Paquistão: apesar da repressão estatal, continuam os protestos pela libertação dos camaradas em Guilguite-Baltistão

Apesar da repressão estatal, protestos foram realizados por toda Guilguite-Baltistão e em várias cidades do Paquistão, exigindo a libertação dos líderes do Comitê de Ação Awami de Guilguite-Baltistão, alguns dos quais são membros do Partido Comunista Inqalabi (PCR).

Na sexta-feira (16) e no sábado (17), ocorreram diversos protestos em vários distritos de Guilguite-Baltistão, com a participação expressiva de trabalhadores e estudantes. Em resposta, as autoridades estaduais apresentaram novas acusações judiciais contra os manifestantes nas cidades de Guilguite e Hunza. O “crime” cometido foi o de organizar um protesto pacífico pela libertação de Ehsan Ali, presidente do Comitê de Ação Awami de Guilguite-Baltistão, e dos demais líderes detidos. A polícia também prendeu alguns ativistas por organizarem os protestos, e outros tiveram suas casas invadidas.

Em Danyor, cidade próxima a Guilguite, um protesto convocado pelo Comitê de Ação Awami reuniu muitos trabalhadores e jovens. Assim que a manifestação terminou, a polícia iniciou prisões e levou vários participantes para a cadeia. Protestos também ocorreram em Guilguite, Hunza, Nagar, Skardu e outras cidades de Guilguite-Baltistão. Em Guilguite, os coordenadores da campanha organizaram reuniões com diferentes sindicatos e organizações de trabalhadores para divulgar a mensagem. Eles planejam realizar mais encontros nos próximos dias, apesar das constantes ameaças de prisão e processos com acusações de terrorismo e sedição.

Há ainda relatos de que os camaradas detidos foram torturados enquanto estavam sob custódia policial. No Paquistão, é prática comum que interrogatórios feitos sob custódia envolvam tortura severa, com o objetivo de forçar o acusado a confessar em tribunal. Por isso, sempre que alguém é apresentado à Justiça para detenção, os advogados costumam defender com veemência o direito à fiança. No entanto, neste caso, todos os líderes presos tiveram esse direito básico negado. O tribunal fantoche de Guilguite autorizou a detenção pelo prazo máximo de duas semanas, sem sequer ouvir os argumentos da defesa. Os relatos de tortura contra jovens camaradas revelam que as autoridades estão determinadas a quebrar a vontade desses líderes. Mas não conseguirão.

As motivações da elite dominante em Guilguite e no Paquistão também ficam evidentes por meio de suas próprias declarações. Em um discurso na assembleia local, o ministro-chefe de Guilguite-Baltistão afirmou que pessoas como os líderes presos deveriam ser enforcadas. Declarações do ministro do Interior e de outros representantes do governo de Guilguite-Baltistão também os acusaram de sedição e exigiram medidas severas contra eles.

No entanto, isso também revela a frustração dessa elite dominante, que se sente ameaçada pela crescente onda do movimento de massas em Guilguite-Baltistão. Ao longo dos anos, essa elite tentou de tudo para reprimir o movimento de massas. E fracassou em todas as tentativas.

O Comitê de Ação Awami surgiu como uma iniciativa de luta contra a retirada dos subsídios à farinha de trigo, além de outras demandas da classe trabalhadora. O governo de Guilguite-Baltistão tem atacado esse movimento continuamente nos últimos dez anos. Contudo, sob a liderança do advogado Ehsan Ali, o movimento se espalhou por todos os distritos de Guilguite-Baltistão, organizando e mobilizando milhares de pessoas para conquistar seus direitos básicos, arrancando-os das mãos dos governantes locais e de seus superiores em Islamabad.

Em fevereiro do ano passado, apesar de todos os ataques da classe dominante, o movimento voltou a obter êxito: dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram em todo Guilguite-Baltistão para um protesto pacífico de grande sucesso em Guilguite, liderado pelo Comitê de Ação Awami, sob a condução de Ehsan Ali. Na ocasião, o Comitê apresentou a reivindicação por subsídio à farinha de trigo, além de diversas outras pautas, como emprego, saúde e educação para a população local, e recebeu enorme apoio.

