Essas ações da empresa são resultados de adesão da indústria ao manifesto “Não Demita!”, realizado pelo empresário Daniel Castanho, presidente do conselho e um dos fundadores da Ânima Educação. Esse “movimento” expressa a divisão da burguesia brasileira. Se, de um lado, assistimos uma parcela da burguesia, como Luciano Hang e Júnior Durski, exigindo o fim da quarentena porque “o Brasil não pode parar”, como também tenta apregoar o governo Bolsonaro; do outro lado, vemos o setor “racional” da burguesia buscando maquiar-se com um verniz humanitário, pois sabe que não pode acentuar o acirramento da luta de classes, que radicaliza os trabalhadores.
Assim, esse manifesto, que se autointitula uma convocação de “empresário para empresário”, expressa uma das facetas da ideologia da classe dominante ao dizer defender uma “responsabilidade social” de “retorno à sociedade” para assegurar as vidas.
Porém, é preciso ter ciência que, para a burguesia, a vida dos trabalhadores não vale nada, mesmo quando os grandes empresários com suposta “responsabilidade social” realizam esses discursos, pois, por trás de suas pautas, há somente a sua defesa da propriedade privada dos meios de produção e a exploração contra a classe trabalhadora.
Diante deste cenário, para não ter grandes quedas em suas taxas de lucros, a Tupy, indústria com 8.500 trabalhadores, mais 1.500 terceirizados, realizou medidas como: adoção de trabalho remoto, concessão de férias coletivas, redução de jornada de trabalho e, ainda, a suspensão temporária, por um período inicial de 30 dias, dos contratos de trabalho.
As medidas de suspensão do trabalho dos setores não essenciais são corretas e devemos manter em segurança todos os trabalhadores, mas sem nenhum corte em seus salários e/ou suspensão de contratos!
Em 2019, a Tupy obteve um lucro líquido de R$ 279 milhões, com uma receita total de R$ 5,1 bilhões, significando um crescimento de 6,9% em relação a 2018. Tal lucro de uma das maiores metalúrgicas do mundo deveria ser destinado para aqueles que produziram essa riqueza, assegurando seus direitos, sem nenhum rebaixamento dos salários.
Acentuando essa problemática, de acordo com a empresa, as medidas foram pactuadas com o sindicato da categoria, demonstrando seu servilismo aos interesses burgueses. Esse acordo entre patrões e sindicato representa o caráter traidor da atual direção sindical, que não organiza e não combate junto aos trabalhadores pelos salários integrais, sem suspensão de contratos etc., evitando qualquer espécie de demissão e ataques aos operários.
Devemos organizar a classe trabalhadora em todas suas categorias. Não podemos apenas assistir aos ataques que vêm sendo realizados tanto pelos burgueses irracionais – que escracham seu ódio e exploração aos trabalhadores, fazendo-os arriscar suas vidas pelo lucro capitalista – quanto com os burgueses “humanistas”, que vendem uma preocupação social, mas retiram, ao mesmo tempo, os salários e os empregos da classe trabalhadora, para não passarem por grandes derrocadas em seus ganhos.
Não é aceitável deixar os trabalhadores vivendo com o desemprego em massa ou o fantasma da demissão, pois nunca sabem quando serão mandados embora quando as grandes indústrias falarem não ter condições de bancar os “custos”.
Este cenário de miséria que a classe trabalhadora vem enfrentando precisa de uma resposta concreta, e essa resposta apresenta-se pelo Programa Emergencial para a Crise no Brasil. Para isso, precisamos formar mais comitês de ação Fora Bolsonaro, organizar os trabalhadores, nos aproximar desses operários da Tupy, bem como os da Whirlpool e de todos do país, para reivindicar esse programa que possibilita a permanência na quarentena, salvando vidas contra a pandemia, ao mesmo tempo que mantém os salários, os empregos e propicia uma vida digna para a classe trabalhadora.
- Fora Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!