A Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional, publica abaixo a Declaração da Tendência Comunista do Syriza (seção grega da CMI) emitida logo após as eleições.
A Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional, publica abaixo a Declaração da Tendência Comunista do Syriza (seção grega da CMI) emitida logo após a vitória eleitoral. Estamos certos de que o apelo dos marxistas pela ruptura com a burguesia terá na Grécia e no Brasil forte impacto na consciência da vanguarda operária e na juventude. A velocidade dos acontecimentos e a gravidade da crise imporá este caminho. Cedo ou tarde os trabalhadores tomarão em suas mãos o leme de seu próprio destino na luta pelo socialismo. Esta é a batalha dos marxistas na Grécia, no Brasil e em todo mundo.
Declaração da Tendência Comunista do Syriza
É um grave erro da parte do SYRIZA cooperar com os ‘Gregos Independentes’! Não desperdiçem essa oportunidade histórica! Deve ser feita uma coalizão entre o SYRIZA e o KKE [Partido Comunista da Grécia].
[‘Gregos Independentes’ é o nome de um partido político formado na Grécia em 2012 como uma dissidência do partido ‘Nova Democracia’, sendo este último o principal partido burguês na Grécia e atualmente majoritário na coalizão que está no governo e foi derrotada nesta última eleição, depois de vários anos em que vinha implementando o conjunto de medidas de draconiana austeridade conhecido como Memorandum, NT]
A vitória eleitoral do SYRIZA ontem, o modesto fortalecimento do KKE, e a consequente derrota dos partidos burgueses, constitui uma oportunidade histórica, mas também um claro mandato politico da classe trabalhadora e das camadas mais pobres da população para que o SYRIZA forme um governo de Esquerda independente.
Depois de décadas de perseguição e marginalização política, o movimento comunista grego poderia governar com o apoio de 42% do eleitorado e com uma confortável maioria de 164 cadeiras no parlamento grego! Mas, infelizmente – com a liderança do KKE sendo a principal responsável, e com a relativa disposição da liderança do SYRIZA para formar alianças com partidos burgueses – os líderes da Esquerda jogaram pela janela essa oportunidade histórica de um governo de Esquerda independente, e dessa forma, objetivamente e quaisquer que sejam as suas intenções, eles estão traindo o claro mandato que receberam do povo grego por uma profunda mudança política e social.
A nebulosa colaboração do SYRIZA com os ‘Gregos Independentes’ é um sério erro político e provará na prática ser tragicamente desastrosa para a classe trabalhadora. Os ‘Gregos Independentes’ são um partido burguês. Eles têm um programa reacionário e anti-operário em todas as questões-chaves, na economia, concepção de governo, educação, política externa, etc. A retórica “anti-memorandum” é um véu escondendo o seu programa reacionário. De que modo esse partido burguês é “anti-memorandum” ficou claro pelo seu comportamento durante a votação no parlamento da legislação do “memorandum” e quando o sistema ficou paralisado durante a recente eleição presidencial. A bancada parlamentar dos Gregos Independentes, cheio até a borda de políticos burgueses carreiristas, inclinou-se decisivamente para o lado do Governo.
O impacto de uma coalizão com os ‘Gregos Independentes’ será politicamente dolorosa, dada a sua insistência sobre um “sinal vermelho” diante de qualquer posição programática do SYRIZA que seja dirigida contra os interesses fundamentais da classe dominante grega. Os ‘Gregos Independentes’ servirão como o agente visível do capital dentro de um Governo cujo principal componente é o SYRIZA. Logo na primeira aplicação de pressão real da parte da ‘Troika’ (Banco Central Europeu, Comissão da União Europeia, FMI) e dos capitalistas gregos, o novo Governo será forçado a recuar de quaisquer medidas radicais que ele possa querer implementar, e a gangue burguesa dos ‘Gregos Independentes’ irá retirar seu apoio à coalizão e tentará instituir alguma espécie de governo de “unidade nacional” (com os partidos burgueses). Este foi, de fato, o apelo veemente do líder dos ‘Gregos Independentes’, Panos Kammenos, durante o período da campanha eleitoral.
