O capitalismo segue em sua crise. A Europa em recessão, os EUA em crise, a China desacelerando. Na Grécia e Espanha, o desemprego bate recordes mês a mês. A Espanha superou em março os 6 milhões de desempregados. A juventude é o setor que mais sofre. A taxa de desemprego entre a população com menos de 25 anos chegou a 64,2% na Grécia e 55,22% na Espanha. Outros países do continente, como Portugal, Itália e até a França, seguem no mesmo caminho.
A política de austeridade, com o corte de gastos sociais, retirada de direitos e aumento de impostos, é a receita aplicada pelos governos europeus diante das dívidas públicas imensas acumuladas após o estouro da crise em 2008 e contraídas para salvar bancos, empresas e investidores da crise. Nos EUA, o corte abrupto de gastos públicos e aumento de impostos, programado para ocorrer em 1º de janeiro de 2013 (o chamado “abismo fiscal”), foi postergado, mas a situação não está resolvida. O império norte-americano hoje é o país mais endividado do mundo em valores absolutos. Sua dívida ultrapassa os 16 trilhões de dólares!
A classe trabalhadora resiste, apesar das direções sindicais e partidárias traidoras que buscam conter e desviar as mobilizações. A Grécia é um exemplo claro disso. Lá, desde o início da crise foram realizadas 31 greves gerais (só nesse ano já foram duas, a última em 1º de maio), milhares de protestos e greves por categoria, mas as direções sindicais persistem em greves gerais de 24, 48 horas… Ou seja, não ousam convocar uma greve geral por tempo indeterminado contra a política de austeridade imposta pela “Troika” (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia). O último pacote aprovado pelo parlamento grego inclui a demissão de 14 mil funcionários públicos até o final de 2014 e redução do salário mínimo de 580 euros para 490 euros (e para 427 euros aos trabalhadores com menos de 25 anos).
Na Espanha, após as belas mobilizações de 2012 (com destaque para a greve dos mineiros da região de Astúrias) e uma grande celebração no último 1º de maio. Em 9 de maio uma greve de estudantes, professores e funcionários contra os cortes na educação voltou a encher as ruas do país (120 mil em Madri, 100 mil em Barcelona, manifestações em Sevilla e Valencia).
A Itália sofre também com o desemprego que chegou a uma taxa de 11,5% (38,4% entre os jovens). No último 18 de maio, uma manifestação contra as medidas de austeridade convocada pela FIOM (Federação dos Metalúrgicos) reuniu 100 mil pessoas em Roma.
Do outro lado do Atlântico
Na América Latina, a revolução venezuelana que há anos tem inspirado a luta dos trabalhadores ao redor do mundo, encontra-se decididamente em uma encruzilhada. O presidente Nicolás Maduro aplica uma linha de negociações com a burguesia que coloca em risco as conquistas da revolução. Isso depois de todas as ações desestabilizadoras da oposição e das demonstrações de disposição das massas em defender e aprofundar o processo revolucionário.
Outro acontecimento bastante significativo, que mostra os sinais de impaciência da classe trabalhadora diante da política reformista que se arrasta há mais de uma década em diversos países do continente, é a greve geral na Bolívia convocada pela COB que já dura mais de 15 dias. A reivindicação principal é o aumento no valor das aposentadorias, com sua equiparação ao valor do salário dos trabalhadores da ativa. A situação tem criado perigos, como a possibilidade de conflitos entre os setores operários e camponeses, estes convocados por Evo para defender o governo. Certamente essa divisão não tem nenhuma relação com os interesses gerais da classe trabalhadora e só beneficia a direita. Mas a responsabilidade central é do governo, que não rompe com a burguesia e não faz um governo que esteja voltado a atender os interesses do povo que o elegeu.
E o Brasil…
Por uma série de fatores, nem a crise chegou por aqui com toda sua força, nem as mobilizações de classe têm o caráter de massas que vemos em outros países. Mas é preciso estar atento para o processo, para onde as coisas estão caminhando. De um lado vemos a desaceleração do crescimento econômico, com o governo Dilma cada vez mais a serviço dos interesses dos capitalistas (a última jogada foi a aprovação da MP dos Portos). De outro lado, não podemos ignorar as mobilizações de jovens, professores e servidores públicos que têm crescido em quantidade e qualidade.
Também crescem as tentativas do STF de declarar-se o Poder Legislativo e governante através da criminalização do movimento operário, estudantil e popular e da ingerência no Congresso Nacional. Mas esta situação está provocando uma reação e o repúdio acumula-se nas vanguardas mais conscientes.
O Brasil não é uma ilha isolada do mundo, ao contrário, tem uma economia bastante dependente da situação internacional e os olhos da classe trabalhadora estão atentos para o que ocorre por aqui e no mundo. Com o aprofundamento da crise, a polarização entre as classes vai se ampliar, ao contrário do que desejam os reformistas de plantão.
O capitalismo é incapaz de oferecer uma saída digna desta crise para nossa classe. A receita dele é explorar mais, destruir mais. Isto tem alimentado a consciência de classe em cada canto do mundo. Cresce a percepção de que esse é um sistema injusto e que só a unidade da classe, a organização e a mobilização independente podem mudar o rumo dessa caminhada em direção à barbárie. É preciso preparar-se para os combates que se avizinham e não há preparação sem organização. Convidamos todos a juntar-se à Esquerda Marxista.