Diante da situação de pandemia em que estamos vivenciando, vem à tona novamente a proposta de Homeschooling. Basta uma simples pesquisa no Google para vermos alguns sites defensores dessa proposta. Como se estruturam esses sites? Quais imagens são apresentadas?
Primeiramente, temos a imagem de uma criança em um lugar da casa apropriado para o estudo, sorrindo, envolta de vários materiais pedagógicos (no qual o computador de última geração e a ótima conexão permeiam todo esse cenário) e, é claro, outras imagens mostrando a alegria do ambiente com a constituição da “tradicional família brasileira”: um pai e uma mãe felizes, abraçados aos filhos, com semblantes de que não existem problemas e todos vivem harmoniosamente em sua casa. Ah, casa, aliás, que tem um belo quintal para atividades ao ar livre, quase uma minifazenda.
Voltemos para a situação atual: por conta do isolamento social, muitas escolas adotaram a educação a distância e as crianças passam a ter aulas pela internet, rádio, TV, etc. Sem entrar no debate ao acesso de todos por essa tecnologia, que, imediatamente, já exclui grande parcela de nossos estudantes, imaginemos a casa de uma família trabalhadora neste momento: pais (quando muito os dois, pois no Brasil grande parte das famílias tem apenas a figura feminina como provedora) em home office, dividindo as atenções entre as tarefas de casa e a educação escolar dos filhos. Se formos achar que não e fácil administrar tudo isso, pensemos nas famílias que perderam suas rendas por conta do isolamento social, mergulhadas nas contas e demandas que eram administradas pela renda do trabalho informal. Ainda, como já foi mostrado em algumas reportagens na TV, como fica a situação desta educação quando o isolamento social nas favelas, por exemplo, é ficar 13 pessoas isoladas em um cômodo?
À parte esta questão que retira o véu de glamourização do homeschooling, outras pessoas poderão dizer com um viés moral: “Mas este isolamento e demandas de educação domiciliar aproximou mais as famílias; muitos pais não sentavam com suas crianças!”. Devemos compreender que não cabe uma culpabilização individual de cada pai e cada mãe trabalhadora nesse sentido. Uma moral que ignora as condições sociais de classe só serve para perpetuação do status quo. Qual família não gostaria de se reunir e ter tempo para conversar? Entretanto, na sociedade capitalista, a vida do trabalhador é dominada pela exploração de sua força de trabalho até a exaustão: ou trabalha-se para dar de comer ou não se come e se dá atenção aos filhos! Marx já dizia que a primeira condição para fazer história é manter-se vivo. Por isso, resistimos e lutamos pela derrubada deste sistema que engendra todas essas mazelas à classe trabalhadora.
As questões apresentadas levantam a impossibilidade do homeschooling, mas nossa defesa pela EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E PARA TODOS vai além das condições materiais atuais. Vejamos algumas “vantagens” levantadas pelos defensores da proposta: Mobilidade e conforto (a criança não precisa sair de casa); Segurança (evitar casos de violência e assédio na escola, já que os “clientes” da mesma não passam por nenhum tipo de seleção); Qualidade (criança tem 100% da atenção do professor); e, Supervisão dos pais (para evitar a dita “doutrinação ideológica” e manter a educação dos valores importantes para sua família).
Poderíamos resumir essas ditas vantagens da seguinte forma: Meu filho, minhas regras! Essa perspectiva parte da ideia de que os filhos são propriedades dos pais e cabe a eles vestí-los com uma redoma que contemple apenas os valores que perpetuem sua condição social. Dessa forma, imaginando a perspectiva mais avançada, a criança poderá ser apresentada a diversas visões de mundo, mas aprenderá que existe somente uma correta… E olha que os pais estão querendo fugir da doutrinação ideológica, né?
Sobre a segurança da criança, já circulam muitas reportagens que apontam com dados relevantes que a maior parte das situações de violência e assédio sexual acontecem em casa, por pessoas próximas, e são denunciados a partir da escola, ou seja, é inversamente o que acontece.
Por fim, quando falamos de educação, falamos do “ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e COLETIVAMENTE pelo conjunto dos homens”, como nos aponta Dermeval Saviani. Nesse sentido, historicamente, a escola é o espaço privilegiado para isso. É um espaço diverso permeado por todas as contradições sociais e que aponta com resistência para toda negação da ciência que não sirva para a emancipação humana. Não fosse isso, os ideólogos da burguesia não estariam tão engajados no sucateamento e destruição da educação pública, pois sabem da ameaça que sofrem quando formamos seres humanos críticos que contestam esta sociedade que explora a grande maioria em detrimento de uma ínfima parcela da humanidade.
- Não ao homeschooling!
- Educação pública, gratuita e para todos!