A poucos dias das eleições locais e regionais, a classe dominante está se utilizando de todos os truques sujos de seu arsenal. As listas eleitorais, tanto de Unidade Popular, para as eleições municipais, quanto de PODEMOS (para as regionais), estão sendo caluniadas com links relativos a “tráfico de drogas da Venezuela” e acusadas de querer implantar “uma ditadura ao estilo cubano”. Mas, por que tanto pânico?
A poucos dias das eleições locais e regionais, a classe dominante está se utilizando de todos os truques sujos de seu arsenal. As listas eleitorais, tanto de Unidade Popular, para as eleições municipais, quanto de PODEMOS (para as regionais), estão sendo caluniadas com links relativos a “tráfico de drogas da Venezuela” e acusadas de querer implantar “uma ditadura ao estilo cubano”. Mas, por que tanto pânico?
As eleições serão um importante teste para o Partido Popular de direita no poder, que controla atualmente 10 das 13 regiões onde serão celebradas eleições (Galícia, Catalunha, País Basco e Andaluzia têm suas eleições em datas diferentes). O partido também controla os conselhos locais de 8 das 10 maiores cidades: Madri, Valência, Zaragoza, Sevilha, Málaga, Murcia, Palma de Mallorca, Las Palmas da Grande Canária.
Estas eleições estão sendo vistas corretamente como um amplo ensaio da próxima eleição geral e como a primeira oportunidade do eleitorado de punir o PP e de colocar PODEMOS à prova. A eleição anterior teve lugar em 2011, quando o governo do socialdemocrata PSOE começava a implementar cortes de austeridade e entrava em colapso nas pesquisas de opinião. Esse foi o prelúdio do colapso do PSOE na eleição geral de novembro de 2011, quando o PP obteve maioria absoluta.
Aquelas eleições regionais e locais ocorreram imediatamente após a explosão do Movimento dos Indignados de 15 de Maio que deu visibilidade à ira que havia se acumulado e que abriu um processo de questionamento de todo o sistema.
Desde então, muita coisa mudou na Espanha. O governo do PP implementou políticas de cortes brutais, privatizações, destruição de direitos trabalhistas e erosão das liberdades democráticas – tudo isto como parte de uma tentativa de fazer o povo trabalhador pagar o preço da crise capitalista. A assistência médica, a educação e outras despesas sociais foram drasticamente cortadas a fim de se pagar o resgate dos bancos. Apesar de todos estes cortes, a dívida nacional aumentou de 70 a 100% do PIB. Estas políticas de austeridade sequer foram bem-sucedidas em lograr seu objetivo declarado de recuperação econômica e de criação de empregos. O desemprego ainda se encontra acima de 23%, com o desemprego juvenil acima de 50%. Centenas de milhares de pessoas viram suas casas serem recuperadas pelos mesmos bancos que foram resgatados com dinheiro do estado. Milhões de pessoas caíram abaixo da linha de pobreza e tiveram que recorrer aos bancos de alimentos.
Enquanto isto, os ricos ficaram mais ricos e o PP está atolado em escândalos de corrupção sem fim que o afetam em todos os níveis, desde os prefeitos locais aos presidentes regionais, alcançando o tesoureiro nacional e as finanças nacionais do partido.
Mobilização de massas sem precedentes
Os últimos quatro anos também testemunharam um processo sem precedentes de mobilizações de massas. Os trabalhadores espanhóis, a juventude e a população em geral lutaram batalhas memoráveis contra a privatização da saúde pública, em defesa da educação pública, contra despejos e reintegrações de posse de moradias. Realizaram duas greves gerais de massas contra os ataques aos direitos trabalhistas básicos. Houve revoltas baseadas nos bairros contra a repressão policial, a marcha nacional de mineiros em defesa dos postos de trabalho, e greves de coletores de lixo e jardineiros municipais, bem como de outros grupos de trabalhadores. O Movimento dos Indignados de 15 de Maio levou milhões de pessoas às ruas para protestar contra o capitalismo como um sistema econômico que não funciona (“não é uma crise; é uma fraude”), e contra a democracia burguesa que tem visto sua legitimidade seriamente corroída (“eles não nos representam”). As Marchas da Dignidade trouxeram centenas de milhares a Madri, organizadas principalmente à revelia das estruturas das duas principais confederações sindicais, UGT e CCOO, para exigir “Pão, Empregos, Moradia e Dignidade”.
