Em 2010 os marxistas lembram dois fatos que mudaram o mundo. A grande revolução Russa faz 93 anos em outubro e em agosto completaram-se os 70 anos do assassinato de Lev Davidovitch Bronstein, Leon Trotsky.
A Rússia insurreta e revolucionária de 1917 provou à todo mundo que era e é possível construir uma nova sociedade sem explorados e sem exploradores, influenciou milhões de trabalhadores em vários países, abalou os alicerces do capital. Mas depois foi golpeada e traída por Stalin e sua camarilha, que se aproveitando do isolamento da revolução e da destruição provocada pela longa guerra civil que enfrentou ao mesmo tempo 17 exércitos, tomou de assalto o partido, amordaçou e usurpou o poder dos conselhos operários, para fazer retroceder a história. Com sua concepção de socialismo em um só país, Stalin e a camarilha pavimentaram o caminho para a proliferação da burocracia, para anos mais tarde, conforme previsto por Trotsky, se desse a restauração do capitalismo.
Trotsky, o grande revolucionário, isolado depois da morte de Lenin, perseguido e banido, vai da Turquia à Noruega, da Noruega ao México, e depois de uma batalha gigantesca, remando contra a corrente, ergue os pilares da IV Internacional para dar continuidade e não fosse rompido o fio da história que ata até hoje milhares de ativistas aos métodos e programa que propiciaram a consagração da maior revolução de toda a história da humanidade. Depois, em agosto de 1940 foi assassinado pelas mãos de um agente da GPU de Stalin.
É comum, hoje em dia, pela época do aniversário da revolução Russa, lermos odes e mais odes à revolução na chamada imprensa de esquerda. Na primeira esquina, muitos de seus escritores jogam no lixo todos os seus grandes e pequenos ensinamentos. A burguesia, por seu turno, não se cansa de afirmar que o socialismo acabou, que está provada sua inviabilidade e que o reino da liberdade encontra-se no sagrado mausoléu da grande propriedade privada dos meios de produção. Os reformistas lembram-se da revolução e sentem até hoje calafrios na coluna. Já não dormem o sono tranquilo dos justos, o qual antes era permitido pelas migalhas que lhes eram atiradas das mesas do capital. As greves de massas que hoje varrem toda a Europa atormentam mais e mais aqueles que sempre estiveram à espera de uma nova sociedade que, lenta e seguramente viria com o desenvolvimento natural e pleno do capitalismo, o imperialismo hoje colapsado.
Os ensinamentos de 17
Trotsky, em seu livro “Historia da Revolução Russa” dizia: “Nos primeiros meses de 1917 reinava na Rússia a dinastia dos Romanov. Oito meses depois estavam já no timão, os bolcheviques, um partido ignorado por quase todo mundo no inicio do ano e cujos chefes, no momento de subir ao poder, estavam sendo acusados de alta traição. A história não registra nenhuma mudança de direção tão radical, sobretudo se temos em conta que estamos diante de uma nação de cento e cinquenta milhões de habitantes. É evidente que os acontecimentos de 1917, seja qual for o juízo que mereçam, são dignos de serem investigados”.
Para muitos pseudos historiadores e críticos burgueses, a Revolução Russa foi um golpe de estado, outros a explicam como derivada de um ardil e astúcia de conspiradores que manipulavam as mentes e corações de todo um povo. Essas asneiras mitológicas beiram os limites da imbecilidade. Seus autores jamais se aventuram a explicar que os poderosos assensos das massas em fevereiro 1917 foram realizados com a mínima participação dos Bolcheviques. Jamais se aventuram a explicar como um partido pequeno em fevereiro, em outubro de 1917 pode jogar um papel insubstituível na organização da tomada do poder. Os charlatães nada explicam a esse respeito porque teriam de explicar que a Insurreição Armada só foi possível porque houve uma massiva participação das guarnições dos marinheiros, dos soldados, dos operários e camponeses. E isso nada tem que ver com golpes ou mentes matreiras de alguns dirigentes, mas sim com o salto qualitativo operado nas consciências das massas e com a sua ação direta.
