Outros Outubros virão!

Neste mês de Outubro os marxistas em todo o mundo comemoram os 90 anos da Revolução. Para os revolucionários, os eventos de outubro de 1917 são a página mais bela e importante de toda a história da humanidade.

Estudar os eventos de outubro e suas lições é fundamental para formar militantes comunistas e para ajudar os trabalhadores e a juventude a fortalecerem sua consciência contra a sociedade capitalista.

E isso se torna ainda mais importante num momento em que a burguesia, através da imprensa e seus “intelectuais” buscam distorcer e falsear o que realmente ocorreu durante e após a Revolução Russa. Hoje virou lugar comum dizer que as atrocidades do stalinismo eram conseqüências inevitáveis da política empreendida pelos líderes bolcheviques como Lênin e Trotsky. Ao mesmo tempo, estes mesmos representantes da ideologia da classe dominante buscam confundir os trabalhadores e a juventude afirmando que o colapso da URSS, em fins dos anos 80, demonstrou a “inviabilidade do socialismo” ou o “triunfo da economia de mercado”.
Nada mais falso…

Revolução Russa e Revolução Permanente
Quando Marx e Engels formularam as bases teóricas do socialismo científico no séc. 19, ambos acreditavam que, em primeiro lugar, Alemanha, França e Estados Unidos desenvolviam suas forças produtivas e geravam em contrapartida um proletariado industrial cada vez mais forte e organizado.

Mesmo assim, como grandes dialéticos que eram, eles não descartavam a possibilidade de que outros países menos desenvolvidos pudessem iniciar a Revolução. Num Prefácio à edição russa do Manifesto Comunista de 1882, escreviam:

“Pergunta-se agora: poderá a comunidade aldeã russa— uma forma, ainda que fortemente minada, da antiqüíssima posse comum do solo — transitar imediatamente para a forma superior da posse comum comunista? Ou, inversamente, terá de passar primeiro pelo mesmo processo de dissolução que constitui o desenvolvimento histórico do Ocidente? A única resposta a isto que hoje em dia é possível é esta: se a revolução russa se tornar o sinal de uma revolução proletária no Ocidente, de tal modo que ambas se completem, a atual propriedade comum russa do solo pode servir de ponto de partida de um desenvolvimento comunista.”

O fato é que no início do século 20 o capitalismo se transformara em imperialismo. A própria concorrência capitalista fizera com que um punhado de grandes monopólios oriundos de poucas potências industriais dominasse todo o mercado mundial. A exportação de capital passou a ser uma necessidade da acumulação capitalista. As disputas pelos mercados, matérias-primas e mão de obra dos países mais atrasados por tais monopólios passaram a ser imprescindíveis ao grande capital.

As classes dominantes desses países dominados pelo imperialismo eram extremamente frágeis. Diferentemente dos países centrais, onde o processo de Revoluções Burguesas havia constituído nações soberanas e mercados nacionais, tais classes dominantes aceitavam o papel de “sócias-menores” do imperialismo. Ao mesmo tempo, tinham um profundo pavor de transformações democráticas, pois temiam a revolta dos trabalhadores e camponeses explorados.

É justamente nesse contexto que Trotsky, em 1905, formulou a idéia da Revolução Permanente. Naquele ano, a Rússia passava por uma situação revolucionária com greves gerais, e a formação dos sovietes (conselhos populares). Tais fatos fizeram Trotsky formular a idéia de que “o dia e a hora em que o poder deve passar para as mãos da classe operária não dependem diretamente do nível das forças produtivas. (…) O proletariado pode chegar ao poder, num país economicamente atrasado, antes de um país avançado do ponto de vista capitalista. Julgar que a ditadura do proletariado dependa automaticamente das forças técnicas e dos recursos de um país significa repetir um preconceito oriundo de um materialismo econômico por demais simplificado”. (Em “A Revolução Permanente”)

Ou seja, o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo na era imperialista impedia o sucesso de Revoluções Burguesas e Democráticas nos países atrasados como a Rússia de então. Mesmo as tarefas democráticas(como reforma agrária, por exemplo) só poderiam ser conquistadas com a tomada do poder pelo proletariado. Em outras palavras, a teoria da Revolução Permanente implicava que as revoluções nos países menos desenvolvidos podiam e tinham de ser Revoluções Proletárias.

