Editorial da 11ª Edição do jornal Tempo de Revolução. Faça sua assinatura e receba no seu e-mail!
A inflação no Brasil bate os 10,25% no acumulado dos últimos 12 meses. Só em setembro, o índice inflacionário alcançou a marca de 1,16%, é o maior dado para esse mês do ano desde o início do Plano Real (1994). A alta da inflação não é uma exclusividade do Brasil, é um fenômeno global que evidencia os limites do capitalismo e como as crises deste sistema sempre recaem sobre os ombros da classe trabalhadora.
Além do aumento do desemprego e da informalidade no país, os reajustes salariais não acompanham a alta dos preços. A fome cresce. Sem poder comprar carne, aumentam as filas para conseguir ossos nos açougues. Vale evidenciar o emblemático caso da mãe de cinco filhos presa por roubar menos de R$ 22,00 em comida por estar com fome, enquanto os ricos nada sofrem por esconder milhões em paraísos fiscais. Sem poder comprar gás, as pessoas cozinham com lenha ou álcool, multiplicando-se os acidentes domésticos. Os aluguéis sobem, o IGP-M, utilizado como base para calcular o reajuste do aluguel, chegou a 37,04% no acumulado de 12 meses em maio deste ano, o que obviamente eleva o número de famílias sem um teto para morar.
Existem elementos particulares para a alta da inflação no Brasil, mas também importantes fatores internacionais. É o caso da crise de semicondutores (chips), com forte impacto na indústria automobilística e na produção de produtos eletrônicos. A escassez desse produto levou diferentes montadoras no Brasil a suspender a produção nos últimos meses. Há também uma falta de contêineres e o congestionamento de navios nos portos, afetando todo o comércio mundial e elevando o preço do frete. Está em curso ainda uma crise energética, com a falta de gás natural bastante utilizado para produção de energia na Europa e falta de carvão, largamente utilizado na China, além da crise hídrica no caso do Brasil, que encarece a energia proveniente das hidrelétricas.
Já o aumento constante do preço dos combustíveis no Brasil tem relação direta com o processo de privatização da Petrobras. A alta do dólar e do valor internacional do barril de petróleo definido pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) impacta no valor vendido pela Petrobras no Brasil porque ela adota, desde 2016, a política de paridade com o valor internacional do barril de petróleo, em dólar, elevando assim o ganho dos acionistas da empresa, mas penalizando os consumidores com o aumento da gasolina e do gás de cozinha.
A política geral de desvalorização do Real favorece o ganho dos exportadores, mas encarece as importações e provoca a diminuição da oferta de determinados produtos no país, dois fatores que alimentam a inflação.
Para além de uma série de eventos isolados ou mesmo a pandemia e seus impactos na produção e na demanda, a razão central para essas crises e esse fenômeno internacional de alta da inflação, são os limites do capitalismo e a anarquia desse sistema. Enquanto há um aumento de trabalhadores desempregados em determinados setores, faltam trabalhadores em outros. Ao passo que sobram determinados produtos, outros faltam. Cada capitalista busca seus lucros, não há um planejamento geral da produção e distribuição para satisfazer as necessidades da população, o atraso na vacinação e tantas mortes que poderiam ter sido evitadas nessa pandemia evidenciam isso.
Buscando driblar a crise, diferentes governos injetaram dinheiro na economia. Só no caso dos EUA, 9,5 trilhões de dólares foram injetados em pacotes econômicos. É parte disso a chamada Flexibilização Quantitativa, um bonito nome para a prática irracional de imprimir dinheiro e colocá-lo em circulação para elevar a demanda. No entanto, essa prática tem como consequência o aumento das dívidas públicas e a inflação. Os EUA, no fim de 2020, tinham uma dívida pública correspondente a 129% de seu PIB e no mês passado o governo Biden fez o Congresso aprovar um aumento do teto da dívida para 28,9 trilhões de dólares para evitar um calote. No Brasil, país dominado e com menos margem de manobra, a dívida pública bruta atingiu em julho 6,79 trilhões de reais, correspondendo a 83,8% do PIB.