Para que a revolução explodisse e o poder fosse tomado foi necessário que as massas realizassem antes vários ensaios, foi necessário que elas rompessem com seu conservadorismo originado pela anestesia frente à burguesia que mantinha a classe explorada e oprimida no mais alto grau de ignorância, atada aos pés das máquinas e com as mãos na lama das terras. Para que a revolução ocorresse foi necessário que os camponeses pobres, rompessem com tradições e mitos herdados dos senhores feudais, que os operários realizassem centenas de greves e experimentassem as suas direções e diante de suas traições, delas fossem se livrando.
Trotsky já em 1905 escrevia que a revolução começava em um país, desenvolver-se-ia e tomaria forma nesse país, mas que só seria vitoriosa e mantida se realizada em escala internacional, ou pelo menos nos principais países capitalistas.
O método e o partido
Lenin defendeu e construiu um edifício consciente e poderoso de homens e mulheres que voluntariamente se associavam não a um ou a outro líder, mas sim a um programa, aos métodos e princípios do marxismo, ao socialismo científico de Marx e Engels, a um partido onde Lenin mesmo ficou várias vezes em minoria, respirando as polemicas, mas preservando a democracia, o centralismo democrático, contra as baboseiras da democracia burguesa, ou da valorização do individual acima do coletivo, tão ao gosto dos anarquistas.
Durante longos anos as massas russas buscaram a via mais econômica, agarraram-se nas suas direções e partidos tradicionais que delas apenas exigiam paciência e compreensão, lhes explicando os perigos de assaltar aos céus, empurrando-as para a via da conciliação e da passividade. Mas ao fim e ao cabo, elas fizeram sua experiência e deram inicio à edificação da maior obra de toda a humanidade: a construção do comunismo.
O método dos bolcheviques tratou sempre de fazer com que as massas vivessem e rompesses suas ilusões nesses dirigentes e partidos tradicionais, ora exigindo destes partidos que colocassem para fora do governo os ministros burgueses, ora golpeando na direção de que tomassem o poder. Era necessário sempre realizar a mais ampla unidade das massas para que elas tomassem o poder, era necessário construir um partido de massas revolucionário.
Em fevereiro de 1917 os mencheviques e socialistas revolucionários eram ainda ampla maioria no movimento operário e camponês. Em abril Lenin, voltando da Europa onde esteve exilado, formulou a necessidade da ofensiva para tomar o poder (Teses de Abril), em junho defende um recuo para evitar o golpe sangrento da reação, em outubro de 1917 lança a palavra de ordem de todo poder ao Soviets. Sabiamente só fez isso quando a maioria dos conselhos passou para a revolução e abertamente rompeu com seus dirigentes e partidos tradicionais.
Uma nova batalha se abriu
Com a tomada do poder, inicia-se a difícil fase de reconstrução e planificação, sempre enfrentando a guerra civil e os exércitos dos mais poderosos países imperialistas. Sob estas duras condições, isolados, pois a revolução não fora vitoriosa na Europa, os bolcheviques se enfrentam com as novas camadas de dirigentes que jamais haviam lutado antes e que sob o comando do stalinismo vão introduzir as velhas teses do socialismo em só país e da colaboração de classes, teses combatidas por Lenin e Trotsky e mais tarde pela Oposição de Esquerda.
Depois da morte de Lenin, Trotsky é retirado de seus postos, preso e deportado, depois exilado, peregrina da Turquia até a Noruega e depois para o México. Organiza a oposição ao stalinismo e lança as bases para a construção da IV Internacional, até que, 23 anos depois da revolução, é assassinado no México há 70 anos.
Se há na história, 3 linhas que se cruzam, elas são as linhas da Revolução Russa, Lenin e Trotsky, mas antes de tudo existiu a poderosa ação de milhares de anônimos combatentes que se ergueram desde as trincheiras no front, nas fábricas e nos recantos mais remotos da velha Rússia, comprovando a velha máxima de Marx: “a emancipação da classe trabalhadora será obra dela mesma”.