Mesmo sem as centrais sindicais chamarem para a paralisação, no dia 30 de Março milhares de trabalhadores saíram às ruas em todo o Brasil.
A princípio houve um acordo entre as centrais sindicais durante o Fórum Social Mundial de Belém em Janeiro, de se fazer um ato unificado em 1º de Abril. Mas, para as cúpulas dessas centrais, a idéia de ato unificado não parece ser muito boa. Muitos trabalhadores mobilizados e unidos por uma mesma causa pode ser perigoso para os burocratas. Pois nestes atos unificados salta mais aos olhos que não há muitas diferenças entre os dirigentes desta ou daquela central e eles podem perder o controle sobre a base.
Então, cerca de duas semanas antes do ato, a direção da CUT decide mudar a data para 27 de Março. A Conlutas então manteve o dia 1º de Abril. Mas, a pressão da base a que os dirigentes sindicais mais intermediários estão submetidos é tão grande para que essas centrais mobilizem os trabalhadores contra os efeitos da crise, que tanto a direção da CUT como a da Conlutas se viram obrigadas a mudar a data e unificar o ato, então, para o dia 30 de Março.
A divisão da classe
Quando a classe trabalhadora se sente atacada ela busca se unir contra os patrões. E isso é um pesadelo para os burocratas pelegos e sectários aparelhistas. O ato de 30 de Março mexeu especificamente com a base da Conlutas. Pois, como a iniciativa divisionista – de romper o ato unificado de 1º de Abril – partiu da cúpula da CUT, a base da Conlutas pôde ver através de outro ângulo as conseqüências da política divisionista que a direção de sua própria central impulsiona. De repente as direções da CUT e da Conlutas se mostraram tão parecidas! Com o ato unificado em risco, todos os trabalhadores mais interados puderam notar que a divisão não serve à nossa luta.
Outro aspecto é que, se na década de 90 em um ato como este haveria muitos trabalhadores com as bandeiras vermelhas da CUT na mão, ficou evidente neste ato que, com as divisões efetuadas na CUT – que originaram Conlutas, Intersindical, CTB – hoje a Força Sindical aparece mais com suas bandeiras cor de laranja enquanto o chamado sindicalismo classista aparece rachado. A nossa divisão – mesmo em nome da luta contra os pelegos – só fortalece os pelegos.
Quantas lições poderiam os sectários sacar daí! Mas infelizmente não aprendem assim, tão rápido. A própria direção da Conlutas orientou os sindicatos em sua base a participar dos atos unificados “apenas onde tivesse efetivo para se diferenciar claramente da CUT”. Em outras cidades orientou organizar atos no mesmo dia, mas em locais separados!
Será que não enxergam que só a luta de massas pode colocar a burguesia na parede? E luta de massas não se faz com atos separados, mas com atos unificados! Uma greve geral por tempo indeterminado no Brasil terá que ter um Comando Nacional de Greve Unificado e não vários comandos nacionais, um da CUT, outro da Conlutas, outro da Intersindical, etc. Estamos em guerra contra a burguesia. O time que estiver mais unido vence o time que estiver mais dividido! Não parece óbvio?
A força dos trabalhadores
Mesmo sem as centrais sindicais chamarem para a paralisação, no dia 30 de Março milhares de trabalhadores saíram às ruas em todo o Brasil. Só para citar algumas capitais, em Porto Alegre, cerca de 5 mil trabalhadores; em Recife foram cerca de mil trabalhadores; no Rio mais de 2 mil; em Fortaleza mil; em Belém cerca de 2 mil; em São Paulo cerca de 10 mil trabalhadores marcharam da Av. Paulista (em frente à sede da FIESP) até a BOVESPA no centro de São Paulo, durante quase 5 horas de manifestação ininterrupta.
Claro que ainda é pouco pro tamanho da classe trabalhadora brasileira, mas numa Segunda-Feira sem paralisar o trabalho, temos que entender que houve uma adesão importante. E isso ainda porque a crise chega atrasada no Brasil em relação aos outros países.
Além disso, é importante notar a radicalização das bandeiras. Enquanto a direção da Força Sindical busca impor um discurso que exige apenas “manter os níveis de emprego”, proliferam cartazes e faixas no corpo das manifestações por “Reestatização das Empresas Privatizadas”, “Estatização das Fábricas Ocupadas”, “Greve Geral na França aponta o caminho”, “Lula, baixe uma MP que proíba as demissões”, etc. E essas palavras de ordem ganham a simpatia inclusive dos trabalhadores na base de centrais pelegas, como a Força Sindical.
