EUROPA E EUA EM CRISE – PERSPECTIVAS PARA O BRASIL – Parte 3

 

Esquerda Marxista
 
Terceira parte de uma série de sete artigos de análise da atual situação econômica e política do Brasil.
 

O objetivo da Esquerda Marxista ao disponibilizar estes textos é ajudar no armamento político necessário dos militantes socialistas que buscam compreender para onde vai o país e o governo Dilma Roussef. E, portanto, quais são as perspectivas para a luta de classes do proletariado e da juventude. O artigo integral pode ser lido em www.marxismo.org.br

A situação brasileira
 
A situação do Brasil é muito bem definida num editorial do Financial Times, o jornal burguês mais sério com que conta a burguesia imperialista. A rede BBC comenta o artigo: “Em um texto intitulado “Feridas brasileiras”, o jornal (Financial Times, nota nossa) compara a economia brasileira a uma bicicleta.
 
“Ela funciona enquanto estiver em movimento”, diz o editorial. “Agora, porém, está ficando mais difícil pedalar.”O jornal observa que o real se valorizou 40% em termos reais desde 2006 e que no mesmo período as importações brasileiras quase dobraram, enquanto as exportações cresceram apenas 5%.“A única razão pela qual o déficit em conta corrente brasileiro não explodiu são os altos preços das commodities. Mas esse boom pode não durar para sempre”, alerta o jornal.
 
O editorial comenta ainda que a liquidez em abundância também ajudou a impulsionar o crédito doméstico, mas que os consumidores brasileiros agora parecem estar sobrecarregados, gastando mais que um quarto de suas rendas para o pagamento de empréstimos – nível superior ao verificado nos Estados Unidos no período anterior à crise de 2008. Para o jornal, o crescimento do crédito no Brasil somente pode ocorrer se a renda também continuar a crescer. 
 
“É aí que a bicicleta econômica se depara com a trincheira da guerra cambial”, afirma o jornal, observando que “o aumento da renda eleva a demanda e a pressão inflacionária, exigindo o aumento dos juros, que atraem mais capital externo, elevando ainda mais a cotação da moeda, aumentando com isso a atração das importações e prejudicando a competitividade das exportações.
O resultado é um déficit em conta corrente mais amplo, e um limite no crescimento exigido nos salários para manter o crédito doméstico crescendo com segurança”, diz o jornal.
 
O editorial conclui dizendo que “a bicicleta brasileira ainda não está arriscada a parar”. “Mas está balançando”, finaliza o texto. (BBC-Brasil, 08/07/2011)
Nós consideramos que esta imagem da bicicleta é uma boa imagem da atual situação brasileira e a análise aponta para tempos difíceis e para um enfrentamento com o movimento operário.
 
A questão das Dívidas
 
Toda a história brasileira das últimas décadas é a montagem de uma bomba relógio econômica.Em maio de 2011 a Dívida Externa brasileira total (soma da dívida pública e da dívida “privada”) era de US$ 389.438.623.098,14 (389 bilhões, 438 milhões, 623 Mil, 98 dólares e 14 centavos). A dívida “privada” deve ser considerada, pois muitos bancos e empresas nacionais tomam dinheiro emprestado no exterior, não para fazer investimentos produtivos aqui, mas para a compra de títulos da dívida pública interna, que rendem juros mais altos, além disso, os dólares necessários para pagar essas dívidas são, em última análise, fornecidos pelo Banco Central brasileiro aos credores estrangeiros.
 
De fato, a Dívida Externa está muito longe de estar “paga” como alardeou o governo quando pagou 15 bilhões que devia ao FMI. E a evolução desta dívida mostra que seu crescimento mortal continua, alimentando banqueiros, multinacionais e especuladores.
 
Veja abaixo ao quadro que inicia em plena Ditadura Militar(1971), passa por Sarney (1985-1990), Collor (1990-1992), Itamar (1992-1995), FHC (1995-2003) e Lula (2003-2010), em cujo governo, aliás, a Dívida dá um salto. Todos os dados abaixo sobre Dívida Interna e Externa são do Banco Central do Brasil.
 
