Inflação no Brasil e a crise mundial: o que mudou?

Enquanto alguns jornalistas e economistas festejam uma imaginária retomada do crescimento na Europa, enquanto no Brasil o governo bate cabeça sem saber como enfrentar a crise e comemora uma pequena diminuição na inflação sem identificar o que de fato está ocorrendo, nos EUA, em Detroit, um centro importantíssimo da industria automobilística, quebrou, está à beira da falência. 
 
A quebra financeira de Detroit tem estreita ligação com o sistema bancário europeu e isso certamente irá agravar ainda mais a crise européia, ao contrário do que dizem alguns propagandistas do capitalismo.
 
Durante anos foram investidos valores astronômicos dos títulos de fundos de pensões existentes nesta cidade em bancos suíços e europeus, tudo na busca de atrativos que possibilitassem altos rendimentos com riscos que então pareciam relativamente baixos em 2005. Com a crise financeira, o banco suíço UBS sofreu perdas de cerca de US$ 50 bilhões, mas foi socorrido pelo governo. Agora chegou a hora de apresentar a fatura e tudo desmorona. E isso repercutirá em vários países europeus, agudizando a crise.
 
O Egito à beira da guerra civil
 
No Egito, foi decretado toque de recolher depois de violentos confrontos entre adeptos de Irmandade Muçulmana e aqueles que se levantaram para derrubar Morsi e lutam por liberdades e uma vida digna. Mohamed El Baradei, tido como liberal, recém nomeado para a vice-Presidência do governo de transição no Egito, apresentou sua demissão. Foi decretado o estado de emergência e toque de recolher no país por um mês em 14 províncias. O Exército ataca a Irmandade Muçulmana e esta ataca os trabalhadores. O imperialismo ameaça com a intervenção da ONU e da OTAN, o país está a beira da guerra civil. 
 
A fantasia de que a crise está recuando
 
O Financial Times, em artigo de James Fontanella-Khan, no dia 14 de agosto, em tom quase delirante afirmava: “ Amanhã os números preliminares do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo semestre devem mostrar que a economia da zona do euro expandiu-se 0,2% em relação aso três primeiros meses do ano…Este será o sinal mais claro até agora de que que o pior momento da economia em tempos de paz desde a Grande Depressão acabou para a região.” Ao lado dessa ‘profética’ propaganda enganosa, o jornal mostra alguns dados: taxa de desemprego na Espanha igual a 26,3 e tendo crescido 6,1% desde junho de 2010. Itália com 12,1% de desemprego,crescendo 3,8% no mesmo período e França com 11% de desempregados, crescendo 1,3% desde 2010 e por fim Alemanha com 5,4% de desemprego, sendo que todos estes países estão com quase 100 de seus PIBs comprometidos com dívidas dos respectivos governos, sendo que na Itália a dívida ultrapassa 130,3% do PIB e mesmo na Alemanha, o ‘braço forte do capitalismo’  europeu, a dívida atinge a cifra de 81,2% do PIB.  
 
O capitalistas não vislumbram nenhuma saída, na verdade só poderão ter uma saída com a destruição generalizada de forças produtivas, cortes e desmontes de todas as conquistas dos trabalhadores. Mas temem que isso possa ser o chicote da revolução e catapultar as massas cada vez mais para ações que coloquem em xeque o capitalismo. 
 
E no Brasil está tudo bem? Há algo a comemorar?
 
No Brasil, na semana passada o IBGE anunciou que a inflação de julho caiu para 0,03%. Com certa timidez e indisfarçada falsa alegria, setores do governo preocupados com a queda de popularidade da presidente Dilma emitiram opiniões a respeito. 
 
Em entrevista a emissoras de rádio de Minas Gerais a presidente Dilma  declarou: “Estou tranquila em relação à inflação….Ela já esteve mais alta, mas agora, sob todos os aspectos, ela vem caindo mês a mês”.
 
Mantega, ministro da fazenda, ao qual Lula aconselhou parar de fazer prognósticos, declarou na Veja que: “O consumidor, de fato, sentiu os efeitos do aumento da inflação e também as restrições ao crédito. Para as pessoas de baixa renda, o aumento dos alimentos teve um peso importante. Mas os indicadores mais recentes mostram que a confiança começa a ser restabelecida. Além disso, há um impacto dos humores externos. A alta do dólar sempre causa preocupação”. 
 
O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) divulgaram que ocorreu em julho a primeira queda de inadimplência do ano com uma retração de 1,94% em relação ao mesmo período do ano passado. E explicam que isso reflete o baixo índice de confiança do consumidor que foi fortemente influenciado pela alta da inflação e pela retomada do encarecimento do crédito e alta dos juros. Na verdade isso acabou inibindo o consumo e por conseguinte a inflação baixou levemente. No entanto a inadimplência, em relação aos primeiros 6 meses de 2012, cresceu 5,20% e há uma estagnação no crescimento industrial que vem acompanhada de uma queda nas vendas de produtos alimentícios da ordem de 0,8% ao mesmo tempo que acumula uma alta de 13,6% em 12 meses, 6,7% a mais que em 2012.
 
Há ainda uma estagnação no nível de empregos com uma taxa de desemprego de 10,9% medida pelo Dieese em seis regiões metropolitanas e no distrito federal. Em São Paulo a taxa de desemprego passou de 11,4%. O total de desempregados foi estimado em 2,424 milhões, 48 mil a menos do que em maio (variação de -1,9%) e 73 mil a mais do que há 12 meses (variação de 3,1%). O rendimento médio dos ocupados (R$ 1.608,00) cresceu 0,7% no mês e aumentou 1,4% em 12 meses.
 
Na verdade, há uma desaceleração da economia que comprime o nível de emprego e renda (ainda com alta média de 1,4%) levando a que os trabalhadores ao fazerem suas contas, percebendo e antevendo a crise, puxem o freio de mão, gastem menos, contraindo menos dívidas. O que os números do IBGE apontam em relação ao crescimento da produção industrial é bastante significativo, em 12 meses ela ficou sem crescer e com a crise a produção industrial tenderá a regredir. 
 
Virar à esquerda
 
Apesar da CUT e outras centrais terem marcado uma Greve Geral para o dia 30 de julho, na base, nas fábricas e sindicatos, quase nenhuma mobilização e agitação está sendo feita pela greve. Há sim tentativas permanentes de negociações com a patronal e no Congresso Nacional, a frio, na busca de uma saída comum para a crise. Nestas condições a Esquerda Marxista segue intervindo junto à juventude e aos trabalhadores, explicando que a única saída só pode se dar sob a base da ruptura com a burguesia, virar à esquerda e reatar com o socialismo, esta é a opção que oferecemos aos trabalhadores e à juventude.