Nos últimos dias a Mesa Nacional da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (Frente de Izquierda y de los Trabajadores – FIT), reuniu-se com a direção do Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST), com o objetivo de: “na reunião a FIT lhe fez uma proposta de acordo baseada na necessidade de unir toda a esquerda anticapitalista em listas comuns diante da catástrofe a que nos levou o Governo Macri e o Fundo Monetário Internacional e a que todos os partidos tradicionais que pretendem ganhar as eleições presidenciais se comprometeram em manter o domínio do FMI no país, o que significará mais miséria, desemprego e baixos salários, mais atraso e dependência. Contra isto a FIT propôs levantar um programa para que a crise seja paga pelos grandes empresários, os banqueiros e os latinfundiários”.
Nós, da Corriente Socialista Militante (CMI), aceitamos e saudamos a proposta, considerando que é um passo na unidade da esquerda e convencidos de que é possível construir uma alternativa para a classe trabalhadora.
Entendemos, além disso, que a proposta à autodeterminação e à liberdade, como também ao Novo MAS [1] e a todas as expressões da esquerda anticapitalista, é importante para os trabalhadores, a juventude e os setores populares.
Assumimos o compromisso de Unidade. Compartilhamos abaixo nossa contribuição, já que consideramos necessária para a imensa maioria dos trabalhadores.
Saudações fraternais.
Votar na FIT: uma política para a derrota ou para a vitória (vide Córdoba e Santa Fé)
A derrota esmagadora dos candidatos de Cambiemos [2] em La Pampa, Córdoba, às primárias de Chubut, Entre Ríos, Santa Fé e San Juan, ao governo de Río Negro e de Neuquén, marcam uma tendência de rechaço às políticas implementadas pelo partido no governo. A mesma não é mais que o reflexo de um profundo mal-estar dos trabalhadores e da juventude e põe novamente em tela a rejeição às políticas de Macri pela entrega dos imensos recursos ao FMI e às multinacionais, assim como das políticas que degradam há 40 meses as famílias operárias.
A situação política, para além disso, encontra-se atravessada por um crescente descontentamento e desilusão em todas as instituições capitalistas: a Justiça, o Parlamento, as forças de segurança, novamente são rejeitadas por amplos setores dos trabalhadores e da juventude e nos fazem voltar a 2001 e 2002.
Nenhuma das diferentes ofertas eleitorais com que somos bombardeados nos apresentam um plano claro para sair da crise.
Por isso, a FIT deve propor com clareza o monopólio do comércio exterior para deter a sangria dos bilhões de dólares que fugiram do país que, desde 2007, chega à tremenda cifra de US$ 174 bilhões. Também deve avançar na paciente explicação de pôr de pé um único banco estatal, partindo da nacionalização dos depósitos.
Os 4 milhões de desempregados não encontram uma resposta clara da mão dos candidatos burgueses para frear o desemprego. Por isso, a FIT deve se conectar com as necessidades dos de baixo do pleno emprego e, para que isto aconteça, deve considerar a repartição das horas de trabalho entre empregados e desempregados sem afetar o salário.
Da mesma maneira que os candidatos burgueses não querem uma solução para a depreciação do salário diante à inflação, é necessário que a FIT sustente o reajuste móvel do salário, acompanhando os aumentos de preços, para manter o poder de compra das famílias operárias e da juventude.
Os candidatos capitalistas nos dizem que o contexto econômico no país é difícil por conta da crise mundial capitalista. Dizem-nos que para gerar emprego devemos nos adequar à nova realidade para que venha o capital e gere trabalho.
Alguns candidatos burgueses nos falam em honrar a dívida externa. Outros nos dizem que vão incorrer em moratória para obter dinheiro em caixa e, mais tarde, pagar aos credores e, desta maneira, ter algum emprego a baixo custo. Ou seja, não apresentam uma verdadeira solução para a crise que vivemos.
