Ministros e líderes partidários trabalham para incluir ainda mais empresas estatais no programa de privatização do governo federal. Enquanto isso Bolsonaro distrai a imprensa e a sociedade como um trapaceiro que chama a atenção para um lugar enquanto retira a carteira de sua vítima. O presidente intervém diretamente no comando da Polícia Federal e da Receita Federal (sob a suspeita de fazer isso para proteger seus entes queridos e os negócios da família). Afirma, sem nenhuma prova, evidência empírica ou base argumentativa, que os cubanos que estavam no Brasil pelo Programa Mais Médicos faziam doutrinação comunista e montavam células guerrilheiras. Declara que possivelmente haveria ONGs ambientais por trás da onda de queimadas na Amazônia. Sem falar que orienta a população a comer menos e fazer cocô dia sim, dia não, para preservar o meio ambiente. Por trás de toda essa retórica de distração, há um programa de classe bem definido sendo colocado em prática.
No dia 20 de agosto, o governo anunciou sua intenção de privatizar mais nove estatais, que se somam à outras oito empresas já incluídas na lista pelo governo Temer. Entre elas: Eletrobrás, Correios, Telebrás, Casa da Moeda, Ceagesp, Ceasaminas, ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias), Porto de Santos, Porto de São Sebastião, Porto do Espírito Santo, CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre). Também estão incluídas empresas de tecnologia e processamento de dados, como a Dataprev, Serpro e Ceitec.
O anúncio foi feito pelo ministro da Casa Civil, Onix Lorenzoni, pelo Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e pelo Secretário Especial da Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar. Horas antes, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, e o Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, reuniram-se com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia e líderes partidários para firmar o compromisso de acelerar a privatização da Eletrobrás.
Além disso, o governo autorizou a equipe econômica a vender até R$ 20,78 milhões de ações do Banco do Brasil: quantia que irá tirar o Tesouro Nacional da posição de acionista controlador da empresa! No dia anterior, em encontro com empresários organizado pelo jornal Valor, Paulo Guedes adiantou: “As coisas estão acontecendo devagarzinho, vai uma BR Distribuidora aqui, daqui a pouco vem uma Eletrobrás, uma Telebrás, daqui a pouco vem também os Correios, está tudo na lista. Amanhã deve ser anunciado umas 17 empresas só para completar o ano. Ano que vem tem mais”.
Resumindo, enquanto Bolsonaro fala suas bobagens e absurdos por aí, seu governo age para aprofundar a entrega do país ao capital financeiro internacional. Na verdade, essa é a essência do governo Bolsonaro! Seu desprezo pelo conhecimento científico, pela mídia, pelas malfadadas instituições do Estado Democrático de Direito serve a um Deus maior, o capital! O governo Bolsonaro não quer intermediários ou negociadores para atrapalhar seu caminho, não quer dar explicações ou justificativas, quer entregar diretamente no altar do capitalismo todas as riquezas que o país tem a oferecer, com a fé cega de que esses sacrifícios deixarão o capital satisfeito e assim a paz e a prosperidade triunfarão.
Porém, o estabelecimento completo de um regime bonapartista como esse e a aplicação total desse programa esbarram em um obstáculo poderoso: a classe trabalhadora e a juventude organizada. O governo precisa transpor esse obstáculo para atingir seus objetivos e, até o momento, tem conseguido desferir seus golpes sem muita resistência, pois as atuais lideranças de esquerda estão muito mais preocupadas em defender um regime decadente, como a democracia burguesa no Brasil, do que lutar pelos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora.
A política traidora da direção do PT, PCdoB e PSOL engessa as principais organizações dos trabalhadores e procura desviar a luta de classes para o terreno institucional, eleitoral, e assim salvar a democracia, em contraposição ao suposto fascismo de Bolsonaro. A realidade, no entanto, não se encaixa nessa dicotomia. As massas não estão se movendo na defesa da democracia ou por “Lula Livre” porque enxergam a democracia como o regime no qual os políticos as enganam para se enriquecerem: e têm razão nisso! E sabem que Lula não fez nada para mudar esse jogo em favor dos trabalhadores. Por isso, resolveram fazer a experiência com Bolsonaro, mas a maioria já percebeu que esse governo não vai pra frente com seus interesses enquanto explorados: o desemprego continua crescendo, os direitos sociais e trabalhistas estão sendo tirados dia após dia e o futuro é angustiante.
Na falta de uma alternativa melhor, as massas podem até se utilizar eleitoralmente de Lula e o PT novamente no futuro, mas agora, no presente, o certo é que não dá para esperar nem mais um minuto: é preciso por pra fora Bolsonaro! A classe trabalhadora não precisa da permissão de ninguém, não precisa esperar anos para ver o que vai acontecer, sendo que suas conquistas estão, nesse momento, sob fortes ameaças e ataques. Não pode ficar à mercê de um pretenso salvador da pátria, seja de direita ou de “esquerda” e vai aprender isso, mais cedo do que se possa imaginar. Vai aprender que sua força reside em seu número e em sua capacidade de parar a produção, a distribuição e o comércio. Já a vanguarda revolucionária precisa agir com determinação e paciência para organizar os trabalhadores e a juventude sob um novo eixo de independência de classe e se preparar para quando esse momento chegar.