Agora, uma nova fase do movimento está em curso. As prisões aconteceram após a convocação de uma reunião de massa (a Grande Jirga), marcada para os dias 24 e 25 de maio, com o objetivo de dar continuidade à luta pelos direitos prometidos, mas não cumpridos pelo governo, além de protestar contra o projeto de lei sobre os minerais que está sendo discutido na assembleia de Guilguite-Baltistão. Como nos anos anteriores, o governo tenta mais uma vez reprimir o movimento com todos os tipos de violência e intimidação. No entanto, o apoio das massas ao Comitê de Ação Awami continua crescendo. Cada vez mais pessoas se levantam em solidariedade aos líderes presos.

Também foram realizados protestos em várias cidades do Paquistão, organizados por estudantes de Guilguite-Baltistão que estudam nessas localidades, junto com os companheiros do PCR.

Em Karachi, a repressão policial contra os manifestantes em frente ao Karachi Press Club demonstra que a classe dominante do Paquistão está decidida a sufocar esse movimento e a silenciar todos aqueles que se manifestam em apoio aos líderes presos do Comitê de Ação Awami. Quando os estudantes de Guilguite-Baltistão começaram a se reunir em frente ao clube de imprensa no domingo, a polícia passou a prendê-los, levando cerca de 25 manifestantes para a delegacia mais próxima. No entanto, os demais participantes não se intimidaram e, junto com os companheiros do PCR de Karachi, protestaram diante da delegacia. Como resultado, os manifestantes detidos foram libertados e se juntaram à nova manifestação, entoando palavras de ordem pela libertação dos líderes do Comitê de Ação Awami e contra a repressão estatal.

Também houve protestos em Lahore, Quetta, Bahawalpur e outras cidades do Paquistão, com a participação de ativistas políticos, estudantes e trabalhadores, que ergueram palavras de ordem contra a repressão estatal e em defesa dos direitos democráticos básicos do povo. Estão ainda previstos protestos em diversas cidades da Caxemira Livre nos próximos dias, diante do forte apoio e solidariedade existente em relação aos líderes presos.

Este movimento não apenas evidenciou a ausência de direitos democráticos básicos em Guilguite-Baltistão, onde uma repressão severa é desencadeada simplesmente por reivindicar farinha de trigo barata, emprego, saúde e educação dignas, mas também expôs a opressão nacional exercida pelo Estado paquistanês sobre essa região.

Guilguite-Baltistão é um território disputado entre a Índia e o Paquistão, e a classe dominante de ambos os países mantém reivindicações de caráter imperialista sobre a região. O povo de Guilguite-Baltistão tem sofrido profundamente com essa rivalidade entre potências imperialistas, e a atual guerra entre Índia e Paquistão apenas agravou esse sofrimento.

De um lado, a classe dominante indiana oprime o povo da Caxemira ocupada, que abriga a maior concentração de forças de segurança do mundo e onde os direitos mais básicos são sistematicamente negados. Do outro, a classe dominante paquistanesa também oprime o povo da Caxemira e de Guilguite-Baltistão, promovendo a pilhagem e o saque sistemático de seus recursos naturais. Guilguite-Baltistão jamais foi formalmente integrado ao Estado do Paquistão, mas todos os recursos de seu território estão sendo entregues ao saque massivo das grandes empresas.

Essa espoliação não apenas priva a população local de seus escassos meios de subsistência e de suas terras, como também devasta o meio ambiente e agrava o colapso de um ecossistema cada vez mais frágil diante das mudanças climáticas. Ainda assim, isso não impediu que grandes corporações continuassem a saquear Guilguite-Baltistão e a obter lucros astronômicos, enquanto sua população permanece mergulhada na extrema pobreza. A localização estratégica da região a torna ainda mais vulnerável às guerras e às mobilizações militares promovidas por potências imperialistas rivais.

Em última instância, são as massas que sofrem e suportam o peso das guerras, das crises econômicas e das catástrofes ambientais. Mas, quando ousam levantar a voz contra a injustiça e a destruição de sua terra, enfrentam repressão brutal e são forçadas ao silêncio, em nome da defesa do interesse “nacional”.

O estado de guerra permanente na região torna extremamente difícil para a população organizar um movimento de massas em defesa de seus direitos. A classe dominante também se vale das divisões nacionais e religiosas internas para incitar a violência, dividir o povo e manter seu controle autoritário. É por isso que o surgimento do Comitê de Ação Awami e o movimento de massas que se formou ao seu redor representam uma ameaça real para a classe dominante do Paquistão.