Em fevereiro de 1917, irrompia uma nova Revolução na Rússia, que levaria à derrubada do czar e a formação de um Governo Provisório com partidos burgueses e partidos do movimento operário, como os mencheviques. Tal governo manteve a Rússia na guerra imperialista contra a Alemanha em favor da França, não mexeu nos privilégios da burguesia e dos latifundiários russos, ao mesmo tempo que o povo estava na miséria.

Em abril de 1917, Lênin formularia as famosas “teses de abril”, que coincidiam com as teses da Revolução Permanente de Trotsky. Se apoiando nos sovietes que ressurgiam com toda força, Lênin defendia que a Revolução que se iniciava só poderia ser concluída pela tomada do poder pelos trabalhadores, e a transformação da revolução até então burguesa em revolução socialista.

Os bolcheviques, com Lênin e Trotsky à frente, souberam habilmente ganhar a confiança dos operários. Na medida em que os mencheviques e outras organizações que tinham influência entre os operários se negavam a romper com a burguesia, e mantinham as massas na guerra e na miséria, os operários passaram a abandonar suas lideranças e se aproximar dos bolcheviques.

A famosa fórmula “Pão, Paz e Terra” dos bolcheviques possibilitou a aliança com os camponeses (maioria da população russa), e forjar as condições da Insurreição e tomada de poder pelos sovietes em outubro que consolidaria o primeiro Estado Operário da história.

Legado de Outubro
Lênin e Trotsky eram conscientes de que a Revolução só poderia ser plenamente exitosa se ela se espelhasse internacionalmente, em especial nas potências avançadas, pois sabiam que a Rússia isolada sofreria as mais intensas pressões políticas e econômicas.

Infelizmente, a traição da social democracia impediria a vitória da Revolução Alemã em 1919, o que certamente mudaria a conjuntura mundial a favor dos trabalhadores.

A recém formada URSS atravessaria uma sangrenta guerra civil contra 10 países imperialistas. Mesmo vitoriosa, a URSS sairia destruída da guerra. Grande parte das forças produtivas foram destruídas. Milhares de quadros revolucionários pereceram nos campos de batalha.

Foi justamente nesse contexto que foi possível o desenvolvimento de uma burocracia, capitaneada por Stalin, que passa a comandar o Partido Comunista. Destituindo os sovietes do poder político e econômico, expurgando e matando os velhos bolcheviques, tal burocracia viria a se tornar numa força contra-revolucionária em escala internacional. A absurda teoria do “socialismo num país só” de Stálin, na prática servia para esconder os privilégios e a capitulação da burocracia frente ao imperialismo. Trotsky, escrevia em já em 1936 no livro a Revolução Traída, que se os trabalhadores não retomassem o seu poder contra a burocracia, seria extremamente factível uma restauração capitalista na URSS, como de fato ocorreria em 1989-1990.

Todavia, a despeito do stalinismo, o legado de outubro só pode ser enaltecido pelos socialistas!

Além do fato de que os povos da URSS, outrora analfabetos e miseráveis, passassem a desfrutar das conquistas da Revolução e da propriedade estatal planificada(educação, saúde, moradia, estabilidade no emprego, etc…), a burguesia de outros países, assustada, foi obrigada a realizar concessões aos trabalhadores em todo mundo. Ao mesmo tempo, a Revolução inspiraria a luta pela libertação de várias colônias na Ásia e África.
Em 1989-90, quando do fim da URSS e o início da restauração capitalista em todo o Leste Europeu, os capitalistas se regojizavam da vitória do capitalismo. Buscaram imputar ao socialismo e ao marxismo os erros e traições de Stalin e seus sucessores.

Quase 20 anos depois, ao contrário do que pregavam, o capitalismo continua acarretando em guerras, miséria e privações para os povos de todo o mundo. A crise financeira atual é mais uma mostra que o regime da propriedade privada dos meios de produção está caduco.

Os trabalhadores continuam e continuarão lutando. O mais recente exemplo é a greve geral na GM, no coração do imperialismo. Na Venezuela, um processo revolucionário se aprofunda, e as idéias socialistas voltam a ganhar força em inúmeros trabalhadores e jovens em vários cantos do mundo.

Para nós marxistas, que acreditamos que a luta de classes é o motor da história, A Revolução de Outubros não está morta. Seu exemplo e seu legado permanecem vivos e atuais. Outros outubros virão!

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