Com a crise desatada pela pandemia de Covid-19, as máscaras burguesas caem uma a uma e os trabalhadores de todo o mundo podem ver o que realmente pensa essa classe e quais são as suas prioridades.
No Brasil, diversos representantes do empresariado passaram a fazer pressão contra as medidas de isolamento impostas pelos governantes dos estados a fim de tentar mitigar o colapso do sistema de saúde causado pelo novo coronavírus e as mortes que decorrem disso.
Além do próprio Jair Bolsonaro, que minimiza a doença e ameaça devolver o país à “normalidade” através de uma canetada, o presidente do Banco do Brasil (BB) também se destaca em suas falas que ignoram os riscos à vida dos trabalhadores e colocam em primeiro lugar os lucros dos capitalistas.
Em uma mensagem publicada em grupo de WhatsApp, Rubem Novaes disse: “Muita bobagem é feita e dita, inclusive por economistas, por julgarem que a vida tem valor infinito. O vírus tem que ser balanceado com a atividade econômica“.
É claro que quando diz que a vida não tem valor infinito, Novaes não está falando de sua própria ou de outros representantes da burguesia. A vida barata à qual ele se refere é a dos trabalhadores, que embora exerçam todas as funções vitais para a sociedade, são tratados como força de trabalho dispensável e facilmente substituível pelos seus patrões.
Questionado sobre a mensagem, Novaes confirmou o texto e disse que a “depressão econômica também mata muita gente, principalmente entre os mais pobres“. Se não conhecêssemos a verdadeira natureza de classe do que defende o presidente do BB, poderíamos até nos comover com sua benevolência.
A verdade é que ele foi indicado por Paulo Guedes para auxiliar na política de privatização e ataques à classe trabalhadora através das “reformas” e da austeridade. Assim como Guedes, é um Chicago boy radical e declarou diversas vezes sua intenção de fechar agências e privatizar ativos do Banco do Brasil.
Em outra mensagem, Novaes disse ainda que o quanto antes a população for infectada melhor, pois assim os trabalhadores voltam à ativa e a “economia” está salva. Na verdade, o que os capitalistas querem salvar não é uma abstração chamada “economia”, mas sim os seus lucros concretos, que estão seriamente ameaçados pelo isolamento.
Além disso a Covid-19 é uma doença que em pouco tempo chega a internar em UTI 15% dos casos confirmados. Defender que a maioria da população seja infectada o quanto antes é condenar à morte milhões de trabalhadores que só poderão recorrer a um sistema de saúde em colapso, enquanto os ricos têm os melhores hospitais e melhores médicos à sua disposição.
Em entrevista, o presidente do BB afirmou ainda que “governadores e prefeitos impedem a atividade econômica e oferecem esmolas, com o dinheiro alheio, em troca“.
Os marxistas defendem a manutenção do salário integral dos trabalhadores durante a paralisação provocada pela pandemia e uma renda capaz de oferecer dignidade aos trabalhadores informais e autônomos, não apenas um “benefício” mínimo.
No entanto, sabemos que quando usa a palavra “esmola”, Rubem Novaes entrega a verdadeira intenção dos capitalistas, que é o de fazer os trabalhadores escolherem entre manter os seus salários a despeito dos riscos para sua saúde ou passar fome em casa para evitar o vírus.
Porém, em um ato falho, o próprio Novaes expõe a farsa do liberalismo econômico. Ao dizer que “crises instigam os piores instintos intervencionistas e estatizantes”, o que ele demonstra é que o capitalismo, apesar de se dizer defensor do livre mercado e da livre concorrência, tem no Estado o seu bote salva-vidas sempre que se vê afundando.
A pandemia está apenas deixando às claras os que marxistas dizem há mais de um século: a emancipação da classe trabalhadora só pode vir pelas mãos dos próprios trabalhadores. Não devemos esperar qualquer favor das classes dominantes, as mesmas que nos oprimem e nos fazem trabalhar para produzir lucro em troca de um salário que mal dá para as necessidades básicas.
É preciso derrubar este governo e todo o sistema podre que ele represente. É preciso lutar por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais.
Fora Bolsonaro!