Em 12 de dezembro milhares de estudantes secundaristas por toda a Áustria entraram em paralisação. Esse é o maior movimento estudantil dos últimos tempos. Nós publicamos abaixo um relato da Rebellion – a organização de estudantes marxistas na Áustria.
O movimento de protesto foi engatilhado pelos efeitos das novas regras para os exames finais (Matura), o qual de acordo com o Processo de Bologna da União Européia tem sido padronizado para todas as escolas. Essa novidade chamada Zentralmatura torna muito mais difícil a aprovação nos exames finais. Os estudantes estão muito irritados com o fato que eles não têm sido preparados suficientemente nos últimos anos para esse novo formato de exame. Como resultado, quando os exames foram realizados neste Outono (segundo semestre), muitos estudantes foram prejudicados quanto a obter os resultados que eles merecem e foi isso que os levou a esquentar os ânimos nas escolas.
O conservador “Sindicato dos Estudantes Secundaristas” (SU: School Student Union), que tem uma clara maioria na oficial Representação Federal dos Estudantes, convocou manifestações e uma paralisação escolar para o dia 12 de dezembro. Porém, depois a SU entrou em negociações com o governo, assinou um acordo e cancelou o dia de ação. Contudo, eles também disseram que não poderiam publicar o acordo imediatamente e que esperariam três dias antes de fazê-lo. Na segunda feira eles finalmente apresentaram o “acordo”. Todos os anúncios da mídia afirmavam que as demandas dos estudantes tinham sido atendidas e que não haveria mais paralisação. Isso obviamente teve um efeito desmobilizador e de confusão nos estudantes. Contudo, ao longo do dia um número crescente de estudantes utilizaram websites de relações sociais para declarar que este acordo é uma farsa e que não irá mudar nada. No fim, uma garota tomou a iniciativa de convocar os estudantes para manter a paralisação em Viena no dia 12 de dezembro. Então, toda esquerda e organizações estudantis seguiram seu exemplo e apoiaram a paralisação. Espontaneamente em outras cidades pelo país estudantes das escolas que não tinham nenhuma estrutura de organização oficial se mobilizaram para suas próprias manifestações.
Em Vorarlberg a mobilização para a paralisação foi organizada desde o começo pela direção Marxista Socialist Youth (SJ). Isso significou que a manobra da SU não poderia ter o mesmo efeito de interrupção como teve em outras regiões, pois o movimento foi muito melhor organizado e ocorreu democraticamente com o envolvimento direto dos estudantes nas escolas.
Surpreendentemente a AKS (Organização dos estudantes Sociais Democratas) também se juntou ao protesto. Uma semana antes eles ainda estavam se posicionando contra a paralisação e apoiavam nada mais do que reformar o novo sistema de exames finais. Contudo, o ânimo contra a conservadora SU (que todos agora chamavam de “união pelega”) está tão aquecido que a AKS viu a chance de fazer pesar a balança das forças de dentro das estruturas oficiais da representação estudantil em seu favor. Eles utilizaram seu aparato organizacional para estender os protestos e dentro de um dia eles tinham chamado por paralisações em Linz, Innsbruck e Klagenfurt.
Devido à traição aberta da conservadora SU não havia muito tempo para organizar esse protesto. Organizadores e ativistas também tinham que lutar contra o fato de que a mídia não anunciou a nova convocação pelas paralisações, a SU e os diretores das escolas (secundaristas) espalharam a desinformação sobre a paralisação e houve aberta repressão em muitas escolas contra os planos dos estudantes de participar das ações.
Fora da SJ em Vorarlberg nenhuma organização estava realmente organizando a mobilização. Como resultado, os protestos de ontem tiveram um caráter muito espontâneo. Em Viena 5 mil, em Linz 8 mil, em Vorarlberg 2 mil (mais os 1500 professores que também estão na luta contra os cortes de salário e longas horas de trabalho), em Salzburg 1 mil, em Innsbruck 2 mil e 500 em Klagenfurt dão um quadro muito impressionante do ânimo entre os estudantes secundaristas. Não somente foram grandes, mas os atos foram muito explosivos. Em Klagenfurt a polícia até mesmo dissolveu a manifestação porque o “ânimo estava muito agressivo” enquanto os estudantes marchavam ao parlamento regional. Em Viena frutas e latas foram atiradas contra a Bundeskanzleramt, o escritório do chanceler.
No fim do ato em Viena delegados da manifestação foram convidados a realizarem falas ao Ministério da Educação. Somente isso já representa um grande sucesso aos protestos. Porém os representantes do governo disseram que eles somente negociariam com os representantes oficiais dos estudantes apesar do fato de que estes “representantes” oficiais terem sido completamente deslegitimados.
Os Marxistas explicaram que o próximo passo deveria ser a realização de conferências pelos ativistas onde delegados para as negociações deveriam ser eleitos e um claro programa deveria ser discutido. Essa ideia tem sido levada adiante em Viena onde delegados serão eleitos nas escolas. Em várias outras cidades a ideia é difundir a organização de conferências similares.
Na segunda, a próxima rodada de discussão com o ministro vai ocorrer. Os resultados dessas negociações devem ser públicos. Se nenhum resultado for alcançado (o que é o mais provável de acontecer) então nós precisaremos de outra paralisação. A plenária de paralisação em Vorarlberg já indicou a convocação de outra paralisação para a próxima semana.
Na próxima semana o novo governo, que se posiciona em favor de um programa de austeridade, privatizações e contrarreformas, será empossado. Na segunda os professores realizarão manifestações contra os ataques aos seus direitos e condições de trabalho (que terão várias consequências para os estudantes também). Na terça essa contrarreforma será votada no parlamento. Na quarta, o sindicato do setor público dos trabalhadores irá organizar uma manifestação nacional em Viena para exigir aumento salarial depois de dois anos de congelamento.
Os Marxistas defendem que os estudantes secundaristas devam se conectar com essas lutas sob o slogan “Financiem a educação não os bancos”. A chamada por uma luta unificada dos estudantes e professores pelo porta-voz da SJ Vorarlberg foi recebida com “aplausos frenéticos”, como um jornal burguês escreveu.
O ânimo está aí para continuar esse protesto de modo muito mais efetivo e democraticamente organizado com uma clara perspectiva política. Essa luta pode ser vencida e isso poderia ser o início de um movimento maior para reformas progressivas do sistema educacional. Sem dúvida que isso teria um importante efeito naqueles que no movimento dos trabalhadores estão fartos da política da liderança Social Democrática e verão a necessidade de se preparar para enfrentar os eminentes ataques contra seu padrão de vida.
Traduzido por Pedro Bernardes