A FIT deve propor a ruptura com o Fundo Monetário Internacional e o não pagamento da dívida externa, já que é um mecanismo perpétuo de submissão econômica e política do país. Aí teremos o dinheiro para a saúde, o transporte, a educação e o emprego.
A fórmula Fernández/Fernández [3] nos pede que tenhamos consciência cidadã e que cuidemos deles uma vez eleitos. Falam-nos de fazer um “contrato social” em que todos os setores devem pôr seu esforço. Mas sabemos que quando se trata de esforço, os únicos que fazem são os trabalhadores e, em definitivo, é como viemos fazendo historicamente. A possibilidade que esta fórmula triunfe possivelmente gere certas expectativas. Mas sabemos que não contam com um 2003, onde os preços internacionais das matérias-primas se encontravam nas nuvens.
Qualquer dos quatro candidatos das diferentes facções da burguesia que se apresentam, mais cedo ou mais tarde, vão enfrentar a crise estrutural que vive o mundo e aplicarão o plano de ajuste com matizes mais ou menos diferentes.
Mas nos perguntamos: o que necessitam os trabalhadores? O que é que necessitam os milhões de famílias que padecem os horrores de um sistema que só mostra degradação ambiental e fome, mostra-nos repressão e um sistema de saúde e de educação cada vez mais desvalorizados?
Necessitamos de saúde e de educação gratuitas e de qualidade; transporte gratuito, salários de acordo com as necessidades das famílias operárias e trabalho para todos e, para isto, necessitamos de um Partido de Trabalhadores que organize os milhões que somos.
Acreditamos que o caminho neste período eleitoral é votar na FIT. Mas a FIT não deve se apresentar como mais uma fórmula, deve apresentar diante dos trabalhadores o programa revolucionário e deixar de lado o argumento que o fazer espanta votos. Deve mostrar com clareza qual é a situação política, econômica e social do país, da região e do mundo; deve apresentar à vanguarda e às massas um programa de combate e não um programa adequado à pressões do Parlamento ou da Justiça eleitoral. Deve mostrar que as eleições não resolvem a miséria e a fome que reina no país e que ganhar assentos no Parlamento só serve como uma caixa de ressonância dos conflitos; deve chamar a desconfiar das instituições dos capitalistas e mostrar seu caráter de classe. A FIT deve atuar na luta de classes para impulsionar as lutas, as mobilizações e a organização dos trabalhadores.
É por isso que a FIT deve mudar de política e preparar o futuro vindouro, para que os resultados das eleições mostrem um avanço na organização orientado pelo programa que necessitam as massas e não aconteça mais o colapso da esquerda como foi em Córdoba e em Santa Fé. Necessitamos defender nossas conquistas, arrancar as reivindicações por uma vida melhor.
Precisamos de outro Argentinazo [4] que conflua para a Revolução Socialista.
Artigo publicado na página El Militante, da seção argentina da Corrente Marxista Internacional Corriente Socialista Militante, sob o título “Votemos al FIT: Una política para la derrota o una política para la victoria (Miremos Córdoba y Santa Fe)”, publicado em 4 de junho de 2019.
Tradução de Nathan Belcavello de Oliveira
[1] Nuevo Movimiento al Socialismo – Novo Movimento ao Socialismo, fundado em 2003, retomando o nome do partido fundado por Nahuel Moreno (Nota do Tradutor – N.T.).
[2] Coalizão partidária que levou Macri à presidência da Argentina em 2015 e que reúne os partidos da base de seu governo na atual eleição argentina (N.T.).
[3] Candidatura de Alberto Fernández para presidente e Cristina Fernández Kirchner para vice-presidente pela Frente Patriótica nas primárias (N.T.).
[4] Grande revolta popular que derrubou o governo de la Rúa após o corralito, congelamento dos valores depositados em pesos nos bancos argentinos realizado pelo presidente deposto, semelhante ao confisco das poupanças feito por Collor em 1990 no Brasil (N.T.).