Apesar do caos, os economistas burgueses tentam ressaltar o aspecto positivo da elevação da demanda e a possibilidade de um largo período de recuperação econômica pós-pandemia. Mas isso é pouco provável. Mesmo que o progressivo fim das medidas de restrição signifique um aumento momentâneo do consumo, há uma série de elementos de instabilidade. Uma demanda em parte aquecida “artificialmente” com injeção de dinheiro público, gargalos na produção, aumento das dívidas públicas e das famílias e, também, as bolhas especulativas. A ameaça de calote da incorporadora Evergrande abalou as bolsas ao redor do mundo, revelando a bolha do mercado imobiliário chinês e o risco disso para a economia mundial.
A crise econômica, raiz da instabilidade política internacional, tem cobrado um duro preço da classe trabalhadora no Brasil e no mundo, com desemprego, arrocho salarial, retirada de direitos, enquanto os bilionários ficam mais bilionários e fazem turismo no espaço. A pandemia tem entre suas vítimas principais os mais pobres. No Brasil, os mais de 600 mil mortos oficiais têm a responsabilidade direta do governo Bolsonaro, a CPI só evidencia o que todos já sabiam e não é possível confiar que estes parlamentares burgueses vinguem os mortos de nossa classe. Mas toda a tragédia que a classe trabalhadora tem atravessado também tem impactos na consciência de classe. Nos EUA, o interesse pelo marxismo cresce, em particular entre a juventude, e isso se reflete no significativo crescimento da seção americana da CMI que acaba de realizar um vitorioso Congresso.
No Brasil, se não há grandes greves, uma greve geral e manifestações mais numerosas para pôr abaixo o cada vez mais odiado governo Bolsonaro, a responsabilidade toda é das direções dos aparatos (PT, CUT, MST, UNE, PCdoB e a própria direção do PSOL) e sua política de mirar na eleição de Lula em 2022, conservando Bolsonaro no poder até lá. Não mobilizam para os atos que eles mesmos convocam, mas buscam uma frente ampla com nossos inimigos de classe, convidando para convocar os atos partidos políticos da burguesia (PDT, PSB, REDE, PV, Solidariedade e Cidadania). Nós combatemos essa frente ampla, preparação para a frente eleitoral em 2022, defendendo a independência de classe. Não é possível confiar naqueles que se dizem opositores de Bolsonaro, mas estão de acordo com as privatizações e retirada de direitos dos trabalhadores.
O fato é que manifestações seguidas, sem um avanço do combate, gera cansaço entre as massas. Ainda mais quando nos caminhões de som se vê os representantes políticos da burguesia. O bloqueio das direções faz com que a via eleitoral passe a ser vista como a opção viável e mais econômica para se livrar de Bolsonaro. O mais provável é que esse governo sobreviva até as próximas eleições, o que não descarta a possibilidade de novas explosões de luta contra ele diante da profunda instabilidade política e econômica.
Compreendendo este terreno, os revolucionários combatem e seguem fortalecendo a organização revolucionária no Brasil e no mundo, a Corrente Marxista Internacional e sua seção brasileira, a Esquerda Marxista, que se organiza e age com confiança na classe trabalhadora e em sua capacidade de derrotar a burguesia para pôr fim a este regime de sofrimento, opressão e exploração.
Com o ânimo dos que lutam pelo futuro da humanidade, os jovens da Liberdade e Luta constroem sua Conferência Nacional para o próximo sábado, 23/10, o Movimento Mulheres Pelo Socialismo leva a campanha em defesa do aborto legal, público e gratuito e pelo fim da violência contra a mulher, assim como o Movimento Negro Socialista impulsiona a campanha “Ser Negro não é Crime!”. Como dizia Lenin, “sem teoria revolucionária, não pode haver movimento revolucionário” e por isso organizamos a Universidade Marxista Brasil que discutirá em seu próximo módulo (30/10) o que foi a Revolução Russa e suas lições para a atualidade e também lançamos a nova edição de nossa revista teórica “Em Defesa do Marxismo/América Socialista”. Para agrupar todos os que querem combater o governo Bolsonaro sem esperar as eleições de 2022 e sem alianças com a burguesia, estamos juntos nos “Comitês de Ação Abaixo Bolsonaro Já!”. Participe de nossas iniciativas, organize-se para a luta pelo socialismo, junte-se à Esquerda Marxista!