Com o início da crise sanitária do coronavírus no Brasil, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ganhou os holofotes da mídia e arrancou elogios de praticamente todos os veículos de imprensa, de especialistas e até do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que chegou a declarar que “se há pessoa inamovível na República deve ser considerado o ministro Luiz Henrique Mandetta”.
Toda essa reação positiva parece ser estranha quando estamos tratando de um Ministério que até agora pediu para aqueles que sentirem os sintomas da Covid-19 que não busquem um posto médico, porque não serão testados a não ser que apresentem sintomas graves da doença. O próprio ministro estava expondo que não existem testes suficientes no Brasil para atender a demanda.
O mesmo ministério ignorou as consequências do isolamento apenas parcial da população — basta observar os exemplos da Itália e China para ver como é necessário o isolamento total para impedir a disseminação do vírus. Ou seja, as duas únicas ações que se mostraram eficazes até agora no combate ao novo coronavírus, testagem em massa e isolamento, não fazem parte das iniciativas do Ministério da Saúde. Então, por que os elogios?
O papel de Mandetta é de alguém que administra a saúde pública sucateada do Brasil e tenta amenizar ao máximo os impactos na imagem do governo diante do avanço da pandemia no país. Uma parte da burguesia o defende porque ele aparece como alguém minimamente sensato em uma situação em que as pessoas estão em pânico e não confiam no próprio presidente, como mostra pesquisa recente divulgada pelo Datafolha, em que Bolsonaro tem sua gestão da pandemia aprovada por 35% dos entrevistados, enquanto a de Mandetta é aprovada por 55%.
Essa parcela da burguesia que o apoia é defensora da unidade nacional, pois compreende que, em uma situação delicada como a que estamos vivendo, o pânico ou a ira das massas pode fazer com que a classe dominante perca o controle da situação.
Por isso que, enquanto Bolsonaro declara a todo o momento que há uma “histeria”, que se trata de um “resfriadinho”, no máximo uma “gripezinha”, Mandetta recebe elogios ao exibir na televisão as “ações” de combate ao vírus. Até quando ele alerta que o SUS pode colapsar em abril, buscam ver o “lado positivo” e mostrar o ministro como alguém transparente — Luiz Henrique Mandetta e a imprensa só esqueceram de informar que os leitos e Unidades de Tratamento Intensivos (UTIs) já se encontravam lotados antes mesmo da chegada do vírus.
Ministro contra o presidente?
Com o estouro de uma nova crise mundial, evento que tem como catalisador a pandemia do coronavírus, o desespero para salvar os negócios da burguesia se converte em ataques cada vez mais brutais aos trabalhadores. Se, no início da semana, Bolsonaro buscou realizar esse ataque por meio da Medida Provisória 927, após o recuo forçado, o presidente se lançou ao ataque à quarentena que os estados estão organizando, exigindo o retorno da vida normal, retomada do transporte público, reabertura do comércio etc. em rede nacional na terça-feira, 24.
Durante e depois da declaração de Bolsonaro, panelaços novamente tomaram conta das principais cidades brasileiras. O anúncio do presidente veio no sentido contrário do que defendia o Ministério da Saúde até o momento, e a burguesia, alarmada mais uma vez, recorreu ao ministro para saber se ele manteria suas posições anteriores ou se defenderia Bolsonaro. A posição de Mandetta foi anunciada na noite de ontem (25): ele está com o chefe do Executivo e ponto.
Mandetta defende a declaração de Bolsonaro, mas não é como o seu chefe. Ele vai continuar com seu jogo de transparecer o quadro técnico que o momento supostamente exige. Enquanto a classe dominante se preocupa com a imagem do ministro da Saúde, o número de infectados aumenta dia após dia, assim como o número de mortos. O medo e a incerteza permanecem para aqueles que são obrigados a seguir a rotina de trabalhar todos os dias, sem condições de higiene nas fábricas, que enfrentam ônibus lotados porque as empresas de transporte diminuíram as frotas.
O governo Bolsonaro, o que inclui todos os seus ministros, é um governo capacho dos interesses do imperialismo norte-americano. Não podemos esperar qualquer ação concreta de combate ao coronavírus, ao desemprego ou a qualquer outro problema que aflige os trabalhadores. Todas as iniciativas de contenção da crise sanitária apresentadas até o momento só pioram a vida da maioria da população. A única saída para os trabalhadores é a luta pelo “Fora Bolsonaro”, palavra de ordem que se escuta nos panelaços que tomam o país, e acrescentamos: por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais.