No ABC, uma assembleia de metalúrgicos reunindo os operários da Mercedes e da Ford declara estar disposta a ir à greve geral, se a CUT chamar. No país inteiro, chamados pelas direções da centrais, dezenas de milhares de manifestantes gritaram pela greve geral e pelo fim do governo Bolsonaro. Mas as centrais somente anunciam que estão dispostas a fazer um ato conjunto no 1º de Maio e, no ato da Avenida Paulista em São Paulo, o Presidente da CUT Vagner Freitas declarou:
“Se colocar para votar a reforma da Previdência, nós vamos fazer a maior greve geral da história deste país.” (Site da CUT, 22/03/2019)
Este é todo um programa. Quando o governo passa por uma de suas maiores crises ou como explicou em linguagem direta o Ministro da Economia, Guedes, a jornalistas: “Não posso falar hoje; parece que o pau está comendo” (sexta-feira, 22/3/2019), a CUT, ao invés de avançar, prefere esperar que o governo se recomponha para só depois botar o seu time em campo.
Para entender este posicionamento, é preciso ir à fonte: o posicionamento do PT. No dia em que ocorriam as manifestações, o Diretório Nacional do PT se reuniu. Está correto quem achou que o PT se furtou as manifestações. Porque a campanha aprovada contra “esta reforma da previdência” é apresentada assim por Gleisi Hoffmann, presidente do partido:
“Nós entendemos que este não é o momento para se fazer uma reforma da Previdência. Isto não quer dizer que o sistema não precise de ajustes. Nós fomos governo e fizemos uma reestruturação da Previdência. O problema é que o que eles querem fazer não é uma reforma. O que eles querem é promover a destruição da Previdência.” (Site do PT, 22/03/2019)
Assim, há dois problemas na “Nova Previdência” de Bolsonaro: o “momento” em que ela é apresentada e o seu conteúdo. Ou seja, o que o PT entende é que é preciso outra reforma. E qual seria essa “outra reforma”? A Resolução do DN do PT, divulgada dia 22 de março em seu site, deixa claro do que se trata:
“O combate às distorções que ainda restaram em nosso sistema previdenciário, em particular aqueles ainda presentes em alguns setores das carreiras do serviço público, não pode ser desculpa para um desmonte da seguridade social como um todo, em particular daquela que atende as necessidades dos trabalhadores mais pobres.”
O argumento do partido coincide inteiramente com o argumento de Bolsonaro. Aliás, não deveria ser surpresa. Eles foram gestados nos laboratórios do FMI e do Banco Mundial e todos os integrantes da política burguesa (velhos, novos e assemelhados) a repetem à exaustão. E, desde já, o DN-PT se encarrega da “anistia política” para os governadores do PT que negociam a reforma com o governo, no trecho que se segue:
“O governo federal deve apoiar os estados e municípios na transição de seus regimes próprios sem sobrecarregar, no curto prazo, seus tesouros públicos. O papel do governo Federal deve ser o de criar um Fundo de transição que dê suporte aos estados, ao invés de jogar o custo desse processo nas costas dos governadores, prefeitos e servidores públicos da ativa.”
O que existe é um chamado para que o governo Bolsonaro apoie os estados e municípios para aplicar a “reforma de 2003”, aprovada por Lula, que destruiu a previdência dos servidores federais.
Sim, o texto apresenta diversas medidas que poderiam ser tomadas, como aumentar a fiscalização, acabar com isenções fiscais, cobrar latifundiários etc. O que o texto não explica é por que o PT nunca fez isso e, pelo contrário, aumentou as isenções, não fez o imposto sobre as grandes fortunas, permitiu a sonegação sem fiscalização etc. Aliás, o texto não tem coragem nem de criticar o aumento da alíquota para os servidores (os privilegiados, segundo o PT). Afinal, se fizesse isso, teria de criticar a si próprio que queria implementar tal medida. Ao concentrar os ataques aos “absurdos da proposta”, o texto tem o cuidado de preservar (ou seja, não critica) a idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres.
Por fim, o texto termina com “Lula livre” e quando todos nas ruas questionam a própria existência do governo Bolsonaro, o PT “esquece” de falar em “Fora Bolsonaro”. Assim, quando o Estado (as instituições burguesas) cai de podre, o PT tenta salvá-lo. E o PSOL nisso tudo? Além de não endossar publicamente a exigência do “Fora Bolsonaro”, esforça-se para compor um bloco de oposição com o PT e outros na Câmara dos Deputados.
Isso no momento em que a crise interna do governo Bolsonaro, a crise no PSL, a crise Maia-Bolsonaro estouram a todo o momento. Uma PEC que “engessa” o orçamento e obriga a execução de emendas parlamentares é aprovada na Câmara dos Deputados. Esses fatos assustam a burguesia que se pergunta se este governo pode continuar.
É nesta situação que podemos apreciar a frase de Trotsky no Programa de Transição, escrito em 1938: “a crise da humanidade reduz-se a crise das direções”. E é também o momento em que é preciso incentivar a base a se organizar, a criar comitês em defesa da previdência pública em todos os locais de trabalho e de estudo, nos bairros e fábricas. Este é o trabalho ao qual se dedicam os militantes da Esquerda Marxista.