Em momentos de polarização social, gestos aparentemente inócuos carregam uma simbologia que expressa um movimento intenso em desenvolvimento na sociedade.
Com a violência policial contra negros nos EUA fazendo vítimas constantes, as manifestações de repúdio que antes ocorriam apenas nas ruas agora chegaram aos estádios. Muitos jogadores de futebol americano, o esporte mais popular no país, estão se recusando a ficar de pé durante a execução do hino nacional americano, permanecendo sentados ou de joelhos em sinal de protesto.
O primeiro atleta a protestar dessa forma foi o quarterback (posição ofensiva no esporte) Colin Kaepernick, jogador do San Francisco 49ers, um dos times mais populares da Califórnia. Em um dos quatro jogos da pré-temporada, o jogador não se juntou ao time para a execução do hino, preferindo permanecer no banco. Em entrevista após a partida, Kaepernick afirmou que o racismo e a impunidade diante da violência policial contra negros no país o levaram a se manifestar diante de milhares de torcedores e quase toda a imprensa esportiva.
Imediatamente, a atitude do jogador dividiu a opinião pública. Enquanto que a maior parte da imprensa não poupou munição para atacá-lo, muitos apoiaram o gesto, apontando para a hipocrisia dos que condenavam um protesto pacífico, mas permaneciam em silencio e até demonstravam apoio diante de assassinatos por policiais de homens negros desarmados. Não demorou para que outros jogadores, inclusive não negros, se juntassem ao protesto, que se espalhou também para outros esportes populares no país, como o beisebol e o basquete.
Ainda que estes sejam protestos individuais e um tanto inócuos, eles não deixam de ter um importante valor simbólico. Na liga esportiva mais rica do mundo, atletas de destaque optam por abandonar o figurino e aproveitar o espaço que têm na mídia para ecoar a voz das ruas, que já está farta da violência e do racismo. Nem aquilo que deveria funcionar como ópio para o povo escapa mais da indignação popular contra essa sociedade carcomida e miserável!
Inimaginável até pouco tempo atrás, o amplo apoio a essas pequenas iniciativas mostram que a polarização social nos EUA segue se aprofundando. Isso é de importância central para o desenvolvimento da luta de classes no mundo inteiro. O racismo é um dos frutos mais venenosos da sociedade capitalista, e somente a revolução socialista pode desferir o golpe de misericórdia e acabar de vez com estes males que seguem produzindo vítimas ao redor do mundo, inclusive no coração do sistema.