A luta se acirra em um ritmo acelerado. Em toda Honduras vociferam os gritos da classe oprimida pela emancipação do jugo do sistema; o agitado movimento da classe oprimida em torno da reivindicação pela não privatização da saúde e da educação tem sido muito efervescente e digno de ser catalogado como uns dos movimentos de massa mais extraordinários desde a sangrenta usurpação do poder pela instituição política mais assassina de Honduras: o Partido Nacional. Todas as lutas, por modestas que pareçam, se inserem numa luta geral contra a ditadura burguesa que o capitalismo internacional fortalece. Nosso papel é integrar todos esses combates à luta de classes.
Desde o golpe de Estado imperialista de 2009 ao governo de Manuel Zelaya, as lutas nas ruas pela democracia têm acontecido uma atrás da outra. A imposição da ditadura já carrega o saldo de centenas de mortes e, ao mesmo tempo, têm levantado da submissão milhares que se puseram de pé alçando sua voz contra este sistema usurpador, formado por velhas políticas que nunca se preocuparam pelo bem-estar dos pobres.
Depois de quase um ano e meio da segunda eleição ilegítima de Juan Orlando Hernandez – também chamado de JOH, atual presidente de Honduras – a luta por uma transformação revolucionária da sociedade tem tomado mais força e as ações da classe oprimida estão diretamente relacionadas às condições de miséria ao que o Estado burguês hondurenho, dirigido por Washington, tem levado os cidadãos. Hoje o país conta com um deficiente sistema de energia elétrica, água potável, alimentos, saúde e educação. Essas circunstâncias respaldam o grande anseio revolucionário da maioria da população e de setores sindicais, como os professores e os médicos, que têm estado cada vez mais a frente da luta contra os duros golpes das privatizações que pretendem impor no setor de saúde e educação (cabe frisar que já privatizaram a ENEE, a empresa estatal encarregada da distribuição e administração da energia eléctrica e hoje não há quem não se queixe das altíssimas cobranças mensais dos boletos de energia).
A greve geral
Nos dias 30 e 31 de maio, e depois de suspensões de aulas, consultas médicas e de múltiplas marchas nas ruas (onde se ressalta a agitada marcha da Universidade Nacional Autónoma de Honduras – UNAH e a dos operários no 1o. de Maio) o sindicato médico e os professores convocam a greve geral. Naturalmente isto foi o anúncio de um novo período de luta nas ruas. Desde então, mais de vinte dias de luta têm acontecido pela não aceitação dos chamados decretos pela “reestruturação” do sistema de saúde e educação e, cada vez mais, as mobilizações têm sido muito recorrentes.
O ambiente está mais que agitado para começar uma transformação radical da situação deplorável de muitas instituições que têm sido saqueadas por políticos e que pela lógica destrutiva do neoliberalismo acabam sendo privatizadas.
Os métodos de luta
Com ingenuidade os empresários assassinos quiseram dar outro golpe, mas não imaginaram todas as ações dos empobrecidos e valentes homens e mulheres que já não suportam outro golpe. Os métodos de luta focaram-se nas ocupações e mobilizações. Após o chamado à greve os sindicatos não têm diminuído as mobilizações, às vezes mais combativa que outras, mas sempre com muita indignação. Os estudantes sempre se destacam por sua presença nas manifestações, têm clamado justiça e assim continuarão fazendo até que a ditadura caia. Desde o auge do movimento universitário em 2016 as ocupações não têm parado apesar de alguns sacrifícios que foram feitos; cada gota de sangue de nossos mártires percorre as veias dos estudantes: desde que começou o segundo período (23 de maio) não tem ocorrido sequer uma semana completa de aulas, fazendo com que, de fato, segundo o regulamento universitário, o período deva ser cancelado.
Em 19 de junho viveu-se algo surpreendente, toda Honduras saiu ocupando as estradas e ruas de bairros e colônias, a polícia não reprimiu como em ocasiões anteriores, mas há registro de feridos de balas e mortes, não com exatidão, mas segundo alguns jornais pouco mais de vinte pessoas deram entrada nos hospitais. O fato de que os polícias tenham diminuído a repressão ao menos em alguns setores, é preciso deixar bastante claro, tem a ver com um conflito interno em suas instituições. Já ocorreu uma vez em 2017, mas voltaram a se inclinar sob a bota do verdugo presidente por interesses particulares. Também temos de esclarecer que a oposição não soube propor uma boa estratégia para tirar vantagem do momento. Dessa maneira, a população agora os vê com descrédito. Temos de tirar uma conclusão importante de tudo isto: os policias depois de períodos longos de repressão terminam cedendo, isto em parte está relacionado ao esgotamento, é evidente. Sendo assim, se as ações de luta continuam nas ruas os dias da ditadura estão contados.
