Isolamento, depressão, precariedade: na França, as condições de vida dos estudantes estão se deteriorando sob o impacto desta crise sanitária, mas também de todas as políticas de austeridade dos últimos anos. O primeiro-ministro Macron admitiu em seu discurso de 15 de outubro: “É difícil ter 20 anos em 2020”. Mas o que seu governo tem feito para melhorar a vida dos jovens franceses? Nada. Pelo contrário, piorou a situação.
Naufrágio social
Em setembro de 2020, um estudo publicado pelo Observatório Nacional da Vida Estudantil Francês (OVE – sigla em francês) forneceu uma visão geral dessa deterioração. Segundo o Observatório, “durante o primeiro lockdown, um terço dos alunos disse ter enfrentado dificuldades financeiras e, entre eles, um em cada dois as considerou mais complexas do que o habitual”. Entre os alunos que pagam seus estudos com a renda do trabalho, quase 60% perderam o emprego, trabalharam menos horas ou tiveram que mudar de emprego. Como resultado, suas rendas caíram, em média, 274 euros por mês – número que ainda mascara bruscas derrocadas na miséria da população.
No início do ano letivo, em setembro do ano passado, o governo francês anunciou a implementação de um auxílio emergencial da CROUS (órgãos que fornecem bolsas e moradia estudantis e promovem a vida cultural), para alunos bolsistas: suporte financeiro de 150 euros e redução para 1 euro do valor da refeição nos restaurantes universitários. Medidas, como vimos, insuficientes, principalmente quando comparadas às dezenas de bilhões de euros de subsídios desfrutados pelas grandes empresas.
Antes da crise sanitária, a vida de muitos alunos já era difícil. De acordo com uma pesquisa do INSEE (Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos), publicada em dezembro de 2018, quase 21% dos estudantes viviam abaixo da linha da pobreza, em comparação com quase 13% de toda a população. Outra pesquisa do OVE, publicada em 2016, destacou as consequências psicológicas dessa situação: 8% dos alunos já haviam pensado em se matar.
Suicídios
São justamente essas várias tentativas de suicídio que colocam o sofrimento social dos estudantes nas manchetes. De acordo com os dados mais recentes, um em cada cinco estudantes teve pensamentos suicidas nos últimos meses. Após uma estudante de Lyon tentar se jogar de uma janela em 12 de janeiro, a hashtag #etudiantsfantomes (#estudantesfantasmas) foi usada por milhares de estudantes para expressar suas indignações com a gestão da crise sanitária.
A resposta do governo não foi suficiente para “baixar a poeira”. Stanislas Guerini, o chefe de La République en Marche (LREM), propôs fornecer empréstimos de 10 mil euros para estudantes – ou seja, endividá-los ainda mais – e oferecer-lhes três consultas gratuitas com um psicólogo. Seria cômico se não fosse grave.
A grande quantidade de depoimentos em vídeo gerou um sentimento de indignação que levou sindicatos e organizações estudantis a reagir. Um primeiro dia de mobilização aconteceu no dia 20 de janeiro em várias cidades. Em 26 de janeiro, vários estudantes juntaram-se às manifestações, em favor dos funcionários da Educação Nacional que estavam em greve.
A reabertura das universidades
Os sindicatos e associações estudantis de esquerda, apoiados por organizações do movimento operário, devem lançar uma vasta campanha para reabrir universidades em condições decentes. Todas as salas e anfiteatros disponíveis devem ser usados, ventilados e desinfetados regularmente, por meio da configuração de medidores para manter os protocolos de segurança. Funcionários e alunos devem receber suprimentos suficientes de máscaras PFF 2 e álcool gel gratuitamente toda semana.
Também um sistema de revezamento deve ser implementado para permitir que o maior número possível de pessoas participe dos cursos presenciais. Mas aqueles que quiserem realizar os cursos a distância poderão fazê-los sem grandes prejuízos, com computador e conexão de internet de boa qualidade, tudo pago pelo Estado. Antes e depois das férias escolares, os alunos e funcionários poderão também fazer um teste PCR antes de voltar para casa e antes de retornar aos campi da faculdade, sem que precisem encarar listas de espera intermináveis. Mas, claro, tudo isso pressupõe a contratação massiva de trabalhadores.
Por fim, o sistema de bolsas deve ser estendido a novas categorias de alunos e a quantidade de bolsas deve aumentar.
Não nos digam que o Estado não tem meios para pagar por esses serviços, porque essas poucas medidas elementares, que aliviariam tantos alunos, custariam apenas uma pequena fração das colossais somas que se depositam nos cofres dos capitalistas todos os anos – e, particularmente, desde março do ano passado. Cabe aos ricos pagar pela crise!
TRADUÇÃO DE NAYARA S.
PUBLICADO EM MARXISTE.ORG