No início deste processo, o movimento se expressava politicamente de três formas: primeiro, no colapso ininterrupto do PP nas pesquisas de opinião, de mais de 44% nas eleições de novembro de 2011 a cerca de 23% agora. Em segundo lugar, a “oposição” do PSOE não se beneficiou, mas continuou a declinar, caindo de 28,7%, em 2011, a 20-23% agora. Na verdade, foi o PSOE que começou a implementar os cortes de austeridade enquanto se encontrava no poder e escassamente se opôs a qualquer das políticas do PP. Em terceiro lugar, o principal beneficiário foi a coalizão Esquerda Unida (IU) que passou de 6,9%, em 2011, a um máximo em torno de 15-16% no verão de 2013. Mas, então, seu crescimento foi detido.
Para muitos, IU era visto como demasiado institucional e marcado por sua participação em uma coalizão de governo com o PSOE na Andaluzia, bem como pelo seu apoio externo ao governo do PP na Estremadura. Seus líderes em Madri também ficaram manchados por um escândalo de corrupção envolvendo membros dos conselhos de bancos de poupança de propriedade regional nomeados politicamente. Numa altura em que grande parte dos trabalhadores e das camadas médias estão se radicalizando pelo impacto da crise, IU deixou de ser visto como suficientemente radical.
A ascensão de PODEMOS
Estas circunstâncias levaram ao surgimento de PODEMOS, que foi lançado em janeiro de 2014 e, para surpresa de todos, ganhou 8% dos votos (1,2 milhões) e 5 deputados nas eleições europeias de maio de 2014. O programa de PODEMOS não era fundamentalmente diferente do de IU, mas o partido aparecia como muito mais radical em seu estilo e discurso. Desafiou a totalidade do regime de 1978, exigindo que tudo fosse revirado. Milhares de pessoas assistiram as suas concentrações de massas e se juntaram nos milhares de “círculos” locais (ramos) que surgiram por todo o país e no estrangeiro, entre os espanhóis obrigados a emigrar pela crise. O partido deu expressão política ao enorme processo de mobilização de massas dos últimos três anos. Milhões de pessoas estavam fartas, haviam marchado nas ruas e agora estavam começando a se envolver politicamente, muitos pela primeira vez em suas vidas.
De 8% em maio de 2014, PODEMOS rapidamente subiu para 15% e logo para 20% nas pesquisas de opinião, e, em outubro de 2014, se tornou o primeiro partido com entre 25-27% em algumas das pesquisas. Sua ascensão foi acompanhada pelo colapso nas intenções de voto para IU, que viu cerca de 40% de seus eleitores se transferindo para PODEMOS. Isto intensificou ainda mais a crise interna de IU, entre os que argumentavam que a coalizão devia ser mais radical em seu estilo e políticas e se mover em direção à unidade com PODEMOS e os que replicavam que IU devia manter sua identidade separada e que recusavam fazer qualquer autocrítica. Desde o momento em que receberam 10% dos votos na eleição europeia, caíram de forma consistente para cerca de 5% nas pesquisas de opinião.
Durante meses a mídia burguesa lançou uma campanha histérica contra PODEMOS, acusando-o de todo tipo de coisas, de ser fundado pelo “comunismo cubano-venezuelano” a ter ligações com os prisioneiros do ETA. Seus principais líderes foram escudrinhados e acusados de serem corruptos. Nada disto pegou; na verdade, teve efeito oposto. As pessoas estavam pouco inclinadas a acreditar em acusações selvagens vindas daqueles que elas sabiam serem corruptos e que tinham implementado as brutais políticas de austeridade.