Há muitos setores que ao longo da luta tem-se somando às ações. Muitos podem ser mencionados como: os caminhoneiros de carga pesada que na costa norte conta com inúmeros desempregados; O sindicato do Seguro Social (SITRAIHSS), O Sindicato de Trabalhadores da UNAH, médicos e enfermeiras das instituições públicas, algumas unidades importantes de transporte publico, colégios de ensino médio, pessoas desempregadas que já não aguentam e não podem levar comida a seus lares, vendedores independentes, entre muitos outros. Ao ver como se aglutinam tantos trabalhadores devemos propor uma estratégia para vincular a todos os sindicatos e setores na luta por uma mudança de sistema, já que de maneira definitiva esta é a única solução que pode nos tirar de tanta destruição. A luta não deve estar focada somente na saída de JOH, falta sacudir toda a estrutura política que o capitalismo tem implantado; não basta acabar com os sintomas, temos de acabar com a doença.
Não é apenas uma luta sindical, é luta de classes
Sob a lógica de “dividir é vencer” a ditadura tem usado o que tem a seu alcance para desmoralizar o povo e paralisá-lo. As estratégias têm sido focadas em alardear que lutar contra a privatização não é assunto de estudantes, desempregados ou o restante de toda população como tal; obviamente que isto é um completo disparate, absurdo e até um insulto à inteligência do povo, já que a classe explorada é, em primeiro lugar, a mais afetada. São os pobres quem ocupam o Hospital San Felipe, Mario Catarino Rivas; os políticos e senhores burgueses vão ao Hospital San Jorge, clínicas privadas e inclusive a Seguros Estrangeiros. Estes não morrem por falta de antídotos ou ambulâncias, como o que aconteceu a um menino mordido por uma serpente em Choluteca, e que poderia ter sobrevivido, a não ser porque a ambulância que podia transferi-lo estava em mau estado e porque o hospital não tinha o antídoto. São os pobres que matriculam seus filhos em escolas, colégios e jardins de escola públicos. Os ricos não, eles têm seus filhos em creches que ficam em colônias seguras onde não correm o risco de serem sequestrados porque viajam em ônibus fretados e são cuidados por babás; os filhos da classe trabalhadora enfrentam a violência de seus bairros, muitas vezes nas escolas são praticamente obrigados a fazer parte de maras – grupos criminosos típicos da América Central – e gangues desde cedo. Os meninos das escolas publicas em Honduras sofrem precariedades inimagináveis; os filhos da burguesia não têm o teto da escola caindo na cabeça como ocorreu a dois meninos em Choluteca que ficaram feridos após um acidente na sala de aula. Claro que é uma luta de classes! Uma luta dos explorados contra os exploradores.
Lutemos contra o capitalismo
Corre pelas veias dos explorados o sangue daqueles que foram silenciados com as frias balas dos fuzis militares. A sociedade hondurenha, diferente de etapas anteriores onde a manipulação midiática confundia a consciência, a cada dia adquire mais experiência; é inegável que os agitados movimentos giram em torno dos anseios de uma mudança radical. Nada oferece soluções tão reais e genuínas como o triunfo de uma revolução socialista, que os operários se apropriem do que sempre foi deles e que lhes foi negado. No marco deste podre sistema poucas soluções existem, já que não se pode chegar a triunfos reais se a estrutura é a mesma. Agora é o momento de instaurar um sistema onde os que hoje não têm voz possam ter, por um sistema de saúde amplo com educação de qualidade. A ditadura não é uma personagem, é uma megaestrutura e é hora de sacudi-la até derrubá-la.
Após a fraude eleitoral, dissemos que JOH se impunha, mas que era uma ditadura débil e que mais dia menos dia ele enfrentaria as mobilizações de massas. Esta perspectiva cumpriu-se. O aprofundamento da crise do regime agravou-se, mas o movimento não deve cometer os mesmos erros que cometeu no período da fraude eleitoral. Devem ser criadas assembleias populares que permitam organizar a luta e que também possam converter-se em órgãos. Estes podem inclusive manter a luta quando o movimento tenha diminuído. A outra questão é defender uma greve geral. A greve dos transportes estava tendo grandes implicações econômicas e isso debilitava progressivamente o governo, mas acabou tendo fim a greve. Se a greve fosse do conjunto da economia os dias ou as horas de JOH estariam contadas. Se a luta se foca apenas em ocupações de bairros, dificilmente avançará em derrubar pela via revolucionária a ditadura. Por isso devemos defender a conversão da luta numa greve geral.
O imperialismo pode avaliar que é mais caro sustentar JOH que deixa-lo cair, ainda que isso não seja totalmente certo. Mas se fosse assim, eles procurarão primeiro derrotar o movimento de massas ou conter enquanto possa o movimento e quando este entre em refluxo poderiam procurar uma saída legal como um governo interino e novas eleições. Mudar para que nada de fundo mude. A única esperança está na organização dos operários, camponeses e estudantes de Honduras, que só podem confiar em suas próprias forças.
Artigo publicado em 21 de junho de 2019, no site da Corrente Marxista Internacional, sob o título “Honduras en revolución: ¿qué está sucediendo realmente?“.
Tradução de Leslie Loreto.