Em 03/01/2011 encerrou-se o 2º mandato do Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, que dirigiu o estado mais rico e populoso dos EUA entre 2003 e 2010. Agora, anuncia o lançamento dos quadrinhos e série animada para TV do herói ‘The Governator’.
A arte imita a vida
Como disse o estudante de jornalismo, João Diego Leite, em seu artigo Death Note: matar para mudar?, “os artistas são influenciados pela ideologia dominante como qualquer outro trabalhador ou político”.
Arnold Schwarzenegger construiu sua carreira como fisiculturista e ator de cinema com destaque para os papéis cujo padrão era essencialmente o típico brutamontes que resolve tudo na porrada, explode tudo o que puder e não dispensa o uso de armamento pesado para exterminar fisicamente os oponentes.
Esse clichê pode ser observado em filmes como os da saga Exterminador do Futuro, True Lies, Comando para Matar, Queima de Arquivo, entre outros. Este formato de personagem, muito comum nos enlatados filmes “made ins USA” dos fins dos anos 70 até início dos anos 90, correspondia ao ideal de herói que a conservadora industria cultural hollywoodiana apregoava ao mundo através de seus filmes, isto é, o justiceiro defensor da “ordem” imbuído dos mais nobres valores da sociedade que ele defendia contra os terroristas, bárbaros, bandidos, países inimigos e tudo o mais que se opusesse ao “sonho americano”.
Em tais filmes, todo equipamento de ponta das forças armadas norte americanas eram apresentados e usados com maestria pelo herói, com destaque para a granada de mão MK2, a pistola Colt 1911 e o preferido de todos eles, de Rambo a Bradock, o poderoso fuzil automático M-16. Enquanto isso, o fuzil AK-47, de fabricação soviética, era a arma dos bandidos.
A política não é tão simples quanto um filme!
Arnold assumiu o mandato pelo Partido Republicano em 2003 ao cargo de governador do estado da Califórnia. Este rico e populoso Estado corresponde a 13% do PIB norte-americano. Toda essa riqueza produzida pela Califórnia, entretanto não é distribuída socialmente entre sua população, o que tem gerado graves problemas sociais desde o início da década dos anos 2000, já percebidas, entretanto, nos anos 90.
Schwarzenegger tinha como principais problemas a serem enfrentados a crise de abastecimento de energia e a crise do sistema prisional. Ou seja, um problema que se liga ao setor produtivo e outro diretamente ligado ao aparato repressivo.
Cortes em setores vitais como a Educação também foram praticados pelo governador. Em resposta a tais medidas, estudantes se lançaram em protestos e ocupações de Universidades juntamente com professores, embora a repressão, com o uso inclusive da SWAT, tenham desmobilizado as manifestações e feito refluir o movimento.
Por falar em repressão, vale lembrar que Schwarzenegger negou o pedido internacional de clemência enviado por celebridades, entre elas o companheiro de profissão e ativista anti-racismo, o ator Danny Glover, para que não executassem o escritor Stanley Tookie Willians, condenado por crimes ligados a gangues de rua. Schwarzenegger não só negou o pedido como manteve a pena de morte na Califórnia e também impediu a reforma no código penal do estado que tornava menos dura a legislação penal a reincidentes.
Arte a serviço do conservadorismo
Agora que o mandato acabou, o governador poderá fazer nos quadrinhos aquilo que não podia fazer na vida real. A HQ (história em quadrinhos) e a série animada de TV que serão lançadas ainda em 2011 em parceria com o dono da Marvel Comics, terá o nome de “The Governator”. Trata-se da junção de “governor” (governador em inglês) com “terminator” (exterminador em inglês), nome aprovado pelo próprio Schwarzenegger.
O enredo e papel desempenhado será o mesmo que Schwarzenegger praticou durante sua carreira: um herói que livrará o Estado de bandidos, terroristas, malfeitores, etc. De acordo com as informações dos produtores sobre esta obra podemos perceber claramente que a personagem “The Governator” agirá acima do aparato do Estado que ele dirigiu.
Conseqüentemente, podemos prever que seus métodos também não seguirão os mesmos métodos que o Estado utiliza no trato contra os “criminosos”. Ou seja, “The Governator” julgará os criminosos, terroristas e delinqüentes e a eles aplicará a pena sem um Tribunal.
Obviamente que os vilões propostos serão dos tipos mais incríveis, dentre os quais muitos robôs! O “Comic” basicamente mostrará um Estado débil e incapaz de defender-se das ameaças que se apresentarão, de forma que a existência do herói e todos os efeitos colaterais de suas ações serão aceitas, bem vistas e aclamadas pela população.
Não importa quantos carros serão destruídos, quantos prédios serão implodidos, quanta destruição será causada e quantas bombas explodam. Apenas uma coisa importa: esmagar de forma implacável os inimigos!
Assim veremos que a resposta que o herói dará à descomunal força, tecnologia e armas de seus adversários será… força, tecnologia e armas superiores às deles! Ao menos a pena de morte será garantida a todos os vilões, conforme atual legislação californiana.
Só não sabemos como “The Governator” agirá para enfrentar vilões como a pobreza, o arrocho salarial dos trabalhadores, a miséria, a falta de investimentos na educação, etc. Para as vítimas destes vilões, só resta um clamor quando o desemprego, a doença ou a fome lhes baterem a porta: “Oh, e agora? Quem poderá nos ajudar?”