A nova cúpula do G-20 – prestigiado balcão de negócios do capitalismo – repete a anterior: permanecem os impasses dos governos capitalistas na solução da crise, assim como a intenção de jogar todo o peso nas costas da classe trabalhadora.
Entre os dias 24 e 25 de Setembro, na cidade americana de Pittsburgh, ocorreu a reunião de cúpula do G-20, que congrega as vinte maiores economias do planeta. Uma continuação da rodada anterior, realizada em Londres, em Abril deste ano, e que tinha como objetivo coordenar os esforços dos países membros para solucionar a crise econômica capitalista.
O governo brasileiro comemorou o resultado da cúpula de Pittsburgh, que decidiu transferir 5% do poder de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI) para os países ‘emergentes’, entre eles, o Brasil. No Banco Mundial, essa transferência foi de 3%. Além disso, o G-20 tornou-se o principal fórum de cooperação econômica internacional, sobrepondo-se nesse tema ao G-8, grupo dos sete países mais ricos do mundo e da Rússia. Mas a classe trabalhadora tem o que comemorar?
Fim do G-8?
Não há nenhuma vantagem nos países ‘emergentes’ aumentarem, ainda que timidamente, sua participação nas famigeradas instituições financeiras mundiais. O papel nefasto desempenhado pelos pacotes de ajuda econômica do FMI e do Banco Mundial às economias nacionais não precisa ser lembrado aqui.
E a promessa do bloco em aumentar em US$ 100 bilhões o valor dos empréstimos a países pobres através de bancos de desenvolvimento nunca foi esclarecida. Silvio Berlusconi, primeiro ministro italiano, também fez questão de avisar aos que pavoneiam o surgimento de uma nova ‘governança’ mundial mais democrática, que o que está acontecendo é uma divisão de tarefas, por força da crise econômica mundial: “O G8 desempenhou de forma excelente suas funções, e seguirá tendo um papel importante para temas políticos, sobretudo aqueles relacionados à segurança”.
O recado do mafioso político italiano encontrou sua expressão concreta na intervenção de Obama durante a Cúpula, que ameaçou o governo iraniano de novas sanções, após a revelação da existência de uma usina secreta de enriquecimento de urânio. Obama contou com o silêncio legitimador dos países do G-20, e deixou evidente que o imperialismo segue sendo imperialismo.
Entre a regulamentação e o protecionismo
O mesmo se pode dizer das propostas de regulação da economia capitalista para prevenir novas crises mundiais.
Como disse Marx, “o limite do capital é o próprio capital”. Tentativas de impor regras esbarram nos interesses dos capitalistas, preocupados em expandir seus lucros a qualquer custo. Assim, a declaração final do G-20 não passa de uma carta de “boas intenções”.
A Cúpula se compromete em acabar com os excessos no setor bancário, mas não consegue chegar a uma regulação mais efetiva sobre fundos de investimento. Determina que as gratificações recebidas por altos executivos das empresas e instituições financeiras estejam ligadas a resultados de longo prazo, mas é incapaz de impor limites a esse bônus. E, principalmente, se declara contrária ao protecionismo comercial, enquanto fracassa em tomar qualquer medida nesse sentido. A Rússia se recusa a suspender os subsídios dados ao consumo de petróleo, principal fonte de energia das suas indústrias; a China não quer estabelecer metas de comércio e de superávit fiscal, para não comprometer suas exportações; e os EUA, recentemente, impuseram uma tarifa de 35% sobre pneus importados da China.
Em um artigo anterior, G-20 e o impasse dos governos capitalistas, já prevíamos essa situação:
“(…) o cenário mais provável para o próximo período não deve ser de ‘estabilidade’ e de ‘cooperação’ entre países. Diante da crise, as diferentes burguesias e suas frações tendem a entrar num profundo conflito entre si. E certamente as burguesias continuarão buscando jogar sobre as costas dos trabalhadores as conseqüências da crise que elas mesas criaram”.
A reunião do G-20 em Pittsburgh confirmou o que dissemos sobre a cúpula de Londres, em Abril desse ano. E a única medida relevante, que segue sendo um consenso entre os países do G-20, é continuar com a injeção de recursos nas suas próprias economias. De fato, nisso consistiu a importância da reunião: garantir que as torneiras abertas nos cofres públicos não vão parar abruptamente, tranqüilizando os mercados financeiros. Como diz a declaração: “Nos comprometemos hoje a manter nossa vigorosa resposta até que uma recuperação duradoura esteja garantida”. Os capitalistas de todo o mundo já podem dormir sossegados.
O G-20 se comprometeu a ser mais um dos balcões de negócios da burguesia. Com a diferença que conta com uma quantidade maior de subgerentes.
A luta da classe trabalhadora
Enquanto isso, fora dos salões climatizados das reuniões, centenas de trabalhadores e estudantes protestavam nas ruas de Pittsburgh, enfrentando a brutalidade policial, com faixas que pediam o fim dos socorros aos bancos e às multinacionais. Por experiência, sabem que os trilhões que estão sendo gastos para salvar os capitalistas vão pressionar os governos a economizar nos serviços públicos essenciais (como saúde e educação), além de atacar os direitos trabalhistas, para reduzir os “custos de produção” em um cenário ainda mais competitivo. Assim, para a emancipação da classe trabalhadora, o importante não é controlar o capital. É destruí-lo.