O único caminho para a emancipação do povo de Guilguite-Baltistão, e de toda a região, é enfrentar a raiz de todos esses problemas: o sistema capitalista. O PCR, em Guilguite-Baltistão e em todo o Paquistão, está apresentando esse programa e construindo forças para essa causa. Por isso também somos alvo de ameaças. O PCR reviveu a tradição do Primeiro de Maio em Guilguite e, neste ano, como nos anteriores, realizou um comício e protesto no centro da cidade em 1º de maio, com trabalhadores e estudantes demonstrando seu fervor revolucionário.

Em 2023, camaradas do PCR também lideraram um movimento estudantil na Universidade Karakoram, principal universidade da região, que reúne milhares de estudantes. A mobilização contra a proposta de aumento das mensalidades teve uma resposta expressiva, forçando a direção da universidade a ceder às reivindicações estudantis, embora, inicialmente, muitos líderes tenham sido expulsos e alvo de medidas severas.

Da mesma forma, em Hunza e outras localidades, os camaradas do PCR participaram de diversos movimentos e protestos de massas, exercendo papel de liderança em muitos deles. Camaradas do PCR também organizaram e lideraram mobilizações de jovens médicos e trabalhadores da saúde em Guilguite-Baltistão, forçando o governo a aceitar todas as suas reivindicações.

No mês passado, eclodiu um movimento no distrito de Diamer, com milhares de pessoas afetadas pela construção de uma enorme barragem protestando por indenizações. O camarada Ehsan Ali foi convidado como orador principal do comício e declarou apoio aos manifestantes em nome do Comitê de Ação Awami e do PCR. Posteriormente, o governo foi forçado a aceitar parte de suas reivindicações.

O PCR apresentou um programa claro, não apenas em defesa dos direitos básicos do povo, mas também pela luta contra a opressão nacional. Trata-se de um programa que unifica a classe trabalhadora e aponta para o enfrentamento do sistema capitalista, o verdadeiro responsável pela ruína das condições de vida do povo em Guilguite-Baltistão e em todo o Paquistão.

Uma revolução socialista bem-sucedida no Paquistão não apenas colocaria fim à devastação desta bela e rica região, como também rompería, de uma vez por todas, as correntes da opressão nacional. Uma federação socialista no subcontinente garantiria paz e prosperidade para toda a região e encerraria as guerras e os regimes brutais que oprimem os trabalhadores comuns e os ativistas políticos que se levantam contra a injustiça.

É por esse objetivo que os líderes do PCR em Guilguite-Baltistão foram presos pela classe dominante do Paquistão. É por esse objetivo que vale a pena viver e morrer.

Apesar da repressão estatal, continuaremos a lutar para alcançá-lo. Construiremos as forças do comunismo revolucionário. Levaremos esta mensagem aos trabalhadores e revolucionários de Guilguite-Baltistão e de todo o Paquistão. Também seguiremos com nossa campanha de protesto pela libertação de nossos camaradas.

Exigimos a libertação imediata de todos os líderes presos do Comitê de Ação Awami e do PCR.

Exigimos, igualmente, o arquivamento imediato de todos os processos criminais abertos contra eles e o fim da perseguição ao Comitê de Ação Awami.

Exigimos que o nome de Ehsan Ali seja imediatamente removido da “Quarta Lista” de terroristas.

Todas as reivindicações do Comitê de Ação Awami devem ser aceitas sem demora, e quaisquer entraves à sua implementação devem ser eliminados.

Também expressamos nosso profundo agradecimento aos camaradas da Internacional Comunista Revolucionária em diversos países, que realizaram protestos e permaneceram ao lado de seus irmãos e irmãs nestes tempos difíceis. Acreditamos que esta campanha será vitoriosa e que, por meio de uma agitação persistente, todos os camaradas e a liderança do Comitê de Ação Awami serão libertados. Acreditamos ainda que esta campanha encorajará e fortalecerá as forças do comunismo revolucionário em Guilguite-Baltistão e em todo o Paquistão.

Apesar de todas as dificuldades e da repressão, os camaradas aqui presentes estão determinados a continuar a luta contra o capitalismo, para que possamos realizar uma revolução socialista vitoriosa ainda em nossa vida.

  • Viva a Internacional Comunista Revolucionária!
  • Viva o comunismo!
  • Trabalhadores do mundo, uni-vos!