“AGORA É HORA DE PAZ”, escreveu o presidente dos EUA, Donald Trump, na Truth Social neste sábado. No mesmo dia, os EUA realizaram o maior ataque militar contra o Irã da história moderna. Trump teve o apoio dos líderes europeus, incluindo seu servo obediente em Downing Street, todos exigindo que o Irã demonstrasse “moderação”, “desescalasse” o conflito e retornasse à mesa de negociações.
Bertolt Brecht disse certa vez que “quando os líderes falam de paz, o povo comum sabe que a guerra está chegando”. Ele se referia à propaganda de guerra cuidadosamente elaborada, empregada no início de todo conflito. Seu objetivo é justificar a guerra aos olhos das massas como algo justo, defensivo e em nome do interesse nacional, quando na realidade trata-se de uma guerra criminosa travada em benefício da classe dominante, sendo os mais pobres os que pagarão o preço mais alto.
Apresentar cada ato de agressão como se fosse de defesa é um método que foi refinado ao longo da história da luta de classes. Ainda assim, a arrogância grosseira e presunçosa com que a guerra atual contra o Irã está sendo apresentada é espantosa. O velho Brecht reviraria os olhos em descrença. Se ainda não está absolutamente claro para todos, vamos esclarecer os fatos.
A guerra de Israel contra o Irã foi um ataque militar monstruoso e não provocado, e a ordem de Donald Trump para que os EUA participassem é uma aposta imprudente que ameaça trazer consequências desastrosas para os povos da região e do mundo inteiro.
O Irã não representava nenhuma ameaça militar a Israel ou aos EUA. O programa nuclear iraniano estava, segundo a própria CIA, a pelo menos três anos de distância de uma capacidade real de produzir uma bomba atômica. Além disso, o regime iraniano nunca deu sinais de que realmente pretendia construir uma bomba nuclear. Pelo contrário, indicou preferir negociar um acordo para suspender as sanções ocidentais em troca de limitar seu programa nuclear ao uso civil. De fato, esse era o conteúdo central do acordo nuclear entre EUA e Irã que Trump destruiu em 2018.
Os apelos ocidentais por negociações, portanto, ignoram completamente os fatos: o Irã não precisa “retornar” à mesa de negociações porque nunca a deixou. Foi Benjamin Netanyahu quem decidiu torpedear as negociações, e o “presidente da paz” dos Estados Unidos seguiu o mesmo caminho. Ao fazer isso, os imperialismos dos EUA e de Israel mais uma vez intensificaram as tensões em uma região já marcada por uma estabilidade extremamente frágil.
Nos últimos dois anos, Israel atacou Gaza, a Cisjordânia, o Líbano, a Síria e o Iêmen, destruindo a vida de milhões de pessoas nesse processo. Ameaçou desencadear todo o poder de sua máquina militar contra qualquer um que ousasse resistir. Durante todo esse tempo, Netanyahu contou com total apoio material e político dos EUA e do Ocidente como um todo, que possui sua própria história de intervenções sangrentas no Oriente Médio: no Iraque, no Afeganistão, na Síria, na Líbia e no Iêmen.
Essas ações deixaram um rastro de morte e destruição. Nações orgulhosas, com culturas ricas, foram arrastadas à barbárie mais humilhante. Nenhuma força jamais destruiu tantas vidas quanto o imperialismo norte-americano.
E, ainda assim, é o Irã que está sendo atacado por ser considerado “um fator desestabilizador”. O verdadeiro crime cometido pelo regime iraniano contra os EUA e Israel foi ter construído capacidade suficiente para resistir às suas maquinações caprichosas e interesseiras.
Tendo consolidado uma base militar e política significativa, o Irã agora exige o direito de sentar-se à mesa como uma potência reconhecida no Oriente Médio. Mas os Estados Unidos e Israel não querem dividir seu banquete com ninguém. É isso, em essência.
Democracia
Muito tem se falado na imprensa ocidental, nos últimos dias, sobre a suposta falta de democracia no Irã. Ao lado de seus apoiadores ocidentais, Netanyahu tem convocado o povo iraniano a conquistar sua “liberdade” frente ao “regime maligno e repressivo”.
Mas, antes de tudo, devemos nos perguntar: com que mandato Netanyahu, Trump e seus capachos europeus estão agindo? Netanyahu é odiado por grande parte da população de Israel. Seu governo tem cambaleado de crise em crise. Apenas duas semanas atrás, estava à beira do colapso. É fato público em Israel que Netanyahu tem pulado de guerra em guerra, essencialmente para chantagear a população israelense e se manter no poder. Seu maior feito foi arrastar o imperialismo norte-americano para uma guerra contra o Irã, algo que ele persegue desde 7 de outubro de 2023.
Trump caiu na armadilha de Netanyahu, apesar de ter sido eleito com a promessa de acabar com as guerras, especialmente no Oriente Médio. Cerca de 60% do povo norte-americano é contra o ataque dos EUA ao Irã. Apenas 16% o apoiam! E agora ele assume o manto deixado por Biden.
As ações irresponsáveis dessas figuras, com o apoio dos regimes europeus, ameaçam desencadear uma conflagração regional devastadora que pode, inclusive, empurrar a economia mundial para uma recessão — tudo isso a um custo terrível para milhões de pessoas. Onde estão os direitos desse povo?
E mesmo assim, esses senhores e senhoras ainda tentam ensinar ao povo iraniano o que é democracia — sob a mira de armas! O povo iraniano só precisa olhar para o que aconteceu no Iraque, no Afeganistão e na Líbia para entender onde esse tipo de “democracia” costuma terminar.
Os verdadeiros objetivos da guerra
O verdadeiro propósito desta guerra não é estabilidade, nem paz, nem democracia, tampouco a destruição de armas nucleares. Trata-se de garantir à classe dominante israelense, e a seus apoiadores ocidentais, o direito indiscutível de fazer o que quiserem na região: intimidar, bombardear e invadir quem quiserem, onde quiserem, quando quiserem, sem enfrentar resistência.
Ao alinhar-se mais uma vez com Israel, o imperialismo dos EUA revela novamente sua natureza: a força mais brutal, assassina e desestabilizadora do planeta. Uma fonte de reações retrógradas que espalha sua podridão infecciosa por todos os cantos do mundo. Nesse sentido, é o principal inimigo da classe trabalhadora mundial. A libertação dos trabalhadores e dos pobres do Irã é tarefa dos próprios trabalhadores e pobres iranianos. Isso não pode ser feito pelo imperialismo ocidental. Pelo contrário: essa libertação só pode ocorrer em conjunto com a luta contra o imperialismo dos EUA.
Os imperialistas que há décadas saqueiam e destroem o Oriente Médio são os mesmos que exploram e oprimem os trabalhadores no Ocidente. Agora querem nos convencer de que o Irã representa a maior ameaça à nossa segurança. Mas são eles que têm mais sangue nas mãos do que qualquer outro regime no mundo. Em outras palavras: o principal inimigo está em casa, e a luta pela libertação das nações oprimidas é a mesma luta contra a classe capitalista no Ocidente.
- Abaixo a guerra contra o Irã!
- Abaixo o imperialismo dos EUA!
- Trabalhadores do mundo, uni-vos!