A ascensão de PODEMOS teve outro efeito não desejado. Três anos de intensa mobilização não tinham conseguido muito. Houve algumas vitórias parciais e locais, mas o governo permanecia instalado e não havia sido derrotado nas principais questões. Enquanto PODEMOS subia nas pesquisas, a atenção das massas mudou naturalmente das mobilizações de massas nas ruas para o terreno eleitoral. Agora, parecia haver uma forma de derrotar o odiado governo do PP de Mariano Rajoy: votando por PODEMOS.
Alguns na liderança de PODEMOS argumentaram que o êxito do partido se devia ao fato de que, ao evitar tomar uma posição na tradicional divisão “esquerda-direita”, foram assim capazes de atrair eleitores de todo o espectro político. Atordoados com seu próprio êxito, aprofundaram esta política diluindo os elementos fundamentais do programa e do discurso. Parecia que o que eles estavam dizendo publicamente não era mais determinado pelo que pensavam que estava correto, e sim pela forma como os meios de comunicação de massa reagiriam a isto e com o objetivo de não espantar uma suposta camada moderada do eleitorado.
Ao mesmo tempo, em nome da conveniência, usaram de sua autoridade política para impulsionar um modelo de organização que concentrava uma grande quantidade de poder no topo, em oposição aos vibrantes círculos locais originais da organização. Para dar verdadeiro nome às coisas, havia um processo de burocratização de PODEMOS assim como de moderação de suas políticas. Contudo, PODEMOS é uma organização muito nova, criada em um período político muito turbulento, e, pelo menos até agora, este processo não foi fatal.
De fato, a esmagadora maioria dos eleitores de PODEMOS veio da esquerda do espectro político (antigos eleitores de IU, do PSOE, novos eleitores e os que anteriormente tinham votado por partidos de esquerda, mas que tinham deixado de votar). Estão principalmente concentrados nos grupos de idade mais jovens, bem como entre trabalhadores e camadas médias empobrecidas. Além disso, o fato é que, quando perguntados nas pesquisas de opinião, os eleitores consideram PODEMOS como o partido mais à esquerda na Espanha (à esquerda de IU) e mais à esquerda do eleitor médio. Isto não impediu PODEMOS de se tornar o primeiro partido nas pesquisas de opinião. Pelo contrário. O impacto da crise foi tão profundo que uma grande camada da população (a maioria dos eleitores) agora está aberta para apoiar organizações políticas que ela percebe como muito radical.
Outro fator entra em jogo no início de 2015. Um setor da classe dominante se assustou ante a visão da aparentemente imparável ascensão de PODEMOS e decidiu que algo tinha que ser feito. Começou a promover Ciudadanos (Cidadãos), um partido populista de direita que até então somente tinha base na Catalunha, e lhe deu um perfil nacional. O partido subitamente obteve um monte de financiamentos e ganhou espaço nos meios de comunicação de massas. Baseado em abstratos slogans contra a corrupção e a favor de “novas políticas”, começou a capturar alguns dos votos que estavam sendo perdidos pelos partidos estabelecidos (principalmente o PP) na tentativa de atalhar o avanço de PODEMOS. Ciudadanos subiu rapidamente de 3% nas eleições europeias a 15-20% nas pesquisas mais recentes.
A combinação de todos estes fatores (um certo declínio na mobilização de massas, o amolecimento do fio radical de PODEMOS, os ataques feitos pela mídia e a ascensão de Ciudadanos) levou a um declínio de 4 a 6 pontos percentuais de PODEMOS nas pesquisas de opinião no início de 2015. As dificuldades enfrentadas pelo governo de SYRIZA na Grécia também podem ter contribuído para isto.
Debate interno em PODEMOS
Isto abriu um debate interno dentro de PODEMOS. Aos olhos da camada ativa é evidente que existe na liderança de PODEMOS os que defendem uma linha mais suave e moderada (Errejón, Bescansa) e os que têm defendido uma abordagem mais nítida, mais próxima da linha original da organização (incluindo a líder do partido na Andaluzia, Teresa Rodriguez).
