Os operários da Flaskô continuam a sua luta pela estatização da fábrica e em defesa dos empregos.
Quase 300 pessoas, entre trabalhadores, estudantes, lideranças políticas e sindicais, presenciaram um dia histórico da luta pelo socialismo. No último dia 10 de junho, a Fábrica Ocupada Flaskô realizou uma atividade de comemoração de 8 anos de controle operário, contando com a presença de Esteban Volkov, neto do grande líder revolucionário, Leon Trotsky.
A atividade teve início às 19h, na fria noite de sexta-feira, contando com um grande número de apoiadores da luta da Flaskô. Mas logo, o calor representado pela força de cada um dos presentes fez com que a noite fosse muito agradável, num dia histórico da resistência contra o capitalismo.
Primeiramente, apresentou-se o documentário da campanha pela “Declaração de Interesse Social da Flaskô, Vila Operária e Fábrica de Cultura e Esportes”, realizado pelos próprios trabalhadores da Flaskô. O filme retrata os fundamentos sociais, políticos e jurídicos para que a Prefeitura Municipal de Sumaré declare toda a área da fábrica para fins de desapropriação.
Em seguida, Pedro Santinho, coordenador do Conselho de Fábrica da Flaskô, fez um breve histórico da luta dos trabalhadores da Flaskô, do Movimento das Fábricas Ocupadas, denunciando a intervenção jurídico-político ocorrida na Cipla e Interfibra, explicando a campanha pela declaração de interesse social, assim como apontando os desafios que a Fábrica ocupada Flaskô terá no próximo período. Emocionado, foi aplaudido por todos os presentes, sentindo a bravura de todos os trabalhadores nestes 8 anos de luta pela estatização sob controle operário.
Desde já, Pedro convocou todos os presentes e apoiadores à comparecerem à Audiência Pública no Senado Federal, que ocorrerá no dia 05 de julho, em Brasília. Antes de encerrar, ressaltou o fato histórico de comemorar os 8 anos da Flaskô com a presença de um grande representante da luta pelo socialismo, o curador do Museu Trotsky, no México, o camarada Esteban Volkov.
Em continuidade, seguiram-se saudações à luta dos trabalhadores da Flaskô. Alessandro Rodrigues, vice-presidente da Associação dos Moradores da Vila Operária, parabenizou a luta da Flaskô, explicando que a luta da Vila e da Flaskô se fortalece a cada dia, vendo que a união é a força da classe trabalhadora e popular. Kléber Dib, da Associação DIB de Esportes, explicou que o projeto da Fábrica de Esportes só é possível por conta da luta dos trabalhadores da Flaskô, que possuem clara perspectiva de privilegiar o interesse social da área, proporcionando melhor qualidade de vida ao povo sofrido de toda região. Roque Ferreira, vereador do PT em Bauru/SP, camarada da Esquerda Marxista, representando o Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, explicou que a resistência da Flaskô é um exemplo de luta pela construção do socialismo, tendo os trabalhadores como protagonistas de um processo emancipatório de transformação social. Por fim, José Arbex Jr., jornalista da revista Caros Amigos, que chegou mais tarde, fez uma saudação importante sobre o significado da resistência da Fábrica Ocupada Flaskô e a luta pelo socialismo, em especial ao olhar a situação de crise do capital que se expressa na Europa e nos países árabes, e nesse sentido, a presença de Estevan Volkov coroa a importância da luta da emancipação dos trabalhadores.
Duas saudações foram destacadas, já que vindas das representações de trabalhadores da Venezuela. Abraão, Dirigente Sindical das Empresas Polar (maior empresa da Venezuela – de bebidas e alimentos), saudou os 8 anos da Flaskô com grande entusiasmo, explicando como a solidariedade de classe é essencial para a construção do socialismo. Frisou que ninguém deve duvidar da força dos trabalhadores, e que o exemplo disso é o que tem ocorrido na Venezuela, apesar da burocracia e dos reformistas. Ramón, membro do Conselho de Fábrica de Inveval, empresa sob controle operário, e que é grande exemplo de luta na Venezuela, nos brindou com uma saudação emocionada, explicando o significado dos 8 anos de controle operário na Flaskô que se relacionam com os 8 anos de solidariedade entre Inveval e Flaskô, fazendo com que um trabalhador, seja de qual país for, saiba que o que os une é a relação de trabalho, e que isso é muito forte, e devemos seguir firmes pelos nossos ideais, na construção do socialismo. Nesse sentido, Ramón, que é militante da organização “Lucha de Clases”, seção venezuelana da Corrente Marxista Internacional, citou Trotsky, fazendo referência ao “Programa de Transição”, dizendo que lá está o programa que precisamos para fazer a revolução. É lá que está, frisou ele, a importância de nossas lutas pela nacionalização sob controle operário.
Após estas saudações, foi relatada a presença de diversas entidades e apoiadores que engrandeceram a atividade de 8 anos de controle operário da Flaskô. Estiveram presentes um grande número de militantes do MST, uma Delegação da Escola Nacional Florestan Fernandes, companheiros do MTST, estudantes do CACH (Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp), estudantes do Centro Acadêmico XVI de Abril, da Faculdade de Direito da Puc-Campinas, companheiros do MTD, do Instituto Voz Ativa, do grupo de teatro Cassandras, do PSOL, do PSTU, da LER-QI, da ASS, do Coletivo de Comunicadores Populares, do Coletivo Miséria, do PCR, do Movimento Negro Socialista, do Comitê Boliviariano, do Sindicato dos Músicos de São Paulo, de diversos Diretórios Municipais do PT, dos militantes da Esquerda Marxista, da Oposição Cutista dos Servidores de Campinas, diversos estudantes da região, lideranças populares da região, moradores da Vila Operária, estudantes do Mestrado em Economia pela GLU (Global Labor University) dos Estados Unidos e da Tanzânia, entre tantos outros que estiveram presentes, ou que enviaram uma saudação, como o vereador Breno Cortella, do PT de Araras/SP.