Mas, o mais impressionante (se se leva em conta toda o besteirol da propaganda oficial) é o que se passou, e se passa, com a Dívida Interna. Esta que praticamente não existia em 1994, quando assume FHC é transmitida ao governo Lula em 2003 na casa de 1 Trilhão de Reais.
 
A “criação” desta Dívida Interna decorre diretamente da iniciativa dos EUA de iniciar uma guerra comercial internacional sem quartel com uma política de desvalorização do dólar. Assim, a Dívida Externa brasileira passava a ser desvalorizada também. Ou seja, com a mesma quantia de Reais se pagava muito mais da Dívida que é em dólar. Assim, para que o mercado financeiro não perdesse em todos os países se inicia um movimento de “internalização” da Dívida Externa.
 
Assim o resultado é que eles não perdiam em poder de compra e mais, passavam a se beneficiar dos juros absurdos que os governos deviam pagar para atrair cada vez mais capitais internacionais para suas aventuras internas, como a expansão artificial do crédito e a continuidade do pagamento das Dívidas. Assim, transformaram grande parte da Dívida Externa em Dívida Interna suculenta.
 
O governo Lula continua essa política e a aprofunda, multiplicando a Dívida Interna até chegar à espantosa soma de R$ 2.382.416.094.578,25 (2 trilhões, 382 bilhões, 416 milhões, 94 mil, 578 reais e 25 centavos), em valores de maio de 2011. Veja abaixo o quadro desta evolução:
 
 
A composição do quadro de credores desta Dívida impagável e infame que sangra à exaustão o povo brasileiro esclarece muito quem são os vampiros desta dívida. Segundo informações do Banco Central os que se beneficiam são: 
 
 
É por esta razão que o Orçamento Federal é organizado pelo Executivo e pelo Congresso Nacional da forma como se pode ver abaixo no quadro do Orçamento Geral da União/2010: (Orçamento Total de R$ 1,414 trilhão). Fonte: http://www.camara.gov.br/internet/orcament/bd/exe2010mdb.EXE
 
 
Portanto, se pode concluir facilmente de que existe dinheiro para resolver todos os problemas nacionais de Saúde e Educação, de Moradia e de Trabalho. Entretanto isso não é feito por causa da dominação imperialista sobre os recursos do país incluído aí seu Orçamento Federal. A submissão do governo e do Congresso Nacional aos interesses imperialistas e da burguesia nativa brasileira (sócia menor do capital internacional) são a causa da desgraça do sofrido povo trabalhador e da angústia da juventude.
 
Mas, o escândalo não para por aí. Ao mesmo tempo, o Banco Central mantem Reservas Internacionais (cuja única finalidade é “garantir” o pagamento da Dívida) no valor de US$ 353.023 milhões (Posição do BC em 26 de agosto de 2011), aplicadas em Títulos norte-americanos que pagam juros de 0,25% ao ano, ou seja, descontada a inflação que em junho de 2011 era de 3,59% ao ano, temos “juros negativos” (!), enquanto aqui se paga 13% a.a.. Assim, uma grande demonstração de “soberania nacional” é fazer o Brasil pagar para manter o financiamento da Dívida dos EUA! Pagamos 2,5% a.a. de juros para que eles guardem os dólares brasileiros!
 
Além disso continuam as privatizações (Leilões de campos de petróleo, aeroportos, estradas, usinas hidrelétricas, Serviços Públicos na Saúde e Educação, terceirizações, etc, etc.). Lula assinou no último dia de governo uma MP que permite privatizar toda a Saúde através de “Fundações Públicas de Direito Privado” e de ditas “Organizações Sociais” (OS).
 
Continuam as políticas privatizantes assim como investimentos públicos para alimentar a indústria privada através do Plano Brasil Maior, de Parcerias Público Privadas, e inúmeras outras iniciativas. O investimento no chamado PAC, que nada mais é que um plano de transformação do Brasil em uma moderna plataforma de exportação agro-mineral terá como consequência direta o aprofundamento ainda maior da subordinação da economia brasileira às necessidades imperialistas no mundo.
 
Uma bomba relógio está armada e se não for desarmada pela revolução socialista as próximas gerações pagarão muito caro por isso.

 

Fim da 3ª Parte