O que é significativo é que, em resposta a todos esses debates (que ocorreram principalmente nos meios de comunicação de massas), o secretário-geral de PODEMOS começou claramente a fazer uma acentuada mudança à esquerda na campanha eleitoral. Ele argumenta que a ideia de que PODEMOS deveria ocupar o “centro do tabuleiro político” não significa que tenha de moderar sua abordagem e se tornar mais do centro, e sim que suas ideias têm que se tornar dominantes (A centralidade não é o centro).
Também polemizou diretamente contra o enfoque reformista eurocomunista do Partido Comunista Espanhol no final da ditadura de Franco, bem como contra a moderação do PSOE naquele momento. Pablo Iglesias ressaltou que PODEMOS deve lutar no terreno da “democratização da economia” em vez de insistir em outros temas como a corrupção ou a “renovação democrática”, que é um terreno em que a classe dominante estaria mais apta para dominar (Guerra de Trincheiras e estratégia eleitoral).
Em mais um artigo de opinião publicado em 19 de maio, sob o título de PODEMOS: o partido das classes populares, Pablo Iglesias fez algumas observações muito interessantes. Ele advertiu abertamente que “na guerra de trincheiras da política espanhola não vamos ganhar parecendo com nossos adversários”. E identificou a composição dos eleitores de PODEMOS:
“PODEMOS é o primeiro partido entre os estudantes e a juventude e desafia PSOE pelo primeiro lugar entre todas as camadas da classe trabalhadora, bem como entre as camadas médias empobrecidas frustradas pela destruição de suas esperanças”.
Do ponto de vista da estratégia, a conclusão a que ele chega é clara:
“O terreno onde vamos ganhar é onde somos o ponto de referência das classes populares, ampliado pelo empobrecimento das camadas médias (trabalhadores do setor público, os trabalhadores por conta própria, as pequenas empresas e os profissionais liberais), da juventude e da classe trabalhadora. Por esta razão, temos que ser uma força com um discurso áspero e de classe e com estilo plebeu… capaz de polarizar o cenário político”.
Significativamente, no Dia do Trabalho, Pablo Iglesias se uniu aos engenheiros de telecomunicações de Movistar e mostrou apoio a sua greve que agora se tornou um dos mais importantes conflitos trabalhistas no país. Durante a campanha ele vem usando uma linguagem muito forte, atacando os ricos e a direita e denunciando corretamente Ciudadanos como uma criação dos banqueiros. Até certo ponto isto revitalizou o espírito original de PODEMOS e atraiu milhares de pessoas aos comícios por todo o país.
Eleições regionais
PODEMOS apresentou listas próprias em todas as eleições regionais e se espera que se dê bem na maioria delas, chegando em segundo nas Astúrias e em Navarra e em terceiro em outras cinco ou seis regiões. Em algumas dessas regiões, existem partidos regionais de direita entrincheirados e em outras já existem organizações de esquerda estabelecidas que se darão bem.
O PP é suscetível de sofrer um sério revés e de perder sua maioria absoluta em todas menos uma das regiões em que agora domina. Isto significaria que em algumas delas seria necessário o apoio de Ciudadanos para governar. Em outras, uma aliança da esquerda (incluindo IU, PODEMOS e PSOE) assumiria o lugar do PP.
No entanto, as alianças pós-eleitorais podem ser complicadas uma vez que todos os partidos estarão com seus olhos na eleição geral que hão de ocorrer antes do final do ano. Se Ciudadanos faz aliança com o desacreditado PP, rapidamente poderia perder seu poder de atração. Por outro lado, IU e PODEMOS não estariam dispostos a fazer alianças com o PSOE, enquanto os três não querem ser vistos permitindo que o PP continue a governar. O cenário que se abre é de instabilidade da política burguesa e de uma ruptura do sistema bipartidário dominante.