É disso que as cúpulas têm medo. Têm medo que as reivindicações mais avançadas dos trabalhadores virem uma epidemia, contagiando a base de todas as centrais e partidos, independente das cores da camisa, no caso de unificar atos como este. As cúpulas têm medo de perder o controle!
Nossa intervenção
Em Recife foi a intervenção dos nossos camaradas que levou o Fórum dos Trabalhadores da Indústria de Pernambuco a fazer faixas exigindo a reestatização das empresas privatizadas (Vale, Embraer, CSN) e a estatização das fábricas ocupadas pelos trabalhadores.
Em Florianópolis, nossos camaradas que ocupam posições de direção na CUT estadual estiveram à frente do ato e explicaram no carro de som a centenas de trabalhadores, os problemas trazidos pela coalizão do Governo Lula com a burguesia no momento de enfrentar as conseqüências da crise causada pela própria burguesia.
Em São Paulo uma coluna organizada com cerca de 100 militantes com delegações do Sindicato dos Vidreiros do Estado de SP, da Fábrica Ocupada Flaskô, de Professores, de trabalhadores da Cultura e de estudantes secundaristas e universitários, levantou a bandeira da luta pelo socialismo.
Como avançar?
Na Europa, mobilizações de massa ocorreram com dezenas de milhares na Alemanha, Inglaterra, Grécia, etc. E na França, duas greves gerais de um dia já pararam o país em 2009, levando cerca de 3 milhões de trabalhadores às ruas!
Mas, devemos entender que isto ocorre com intensidade e ritmo diferentes em cada país, de acordo com as peculiaridades nacionais. Na Europa, por exemplo, a crise chegou meses antes do que no Brasil e suas conseqüências já têm sido mais graves e têm sido sentidas muito mais pelos trabalhadores europeus do que pelos trabalhadores brasileiros.
O nível de qualidade de vida dos trabalhadores europeus é bastante superior ao nível dos brasileiros e, quanto mais alto estiver, maior será o tombo. Por isso se mexem mais que aqui e mais rápido.
Já na França, onde as maiores manifestações eclodiram, há um governo burguês ultra-reacionário desde 2002! Ao contrário do Brasil que teve Lula eleito pelos trabalhadores em 2002 e que ainda conta com ilusões de boa parte da classe trabalhadora (basta ver seus índices de aprovação e popularidade). Como se ainda não bastasse, a principal central sindical do país, a CUT, tem toda sua direção executiva comprometida até a medula com a defesa do governo Lula e suas medidas.
Entretanto, as ilusões em Lula e seu controle sobre a direção do movimento sindical não poderão sustentar esta situação de relativa calmaria para sempre. Sinais de que a crise começa a desgastar Lula já apareceram. E a adesão de milhares de trabalhadores no dia 30 de Março, obrigando as cúpulas a unificarem os atos, foi um primeiro aviso dos trabalhadores ao governo, à burguesia e aos seus agentes infiltrados no movimento operário. Foi um aviso de que temos forças para mobilizar e lutar.
Lula agora diz que a “marolinha” virou “tempestade” e, ao contrário do que tenta mostrar o governo, o desemprego continua aumentando.
As montadoras continuam propondo PDV (Plano de Demissões Voluntárias). Além das demissões na Embraer (4.270), Vale (1.300), CSN (1.200), Flextronic (2.200), Santander (400), LG (400) e muitas outras, ainda houve o Frigorífico Independência – um dos maiores exportadores de carne do Brasil – que fechou todas as suas unidades!
Os sindicatos estão se deparando com centenas e centenas de homologações todos os dias!
O próximo passo seria começar uma campanha ampla no movimento sindical, dirigida a Lula para que baixe uma MP (Medida Provisória) que proíba as empresas de demitirem. Apresentada pelo camarada Faustão na reunião da Direção da CUT de Dezembro do ano passado, essa proposta já ganhou a simpatia e apoio de outros setores que começam a enviar cartas para o Lula (como o Zé Maria, da Conlutas) ou impulsionar abaixo-assinados em defesa desta proposta (ver mais na edição nº 20 do Jornal Luta de Classes).
Em cada assembléia e congresso sindical, aprovar esta proposta como exigência dirigida a Lula pode preparar as bases para uma greve geral no Brasil e levar milhões às ruas. Essa é a nossa tarefa!