Dando continuidade, passamos à composição da mesa, chamando Pedro Santinho, representando o Conselho de Fábrica da Flaskô, e Caio Dezorzi, representando a Livraria Marxista, que impulsionou o giro com Esteban Volkov Bronstein por todo Brasil, com debates em São Paulo, Recife e Joinville. Caio explicou o sucesso das atividades, que proporcionou um grande debate sobre a defesa do socialismo e do legado de León Trotsky.
Lev Davidovich Bronstein, mais conhecido como Leon Trotsky – líder revolucionário que, junto com Lênin, foi fundamental na Revolução de Outubro de 1917. Foi também o organizador do Exército Vermelho e o fundador da IV Internacional. Sua obra, por sua grandiosidade e profundidade, é considerada a continuadora da obra de Marx, Engels e Lênin. Esteban foi o único sobrevivente da família de Trotsky, que foi toda assassinada a mando de Stalin na década de 30. Ele tinha apenas 14 anos de idade e já morava com seu avô, quando este foi assassinado no México, em 20 de agosto de 1940, por um agente stalinista. Trotsky morreu, mas sua obra, seu legado, suas idéias permanecem vivas no coração da classe operária mundial e em cada luta travada pelos trabalhadores contra os capitalistas e contra a burocracia que contamina o movimento operário.
Esteban dedicou sua vida a preservar e defender a obra e o legado de seu avô, que sofreu ataques de todos os lados, com falsificações, campanhas difamatórias e calúnias de todo tipo. Ele fundou o Museu Leon Trotsky, que funciona na antiga casa do avô, no México. Esteban falou por pouco mais de meia hora para uma platéia muito atenta. Deixou claro que nunca teve a pretensão de ser continuador da obra do avô, mas que, como testemunha histórica compreende que é seu dever e compromisso restabelecer a verdade histórica diante da monstruosa campanha de calúnias e falsificações organizada mundialmente pelo stalinismo desde a década de 1920.
Ele ressaltou que o que houve na ex-União Soviética foi uma caricatura sangrenta do socialismo e que nada tinha a ver com os princípios comunistas defendidos por Marx, Engels, Lênin e Trotsky. Lembrou como o seu avô já havia caracterizado bem isso em suas obras, como “A Revolução Desfigurada” e “A Revolução Traída”. Nesta última, Trotsky faz o prognóstico de que se não houvesse uma revolução política na URSS para que a classe operária tomasse o poder da casta burocrática, o capitalismo seria restaurado. E hoje todos somos testemunhas do acerto histórico dessa previsão.
Interessante também foi a descrição, emocionada, de Esteban ao estar numa atividade de 8 anos da Flaskô, de uma Fábrica que luta pela estatização sob controle operário, como exemplo vivo da luta do disposto no Programa de Transição. Como químico, Esteban visitou o chão de fábrica e ficou contente com a qualidade da produção, ressaltando que se não bastassem todas as conquistas sociais da gestão operária da Flaskô, a produção das bombonas e tambores é de muita bem feita.
Após responder as perguntas realizadas, relatou o episódio do assassinato de Trotsky em 20 de agosto de 1940, Esteban, que tinha 14 anos de idade e morava com Trotsky no México, disse que ao voltar da escola e encontrar a casa cheia de policiais e camaradas correndo de um lado para o outro pôde ver seu avô com o rosto coberto de sangue, ainda vivo. E as últimas palavras que ouviu de seu avô foram dirigidas à companheira de Trotsky, Natasha: “Não deixe o garoto ver isso!”
Mesmo nos seus últimos momentos de vida, compreendendo que Stalin havia conseguido cumprir sua missão de eliminar todos os líderes revolucionários de Outubro, Trotsky ainda se preocupava com a impressão que tal cena poderia causar a um garoto de 14 anos.
Ele disse ainda que a “Teoria da Revolução Permanente” e o “Programa de Transição”, ambos também escritos por seu avô, seguem atuais e que o socialismo hoje é mais viável, possível e necessário do que na época de Trotsky. Enfatizou a importância dos fatos que estão ocorrendo entre os jovens na Europa, no norte da África e no Oriente Médio. Ressaltou que todas as lutas dos oprimidos são importantes, mas que o fundamental e decisivo para a humanidade permanece sendo a luta da classe operária por sua emancipação.
Em seguida, após Esteban ser muito aplaudido, foi passada a palavra ao Carlão, trabalhador da Flaskô, que em nome de todos os trabalhadores, saudou a presença de todos os presentes e apoiadores, ressaltando que somente com a unidade de classe dos trabalhadores pode resistir contra os patrões, e que a solidariedade que cerca a luta da Flaskô é que a manteve aberta, contra todos os ataques. Desta forma, junto com Manu e Chaolin, em nome de todos os trabalhadores da Flaskô, entregaram ao Esteban os livros publicados pela Flaskô e uma cachaça brasileira, como forma de agradecimento por conta de sua presença.
Para coroar a celebração dos 8 anos da Fábrica Ocupada Flaskô, Esteban Volkov assinou o manifesto pela “declaração de interesse social da Flaskô”, que já conta com quase 1.000 assinaturas, de diversas forças políticas, intelectuais, lideranças de movimentos sociais e populares.
Para encerrar a atividade, nada melhor do que cantar, unidos e de punhos erguidos, o hino da luta internacional dos trabalhadores: “A Internacional”.
Viva a luta pelo socialismo!
Viva a luta internacional dos trabalhadores!
Viva a luta dos trabalhadores da Flaskô!
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