Unidade Popular nas eleições municipais
É no front municipal onde existem as melhores oportunidades para o avanço da esquerda radical. Em dezenas de cidades e metrópoles, distintas organizações de esquerda e movimentos sociais estabeleceram listas de “unidade popular” para concorrer às eleições municipais. Estas acompanham principalmente o modelo de Barcelona en Comú (Barcelona em Comum), uma aliança na capital catalã. Este movimento é liderado pelo antigo porta-voz nacional da Campanha anti-Despejos (PAH, em suas siglas em espanhol), Ada Colau, e inclui os ramos locais de PODEMOS e IU, bem como de outros partidos de esquerda e organizações socialdemocratas. Uma característica comum dessas alianças tem sido a seleção de seus candidatos através de eleições primárias abertas, o compromisso de não receber o salário integral de um vereador eleito e o processo democrático para a elaboração do programa.
Através da condução de uma campanha firmemente baseada em destacar a luta contra os ricos e poderosos e na defesa dos interesses do povo trabalhador dos bairros mais pobres de Barcelona, Ada Colau tem gerado enorme entusiasmo, com milhares de pessoas acudindo aos comícios ao ar-livre em todos os distritos. As pesquisas de opinião colocam sua lista de Barcelona en Comú um pouco à frente do partido nacionalista burguês catalão CiU.
Barcelona en Comú também é importante na medida em que atalha o que havia se tornado o principal eixo do debate político na Catalunha durante um tempo: a independência. Ada Colau tem dito claramente que ela é fortemente a favor do direito de autodeterminação (que a Espanha nega à Catalunha), e que o povo catalão deve ser oficialmente consultado sobre isto. Mas ela também denunciou a hipocrisia do governo burguês nacionalista catalão de CiU, como um governo que ataca os direitos sociais, que privatiza, que usa a repressão policial e que está envolvido em escândalos de corrupção. Não podemos ter nada a ver com eles, salientou ela, independentemente de seus pontos de vista sobre independência.
No comício de encerramento da campanha, Colau insistiu que Barcelona en Comú representa os que “não aceitarão o desemprego, não aceitarão os despejos, não aceitarão a precarização do trabalho, não aceitarão as mortes sob custódia policial, não aceitarão que haja crianças que não estão sendo alimentadas três vezes ao dia, nem vamos aceitar a internação de imigrantes”. Esta linguagem conecta claramente com o sentimento de ira de centenas de milhares de pessoas. O ativista de PODEMOS, Jaume Asens, também falou e advertiu que “nosso inimigo não é qualquer partido, mas as 400 famílias que governam, mas que nunca se candidataram às eleições”.
O ponto principal é que estas listas têm sido vistas como uma alternativa radical ao Establishment, e também como um reflexo do desejo de unidade. Em alguns casos, IU se juntou; embora, em outros, o aparato local de IU tenha criado sua própria “lista unitária”. Em outros ainda, as forças nacionalistas de esquerda também se juntaram (como é o caso com Marea Atlántica na cidade de La Coruña, na Galícia). O que está claro é que as melhores chances de ganhar estão naquelas cidades onde o processo de unidade foi mais genuíno e envolveu um grande número de forças reais com presença nos movimentos de massas.
No caso de Madri, este processo de unidade levou à divisão, de fato, das organizações locais e regionais de IU. Uma camarilha de direita tinha um controle muito estrito do aparato e se opôs a qualquer ideia de se unir com PODEMOS. Foram organizadas eleições primárias abertas para selecionar os candidatos para as eleições locais e regionais, e estas foram ganhas, por 60% a 35%, pelos candidatos pró-unidade da esquerda. O aparato regional decidiu ignorar este resultado e finalmente empurrou os candidatos e seus apoiadores para fora de IU em Madri. O Partido Comunista regional e as organizações da Juventude Comunista decidiram não reconhecer as estruturas regionais de IU e sair com os candidatos eleitos.
