A crise se aprofunda no Brasil. Aumenta o desemprego, a inflação e a retirada de direitos. “Bondades” aos capitalistas, ataques aos trabalhadores.
A realidade atual deixa evidente que a crise econômica se aprofunda no Brasil e atinge cada vez mais diretamente os trabalhadores.
Somente no mês de abril desse ano, foram fechados 97.828 postos de trabalho, 53.850 só na indústria. Já em maio, 115.999 postos de trabalho deixaram de existir, 60.989 na indústria. Nos últimos 12 meses, a redução total de vagas no mercado de trabalho chega a 452.800.
Alguns exemplos concretos vindos da região do ABC paulista: em maio, a fábrica da Mercedes em São Bernardo do Campo demitiu 500 trabalhadores. Em junho, a mesma unidade colocou em férias coletivas 7 mil trabalhadores. Na GM de São Caetano do Sul, 5,5 mil trabalhadores também entraram em férias coletivas em junho. Na Volks de São Bernardo, 800 trabalhadores foram demitidos via Programa de Demissão Voluntária (PDV) em maio.
Marxismo e as crises
Marx e Engels já explicaram, em 1848, no Manifesto Comunista, o que eram as crises do capitalismo e as formas da burguesia de superá-las:
Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Nas crises irrompe uma epidemia social que teria parecido um paradoxo a todas as épocas anteriores — a epidemia da superprodução. A sociedade vê-se de repente reconduzida a um estado de momentânea barbárie; dir-se-ia que a fome ou uma guerra de aniquilação lhe cortaram todos os meios de subsistência; a indústria, o comércio, parecem aniquilados. E por quê? Porque ela possui demasiada civilização, demasiados meios de vida, demasiada indústria, demasiado comércio. (…) De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? Por um lado, pela aniquilação forçada de uma massa de forças produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais profunda de antigos mercados. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.
Estas linhas, escritas há mais de 150 anos, permanecem absolutamente atuais e iluminam a compreensão da atual situação, no Brasil e no mundo.
As “bondades” e “maldades” do governo
O governo Lula, seguindo a receita de outros países, buscou conter a primeira onda da crise que explodiu em 2008 utilizando, entre outras artimanhas, da ampliação do crédito para pessoas físicas e jurídicas. Ou seja, buscou com isso aumentar o consumo, a “exploração mais profunda de antigos mercados”, com o endividamento generalizado do povo. Mas isso, como sabemos, tem um limite. Hoje, cerca de 60% das famílias estão endividadas e a inadimplência cresce.
Outra medida foi o dinheiro público revertido para salvar as empresas privadas, com desonerações de impostos, desonerações na folha de pagamento, empréstimos a juros generosos, etc. Bondades feitas com o dinheiro proveniente dos impostos pagos majoritariamente pela classe trabalhadora. O caso é que essa bondade também tem um limite, o dinheiro do estado não é ilimitado e o governo não pode descobrir outro setor, os grandes bancos e especuladores internacionais, credores da dívida pública, que levam 45% do orçamento anual da união, com juros e amortizações de uma dívida já paga diversas vezes.
O governo escolheu se entregar ao mercado financeiro e isso fica evidente com os seguidos aumentos da taxa básica de juros (SELIC), que regula justamente os juros da dívida pública, que chegou a 13,75% com o sexto aumento consecutivo, fazendo a alegria dos especuladores.
O fato é que os recursos do governo para enfrentar a crise econômica, sem desatar uma crise política, tornam-se cada vez mais escassos. É o oxigênio dos reformistas que se esvai. Por isso, a popularidade do governo despenca e chega a 10% segundo o Datafolha.
Dilma prometeu uma coisa na campanha eleitoral e fez todo o contrário depois de eleita. Escalou Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e iniciou o chamado ajuste fiscal, cortando gastos sociais e aumentando a arrecadação, com o objetivo de elevar o superávit primário para o pagamento da dívida.
É parte desse plano as MPs 664 e 665, aprovadas no Congresso Nacional; o corte de verbas do orçamento para áreas como educação, saúde, moradia, etc.; o aumento da tarifa de energia elétrica; a nova onda de privatizações de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.
A Petrobras também é atacada. O governo coloca à venda ativos da empresa, incluindo usinas termelétricas, distribuidoras de gás e a Petrobras Distribuidora (dona da marca BR de postos de gasolina). Também é anunciado um corte de 40% nos investimentos da empresa até 2019, o que provocará milhares de demissões. É o caminho para completar a privatização da Petrobras.
O aumento do desemprego, citado no início do texto, é uma face cruel da crise. Atrás de cada número existem trabalhadores, famílias, assombradas pelo desemprego, pela falta de um meio para garantir sua sobrevivência. Isso é parte da destruição de forças produtivas. As férias coletivas e Lay Offs escancaram a superprodução do sistema, obrigado a diminuir ou parar a produção para esvaziar os estoques.
Completa o quadro a disparada da inflação. A prévia de junho aponta uma inflação acumulada de 8,8% nos últimos 12 meses, maior índice desde 1996! A energia elétrica e os alimentos são os itens mais afetados. Esse aumento dos preços tem um impacto direto sobre a vida dos trabalhadores, que veem seu poder de compra ser corroído.
Um resumo da ópera: toda “bondade” aos capitalistas, toda “maldade” para os trabalhadores.
A crise é do sistema
A crise é mundial e do sistema capitalista. Os meios utilizados pela burguesia internacional e os governos a serviço do capital para postergar ou estancar momentaneamente essa crise, só tem preparado novas ondas “mais extensas e mais destruidoras” com a “diminuição dos meios de evitá-las”.
Alguns analistas consideram, inclusive, esta crise que começou em 2008, mais profunda do que a de 1929, que só foi “resolvida” com a Segunda Guerra Mundial. A guerra, aliás, é um meio muito eficiente de devastar forças produtivas e dar novo fôlego para o capitalismo. Mas, como analisamos em outros artigos, hoje não existem nem condições políticas, nem condições econômicas, para uma nova guerra entre países imperialistas. Ao mesmo tempo, desenvolvem-se dezenas de guerras localizadas, alimentando os lucros da indústria militar, em especial nos EUA.
A ausência de meios para superar a crise, faz com que os próprios analistas burgueses coloquem como perspectiva décadas de estagnação da economia mundial, alguns falando inclusive em “recessão secular”.
Eles não têm outra saída a não ser atacar cada vez mais a classe trabalhadora. O governo Dilma, respaldado pelo PT, escolheu esse mesmo caminho. Conduzindo o governo e o partido para o buraco, ou para o “volume morto”, como disse Lula, esquecendo-se que ele foi um dos que conduziu o PT para a colaboração de classes e o desastre.
Mas do outro lado, o proletariado em todo o mundo, e também no Brasil, não se sente derrotado. Ao contrário, tem dado seguidas demonstrações de disposição de luta e de busca por uma saída de classe, pela esquerda.
O capitalismo em decadência só pode prometer para a humanidade um futuro de barbárie. A única saída é a superação desse sistema, com a libertação da sociedade das amarras capitalistas. Cada vez mais jovens e trabalhadores tomam consciência de que somente tomando o poder em suas mãos poderão ter direito a um futuro digno.
Um futuro socialista não é uma utopia, é uma necessidade