Se realmente houver uma mudança na liderança do ‘Nova Democracia’ com alguém da facção de Karamanlis, um certo número de deputados e membros dos ‘Gregos Independentes’ começará a voltar para o seu lar original (ou seja, para o ‘Nova Democracia’), o partido tradicional do capital na Grécia. A liderança do SYRIZA deve levar em conta esses riscos e em vez de trabalhar com o ‘Gregos Independentes’, deveria trabalhar com o maior empenho pela unidade com o KKE, buscando um acordo programático para a formação de uma coalizão parlamentar de Esquerda majoritária, estável e sólida. Ela agora precisa fazer urgentemente o que deveria ter feito antes das eleições, isto é, impulsionar o “Programa de Thessaloniki” com medidas anticapitalistas e socialistas, que estão no programa do KKE. Agora não pode haver desculpas sobre o “objetivo estratégico” compartilhado pelos dois partidos, que parece ser o argumento usado pelos líderes do KKE. Agora com uma força conjunta de 164 deputados seria possível aprovar medidas parlamentares para desmontar o Memorandum e avançar contra o capitalismo, com a socialização das principais alavancas da economia e a erradicação do corrupto e autoritário aparato de estado burguês.
Ao mesmo tempo, as forças conjuntas da Esquerda somando 42%, que nas cidades superam os 50%, podem mobilizar com entusiasmo o povo para garantir a implementação de um verdadeiro programa socialista.
Da sua parte, a liderança do KKE deve urgentemente adotar uma autêntica postura leninista na questão da formação do governo, que seja capaz de conectar o comunismo com as massas em vez de marginalizar o partido. Essa tática envolve apelar à direção do SYRIZA para comprometer-se com políticas pró-operárias com decisivas medidas anticapitalistas e socialistas. Com base nestas demandas o KKE deveria declarar que está disposto a apoiar o governo do SYRIZA, desse modo mantendo a liderança do SYRIZA responsável pelas suas políticas e expondo assim a existência de qualquer tendência no SYRIZA que favoreça o compromisso e a colaboração de classe, o que, infelizmente, existe em seu núcleo. Com a recusa antecipada do KKE de qualquer cooperação com o SYRIZA, no entanto, a liderança do KKE oferece amplas desculpas políticas para a liderança do SYRIZA avançar em sua guinada para a direita. Não só o KKE deixa de expor aos olhos da classe trabalhadora esta realidade, mas confunde uma grande parte dela, fazendo-a acreditar que a cooperação com os ‘Gregos Independentes’ é, portanto, o único caminho a seguir, dada a intransigência do KKE, algo que seria catastrófico para a classe trabalhadora. Não é por acaso que todos os representantes políticos e ideólogos da classe dominante manifestaram imediatamente seu claro alívio na recusa obstinada da liderança do KKE em considerar qualquer tipo de cooperação com o SYRIZA.
Se a liderança do SYRIZA, eventualmente, adotasse o apelo para uma cooperação socialista radical com o KKE, e a liderança do KKE continuasse a recusar-se a oferecer qualquer tipo de apoio para um governo do SYRIZA, então o SYRIZA teria de convocar novas eleições para ganhar uma maioria clara para um governo independente e capaz de sustentar-se sem a necessidade de cooperar com qualquer outro partido. Novas eleições seriam “arriscadas e fora do procedimento normal” para os partidos burgueses, mas não para o povo, uma vez que é quase certo que ele iria produzir uma clara maioria e levar a um governo do SYRIZA totalmente independente. É muito melhor travar outra batalha eleitoral e ter nossas mãos desatadas para implementar nosso programa radical do que amarrar nossas mãos colaborando com um servo burguês dos industriais, tais como Panos Kammenos e seu partido, os ‘Gregos Independentes’!
A Tendência Comunista do SYRIZA apela aos dirigentes do SYRIZA para não colaborar com os ‘Gregos Independentes’. Estamos enviando um último apelo à liderança do SYRIZA, mas também para a liderança do KKE, para fazerem um balanço da magnitude das suas responsabilidades históricas e formarem juntos agora um robusto governo de coalizão socialista. As forças da “Plataforma de Esquerda”, a principal tendência de Esquerda no SYRIZA, não devem aceitar qualquer tipo de cooperação com os ‘Gregos Independentes’, e devem permanecer ao lado da Tendência Comunista do SYRIZA e de todas as fileiras da ala esquerda do partido defendendo a única e correta alternativa política de classe, que é buscar uma coalizão socialista entre o SYRIZA e o KKE.