Greves e manifestações: o Brasil real entra em movimento

As manifestações do Rio, do Espírito Santo e em Curitiba são um aviso do que está por vir.

Foto: Manifestação contra aumento do transporte em Curitiba, nesta segunda-feira (6/2). Crédito: João Diego.

Durante os meses de dezembro e janeiro, o governo do Estado do Espírito Santo foi apontado como aquele que fez o “dever de casa” e que não precisa de verbas federais ou de ajuste para se manter. A sua política de tratamento dos gastos públicos foi elogiada e a decisão de pagar o 13o salário no aniversário do servidor virou a “solução da pátria” contra os atrasos de pagamento do 13o dos outros Estados da União.

De repente, no dia 6 de fevereiro, o conto de fadas desabou. Todo o ajuste, nestes mais de oito anos, significou uma coisa simples: congelamento e rebaixamento real dos salários de servidores. A situação atingiu uma tal magnitude que o movimento dos Policiais Militares em defesa de um reajuste foi garantido por piquetes feitos por mulheres e familiares dos PMs nas portas dos quartéis.

O governo trocou o comando da PM e pediu a Temer o Exército, no que foi prontamente atendido. Durante um dia, inúmeros mortos e saques foram praticados, o comércio fechou, os serviços públicos fecharam, os shoppings (estes templos da pequena burguesia) fecharam. Os ônibus não saíram das garagens e o Estado praticamente parou. O que foi contido pela porta da frente, o déficit, através dos ataques aos servidores, de repente irrompeu na porta dos fundos na greve da PM.

Em Curitiba o prefeito fez o que fazem todos os prefeitos, normalmente, em início de mandato. Confiando em sua “aprovação popular”, o chefe do Executivo determinou o aumento das passagens de R$3,70 para R$4,25, quase 15% de aumento, mais do que o dobro da inflação do último ano.

No mesmo dia, uma manifestação foi convocada à noite. A PM, como sempre, é chamada para intervir nesses atos. E enquanto um bando de mascarados ateava fogo em lojas e bancos, a PM atirou com balas de borracha sobre a passeata pacífica dos manifestantes. Têm razão os jovens que gritam “Não acabou? Tem que acabar. Eu quero o fim da Polícia Militar!”. As passagens do Rio de Janeiro e São Paulo ainda estão congeladas, o que contém a propagação do movimento para as principais cidades do país. Mas a previsão de aumento do ônibus no Rio, em junho, pode desencadear tormentas que o governo não vai conseguir segurar.

Afinal, é preciso lembrar: o “ajuste” que levou à crise do Espírito Santo agora volta no Rio através do acordo Pezão-Temer que privatiza a CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgoto) e dobra o valor da contribuição previdenciária dos servidores de 11% para 22%. Isso quando os salários de todos os servidores, exceto professores e Polícia, estão atrasados e sem perspectiva de serem colocados em dia.

O acordo da CEDAE, aliás, é o exemplo de que o sofrimento do povo é usado para novos negócios em favor dos bancos e financistas. A empresa, cujo valor calculado é de R$ 15 bilhões, que deu lucro no ano passado de quase R$ 400 milhões, será vendida por R$ 5 bilhões e o valor da venda será usado para conseguir um empréstimo de R$ 3,5 bilhões que servirá para pagar empréstimos do Rio! E para os servidores, nada! Os trabalhadores da CEDAE entram em greve hoje (7/2). Se na semana passada as manifestações incendiaram o centro do Rio, esta semana promete ainda mais.

Aliás, nos “tempos de austeridade”, para garantir votos, o projeto que cortava salários das “autoridades nomeadas”, como secretários, saiu de pauta e não mais voltará. O projeto que cortava secretarias e cargos foi substituído por outro criando cargos e revivendo secretarias para acomodar deputados e indicados por esses, para garantir os votos na Assembleia Legislativa. Em tempos de Eike Batista e Sérgio Cabral presos, as grandes negociatas, ao que parece, estão meio com as barbas de molho e tudo vale, até um carguinho qualquer numa secretaria para “vender” o voto e garantir um futuro mais tranquilo para a família… do deputado, é claro. Já as famílias dos servidores e do povo do Rio sofrem mais a cada dia.

Enquanto este artigo era publicado, acirrava-se o confronto entre o recém-empossado prefeito de Florianópolis, que apresentou um pacotaço de maldades, contra os servidore municipais, esses que promoveram na terça-feira a maior assembleia de sua história. Na manhã desta quarta, recebemos a notícia do pedido de prisão dos diretores sindicais do Sintrasem, composta de militantes da Esquerda Marxista, por estarem junto com a categoria na decisão de continuar a greve que chega ao seu 23º dia.