Esta disputa também levou a uma divisão na liderança nacional de IU. De início, o coordenador nacional, Cayo Lara, tentou manter uma posição de respeito aos procedimentos democráticos e de crítica à liderança regional, mas, em seguida, mudou de posição ao apoiar publicamente a ala direita de IU no levantamento de sua própria e separada lista em ambas as eleições. A maioria dos seguidores do candidato presidencial da Esquerda Unida, Alberto Garzón (na esquerda de IU), tem apoiado as listas unitárias nas eleições municipais de Madri (Ahora Madrid) e nas eleições regionais (sob a lista de PODEMOS), mas o próprio Garzón permaneceu silencioso.
No caso do Conselho de Madri, a situação é particularmente séria, uma vez que é improvável que IU obtenha os necessários 5% dos votos para entrar no Conselho, mas estes votos podem determinar se Ahora Madrid bate o PP. No momento, Ahora Madrid está pescoço a pescoço com o governante PP, com um grande número de eleitores que ainda não se decidiram.
A histeria da classe dominante
O que está claro é que, independentemente das dificuldades pós-eleitorais dos pactos e das limitações da política municipal, um revés para o PP nas eleições regionais e a vitória das forças radicais de esquerda nas principais cidades, como Barcelona ou Madri, produziriam um enorme impacto na psicologia das massas. Isto lhes daria a confiança de que é possível derrotar o PP também nas eleições gerais.
Esta é a razão para a histeria da mídia capitalista enquanto a campanha se aproxima de seu fim. O ex-presidente espanhol Aznar (responsável por levar a Espanha à intervenção imperialista no Iraque) interveio na campanha acusando PODEMOS e Pablo Iglesias de serem herdeiros de Lênin e Stalin “que mataram milhões de socialdemocratas que eles conheciam! ”.
O jornal de direita El Mundo mostrou uma manchete que dizia “os prisioneiros de ETA querem PODEMOS no governo”. Finalmente, o raivoso de direita ABC teve uma primeira página com uma foto inteira do presidente venezuelano Maduro alegando que estava usando a Espanha como ponto de entrada na Europa de “cinco toneladas de cocaína por semana”.
No entanto, há importantes lições a tirar. Primeiramente, não é possível separar a política eleitoral da mobilização das massas. Em vez disso, a mobilização das massas nas ruas é o melhor caminho para gerar as forças e dinâmicas necessárias que podem, então, usar as assembleias parlamentares como plataformas.
Em segundo lugar, há a necessidade, assim como um forte desejo, da unidade que nasce da luta comum, e não de acordos através dos aparatos dos diferentes partidos, e que envolve um genuíno processo de participação democrática, de controle e prestação de contas das massas.
Finalmente, e mais importante, há um desejo generalizado por mudanças radicais. Se PODEMOS ganhar as eleições deve adotar um programa radical claro que expresse este desejo. Só colocando a questão com clareza: contrapor os interesses das massas trabalhadoras aos interesses dos capitalistas e banqueiros, se pode gerar o necessário movimento de massas que permitiria a derrota do PP.
A experiência da Grécia também contém importantes lições para o movimento revolucionário na Espanha. Não é suficiente ganhar uma eleição a fim de se implementar a mudança fundamental. Realmente não importa o programa de medidas concretas que você pode ter. O sistema capitalista em sua crise atual estabelece limites rigorosos sobre o governo e não dá espaço para a implementação de reformas significativas.
A única forma de se melhorar as condições de vida das massas e de reverter decisivamente as políticas de austeridade é desafiando o próprio sistema capitalista. Sob o capitalismo, a economia funciona no interesse do lucro privado de uma ínfima minoria de capitalistas e banqueiros, não-eleitos, irresponsáveis e corruptos. Ao transformar as alavancas fundamentais da economia em propriedade pública, a economia pode ser planificada democraticamente no interesse da maioria. Se a “democratização da economia” que Pablo Iglesias tem sublinhado significa algo, só pode significar isto.