas e das aspirações dos oprimidos. Mas a política, por si só, não torna uma obra grandiosa. Ainda que os artistas possam, com certeza, transmitir uma mensagem política por meio de sua arte, essa mensagem precisa emergir organicamente da obra — e não ser algo imposto.

A maior arte é aquela que lida com as questões mais profundas — as da vida e da morte — que movem a existência de milhões / Imagem: Kazimir Malevich, Composição Suprematista (retângulo azul sobre a viga vermelha), 1916

De modo geral, obras de propaganda raramente se tornam grandes obras de arte — se é que chegam a ser consideradas “arte”. Isso porque a propaganda preocupa-se, em primeiro lugar, em transmitir uma mensagem externa à forma artística. O elemento artístico torna-se secundário; apenas um veículo para comunicar um ponto político.

Mas, embora A Cunha Vermelha, de El Lissitzky, seja inegavelmente uma obra de propaganda, suas intenções artísticas e políticas se alinham com perfeita harmonia. A propaganda presente na obra não é uma demagogia superficial: é a essência destilada da Revolução Russa e de tudo o que ela buscou alcançar.

A Cunha Vermelha é uma expressão tão clara da luta revolucionária por uma transformação da sociedade quanto qualquer artista jamais poderia produzir. Há uma universalidade em sua mensagem, pois ela pode ser compreendida em qualquer sociedade de classes, onde uma classe revolucionária luta por seu futuro — e pelo futuro da humanidade como um todo.

Como tal, esta obra de arte conecta-se instantaneamente às aspirações dos explorados e oprimidos em todos os lugares: derrubar seus opressores e iniciar a transformação da sociedade. Ela evoca o sentimento ardente de raiva que milhões sentem diante de suas condições de vida — e o ódio dirigido aos que os governam. Mostra que, juntos, se organizados, podemos lutar — e vencer. É uma verdadeira inspiração.

Por outro lado, essa imagem provoca medo nos corações da classe dominante, aterrorizada diante da possibilidade de um movimento de massas arrancá-la do poder.

A Cunha Vermelha, portanto, não pode deixar de despertar emoções — onde quer que se esteja. É isso o que a torna uma obra de arte verdadeiramente grandiosa.

El Lissitzky não via os elementos propagandísticos de A Cunha Vermelha como um compromisso imposto de fora. Se ainda houver qualquer dúvida sobre as convicções de El Lissitzky, basta consultar suas confissões pessoais, registradas em sua biografia:

“Cada obra que fiz foi um convite, não para atrair olhares, mas para tomá-la como um estímulo à ação, para incitar nossos sentimentos a seguir a linha geral de formação de uma sociedade sem classes.”8

Embora alguns filisteus pequeno-burgueses — que enxergam apenas a si mesmos e seus próprios interesses mesquinhos — possam se opor à ideia da criação artística com fins políticos, para El Lissitzky não havia qualquer contradição. Ele dedicou incansavelmente sua arte à revolução e à construção de uma nova sociedade.

Ainda hoje, milhões de pessoas em todo o mundo se inspiram em A Cunha Vermelha. Trata-se de um lembrete poderoso de que é, sim, possível para os oprimidos e explorados tomarem o poder em suas próprias mãos — e derrotarem as forças da reação. Em um mundo de sofrimento e caos intoleráveis, ela permanece como um símbolo vivo de que um novo mundo é possível.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.

  1. S Lissitzky-Kuppers (org.), El Lissitzky: Vida, Cartas, Textos, Thames and Hudson, 1992, p. 329 ↩︎
  2. L Trotsky, Literatura e Revolução, University of Michigan Press, 1960, p. 171 ↩︎
  3. ibid., p. 104 ↩︎
  4. K Malevich, “Suprematismo”, O Mundo Não Objetivo, Paul Theobald e cia., 1959, p. 67 ↩︎
  5. E Lissitzky, Rússia: Uma Arquitetura para a Revolução Mundial, M.I.T. Press, 1930, pág. 29 ↩︎
  6. E. Lissitzky, “Our Book”, Twentieth Century Art Theory, Prentice-Hall, 1990, pág. 295 ↩︎
  7. M. Guerman, Art of the October Revolution, Harry N. Abrams, 1979, pág. 76 ↩︎
  8. S. Lissitzky-Kuppers (org.), El Lissitzky: Life, Letters, Texts, Thames and Hudson, 1992, pág. 326 ↩︎