Nessa situação explosiva é que Temer indica como ministro do STF o seu Ministro da Justiça, como se nada estivesse acontecendo e o problema fosse os processos judiciais que ameaçam o Presidente, seus ministros e os deputados e os senadores que o apoiam. O indicado, Alexandre de Moraes, já foi advogado de uma cooperativa ligada ao PCC, advogado de Cunha, o maldito, foi acusado de defender a tortura em sala de aula, como secretário de segurança de São Paulo quis indiciar estudantes como “terroristas”, gosta de cortar pés de maconha como se esse fosse o papel do Ministro da Justiça e que, surpreendentemente, escreveu uma tese que detentor de cargo de confiança não poderia ser indicado ao STF. Sim, esse senhor, com todas estas qualificações, tem “alto saber jurídico” e como primeiro ato ao aceitar a nomeação, joga fora o seu “saber jurídico”, a sua tese de doutorado e adere à tese mais prosaica, mais terra a terra, de alto saber popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Sim, a hipocrisia reina em Brasília quando o mundo real começa a explodir aqui embaixo.

O Carnaval ainda não passou e o ano político começou mais cedo. Um dos poucos deputados que visitaram Cunha, o maldito, na prisão em Curitiba foi indicado para presidente da Comissão da Reforma da Previdência. Enquanto isso, a crise pelos cargos engrossa no PMDB de Temer e o Ministério da Justiça não vai aplacar a fome de cargos de Temer. Qual a saída para tudo isso?

A CUT informa, em seu calendário de lutas (http://cut.org.br/noticias/cut-divulga-calenario-de-lutas-do-primeiro-semestre-de-2017-8fdc/), o que fará: “A CUT indica a data de 15 de março para o Dia Nacional de Paralisação e a proporá às demais centrais dispostas a combater a antirreforma da Previdência já enviada ao Congresso e a antirreforma trabalhista, tendo em conta a decisão de deflagrar uma greve nacional da Educação tomada pelo recente congresso da CNTE a partir do próximo 15 de março, a qual já ganhou a adesão de outras entidades de trabalhadores do Ensino. NENHUM DIREITO A MENOS! FORA TEMER!”. Enquanto isso a CSP-Conlutas indica que o objetivo é a greve geral e a CTB fala em unificar as lutas. Todas as Centrais estarão no seminário promovido pelo  DIEESE nos dias 7 e 8 de fevereiro. Provavelmente, todos concordarão com o dia 15 de março.

As tarefas dos marxistas

Os marxistas, a sua juventude e os sindicatos que dirigem certamente participarão de todas as atividades e manifestações contra a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista e o conjunto dos ataques a direitos e conquistas da classe trabalhadora e da juventude.

As manifestações do Rio, do Espírito Santo, de Florianópolis e em Curitiba são um aviso do que está por vir. A nossa tarefa, e de todo sindicalista honesto, na situação atual, é organizar o debate sobre os ataques em curso, em especial a Reforma da Previdência, explicar o seu significado e como impulsionar a luta para derrubá-la. Isso passa inclusive por definir como participar no dia 15 de março. Ligar todos os sindicatos, seja de qual central participem ou não participem, é tarefa urgente para garantir a unidade, tarefa que é de todos e não somente dos marxistas.

A segunda tarefa dos marxistas é explicar que não há saída sobre o capitalismo e que é necessário combater pelo socialismo. Há 15 anos atrás, Lula promovia uma reforma da previdência dos servidores sobre o falso argumento de que era preciso acabar com o déficit da previdência. Quinze anos se passaram e o déficit da previdência dos servidores só faz aumentar. Na nova reforma de Temer, o falso argumento do déficit também prevalece.

Mas os economistas “mais sinceros” dizem que vai demorar pelo menos 15 anos até que a Reforma comece efetivamente a fazer efeito. E que, segundo eles, nesses 15 anos próximos, o déficit vai continuar a aumentar! Em outras palavras, a Reforma de agora, como a de Lula, não tem por objetivo acabar com o suposto déficit, mas preparar a privatização da maior parte da previdência pública, como foi feita com a previdência dos servidores via Funpresp. Além de aprofundar o desvio do dinheiro da previdência para a especulação e o mercado financeiro.

A lição a ser aprendida é simples: não há saída sob o capitalismo. Isto precisa ser explicado para a juventude e para os trabalhadores, para ganhá-los para uma perspectiva socialista, para uma organização que defende o fim do capitalismo e a revolução socialista. 100 anos depois da Revolução Russa de 1917, os seus objetivos continuam atuais e a nossa comemoração maior é a continuidade da luta internacional pelo comunismo.

Atualizado em 08/02/2017, às 10h36.