Em Joinville, maior cidade do estado de Santa Catarina, o prefeito Adriano Silva (Novo) declarou há uma semana que a cidade chegava no momento mais grave da pandemia, na chamada “fase 3” do plano de contingência da prefeitura.
“Não existe fase 4, eu não estou exagerando”, ele disse. No entanto, a realidade não se encaixa nas tabelas do governo e, como no capitalismo tudo sempre pode piorar, em poucos dias o governo precisou inventar as fases 4 e 5.
Agora, já chegamos à fase 4. Na prática, isso significa que os hospitais públicos da cidade não têm mais capacidade de atendimento, assim como o Pronto Atendimento (PA) Leste, que há alguns dias passou a atender exclusivamente casos de Covid-19. Por isso, a partir desta semana, todas as 57 unidades básicas de saúde do município também atenderão pessoas contaminadas pela doença.
Na rede privada, a situação não é muito diferente. No domingo (7/3), o Hospital da Unimed informou que esgotou a capacidade máxima de atendimento para pacientes graves de coronavírus que precisam de UTIs.
Na última semana, entre os dias 28 de fevereiro e 6 de março, 39 pessoas morreram de coronavírus em Joinville, totalizando 744 mortes. Nos próximos dias ou talvez horas, quem precisar de internação não encontrará mais vagas, sobretudo de UTI, e este número já elevado de mortes deve disparar.
De acordo com o Painel Covid – sistema de informação do governo atualizado diariamente em Joinville –, nesta segunda-feira a taxa de ocupação de leitos públicos de UTI adulta na cidade era de 98%. Nos hospitais privados, estaria em 94%.
Entretanto, a verdade é que não existe nenhum leito vago em todo o Estado. O percentual livre que aparece no sistema é variável e virtual. Ou seja, quando um leito vaga, logo é ocupado pelos que estão na lista de espera.
E a lista de espera é assustadora. No sábado, 373 pessoas esperavam leitos de UTI em Santa Catarina, número que quase dobrou em comparação com uma semana atrás. Destes, a maior parte está no Oeste do estado. Em Joinville, que fica no Norte, o número oficial ontem era de 32 pessoas esperando. Mas estamos falando de UTIs, que são necessários aos pacientes mais graves, com risco de morte se não forem internados em terapia intensiva.
Peso sobre os trabalhadores
Em meio a esta situação, pacientes e profissionais da saúde vivem situações de guerra. Na sexta-feira, o Hospital Municipal São José – maior hospital da região – começou o cancelamento de todos os procedimentos cirúrgicos e exames relacionados a outras doenças que ainda realizava. Pacientes com fraturas graves que já aguardavam em casa ou com estágios avançados de câncer, por exemplo, tiveram atendimentos cancelados.
De acordo com os trabalhadores, há pacientes entubados com Covid-19 em todos os cantos do hospital. “Sexta foi um tumulto enlouquecedor e no sábado estava um silêncio desesperador. Acho que o silêncio me assustou mais que o barulho”, relata uma servidora em referência ao fato de que a Covid-19 tomou conta do hospital e os demais procedimentos estão sendo barrados.
Na rede básica (postos de saúde) a situação não é menos drástica. Locais com necessidade de quatro médicos, por exemplo, já vinham trabalhando com dois. É o caso da UBSF Dom Gregório, no Jardim Iririú. Outras, como a UBSF Rio do Ferro e a UBSF Santa Bárbara, no bairro Aventureiro, atuam sem nenhum médico, com uma equipe de enfermagem mínima. Ressalta-se que estes dois bairros ficam na região mais assolada pela Covid-19 neste momento.
Muitas unidades básicas também não contam com estrutura física para, minimamente, isolar os pacientes de Covid-19 de quem procura ajuda médica por outras doenças. Além disso, faltam na rede medicações básicas para manter o controle de outras doenças, como a insulina NPH, que está em falta há aproximadamente dois meses.
As contratações realizadas desde o início da pandemia, por sua vez, são totalmente insuficientes e o antigo quadro que já era deficitário se torna cada dia menor. Isso porque, dos 12.964 profissionais da saúde da cidade, 2.979 já foram infectados.
A hipocrisia da culpa individual
A resposta do prefeito Adriano para isso não poderia ser menos parecida com o jeito “Novo” de governar: ele apelou para o trabalho voluntário na saúde e, assim como o governador Moisés e Bolsonaro, vem desacreditando sistematicamente a eficácia de um lockdown.
Em um pronunciamento feito na Associação Empresarial de Joinville (Acij), na semana passada, ele se limitou a responsabilizar individualmente a população, pedindo que a sociedade “assumisse seu compromisso em se cuidar”.
Este é um discurso hipócrita, que finge a não existência da lotação nos terminais e no transporte público da cidade, das escolas e universidades abertas e das empresas e comércio a todo vapor.
O que Adriano está defendendo, na realidade, são os interesses de empresas como a fundição Tupy, que, em meio à pandemia, fechou o quarto trimestre de 2020 com um lucro líquido de R$ 86 milhões, o que representou um crescimento de 18,7% no comparativo com o mesmo período de 2019.Mas, assim como ocorre em âmbito nacional e internacional, a burguesia da cidade também está dividida. Há uma parcela dos empresários que reconhece a necessidade de lockdown para manter o próprio sistema. É o que explica a nota divulgada no domingo pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) sugerindo à Prefeitura “lockdown total de atividades até domingo (14), incluindo comércio, indústria e serviço, sem exceções, além daquelas previstas como absolutamente essenciais – relacionadas à alimentação, à saúde e à higiene da população”.
Ainda assim, nesta segunda-feira (8/3), Adriano voltou a negar o decreto de um lockdown, apresentando uma série de medidas de restrições completamente cosméticas e ineficientes para a situação em que a cidade se encontra.
A vacinação, por sua vez, anda a conta gotas. Entre os profissionais da saúde, 1.203 não receberam nem a primeira dose e 8.887 ainda não receberam a segunda. Ao todo, Joinville vacinou apenas 18.332 pessoas com a primeira e 4.929 com a segunda dose. Isso em uma cidade com quase 600 mil habitantes.
O silêncio dos sindicatos
Em meio a tudo isso, os sindicatos da cidade permanecem mudos, entre eles os de grandes categorias como mecânicos, metalúrgicos e servidores públicos, dirigidos pelo PT e pela CUT.
Nos setores de saúde da Prefeitura de Joinville há vários casos de mulheres grávidas e pessoas com comorbidades comprovadas que não conseguem garantir o afastamento do local de trabalho. Mas a orientação do sindicato para estes trabalhadores tem sido que eles busquem individualmente seu direito na Justiça.
Este é um crime contra a classe. Não será por meio de cartas, reuniões de cúpulas e apelos aos governos e à Justiça que a vida dos trabalhadores será poupada. É historicamente comprovado que a única forma de impor nossas reivindicações aos patrões é a paralisação da produção, ou seja, com greves.
A Esquerda Marxista defende uma greve geral em defesa da vida da classe trabalhadora. Se você concorda, junte-se a nós!
- Lockdown já!
- Contratação imediata de mais trabalhadores da saúde!
- Todo o dinheiro necessário para a saúde!
- Greve geral em defesa da vida da classe trabalhadora!
- Aulas presenciais, só com vacina para todos!
- Abaixo os governos de Adriano, Moisés e Bolsonaro!
- Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!