Editorial da 12ª Edição do jornal Tempo de Revolução. Faça sua assinatura e receba no seu e-mail!
No último domingo, 31 de outubro, iniciou-se em Glasgow, Escócia, a COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).
Durante o encontro, os países têm assinado acordos se comprometendo com metas de redução de emissão de gás carbônico, metano e do desmatamento, com o objetivo declarado de conter o aquecimento global e impedir que a temperatura média do planeta se eleve acima de 1,5 ºC em relação ao século 19.
O fato é que as mudanças no clima têm provocado incêndios, inundações, secas e ondas de calor ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, protestos massivos em defesa do meio ambiente ocorreram em diferentes países nos últimos anos. Estima-se que em 2019, 6 milhões de pessoas participaram de protestos do movimento “Fridays for Future”, as greves de estudantes contra as mudanças climáticas.
Entre promessas e a realidade
Entre as promessas firmadas pelos governantes na COP26 e as ações concretas há uma longa distância. Assim como o Acordo de Paris (2015), o que os governantes assinam são intenções, que podem ou não cumprir, e não sofrerão nada se não cumprirem as metas estabelecidas. O Brasil, por exemplo, acabou de assinar na COP26, sob pressão internacional, o acordo para redução de emissão de metano. No entanto, não existe nenhum plano de como isso será feito e, como sabemos, o governo Bolsonaro incentiva o agronegócio, a extração predatória de riquezas naturais e o desmatamento, ou seja, tudo o que vai na contramão da redução da emissão de gases do efeito estufa.
Nem Bolsonaro, nem Biden, nem Macron, nem a ONU estão, de fato, comprometidos com a preservação do planeta. Estão todos empenhados na defesa do capitalismo e este sistema, baseado na propriedade privada dos meios de produção e nos Estados nacionais, é incapaz de planificar globalmente a produção e distribuição de mercadorias de maneira “sustentável” para satisfação das necessidades humanas. Cada corporação capitalista busca elevar seus lucros no menor prazo possível e com o menor custo possível, independente dos riscos ambientais envolvidos. Os desastres em Mariana e Brumadinho são um bom exemplo disso. O “ecocapitalismo” não passa de uma ilusão, ou um bom discurso demagógico para políticos, ou mesmo um lucrativo negócio.
A regulação das emissões de gás carbônico sob o capitalismo significou a criação de um novo mercado, o de créditos de carbono, em que países compram e vendem créditos de emissão do gás. Um mercado que tem movimentado bilhões de dólares.
A mudança da matriz energética de fontes que emitem CO2 (petróleo, gás, carvão etc.) para fontes renováveis envolve altos custos e esbarra em interesses de grandes empresas e nações. Ao mesmo tempo, as fontes alternativas de energia se tornam um novo mercado e o fato é que elas não são tão “limpas” sob as mãos dos interesses privados. As usinas de energia solar matam pássaros a depender de onde instaladas e as placas, com vida útil média de 25 anos, quando descartadas de maneira inadequada contaminam o solo e a água com silício, cobre e chumbo. A energia eólica também tem impactos ambientais, causando mortes de animais e alterações no ecossistema. As usinas hidrelétricas, majoritárias no Brasil, também são conhecidas pelos impactos ambientais e sociais gerados pela inundação de áreas para criação dos reservatórios. Essas fontes renováveis de energia, a serviço dos lucros de grandes empresas, também são fontes de prejuízos ao meio ambiente.
O problema é o ser humano?
Entre os que não levam em conta as questões de classe envolvidas na luta em defesa do meio ambiente e que não conseguem olhar para além dos limites do capitalismo, é comum colocar a culpa pela crise ambiental no ser humano em geral ou na ação humana no planeta. Para muitos destes, o problema central seria a existência de muitos seres humanos e seu hábito consumista. A solução, portanto, seria combater o consumismo (e não o capitalismo), ou mesmo reduzir a população mundial. Para os que seguem esse raciocínio, a pandemia do coronavírus provavelmente foi algo positivo.
Tais ideias, no fundo, retomam os argumentos reacionários apresentados por Thomas Malthus, economista do início do século 19, que afirmou que a fome, a pobreza, as doenças e a mortalidade generalizadas eram o resultado da “superpopulação”. No entanto, aqueles que, como Malthus no passado, veem o crescimento da população como um problema intransponível ignoram a possibilidade de desenvolvimento das forças produtivas livre das amarras do capitalismo, tornando possível a satisfação das necessidades humanas de maneira harmoniosa com o meio ambiente.
Os que colocam a culpa no consumo focam como solução as ações individuais. Cada um deve comprar menos, reciclar seu lixo, comer menos carne ou não comer carne, comprar produtos “verdes” etc. Defender que essa é a solução é distrair as massas do real responsável pela crise ambiental: a burguesia e seu sistema. No mundo, 100 grandes empresas são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito estufa, e apenas entre 3% e 10% do lixo nos países capitalistas avançados é produzido pelas residências. O restante é resultado principalmente de processos industriais em larga escala, da construção e da mineração.
Há um sistema que lucra com a obsolescência programada e bombardeia diariamente as massas com propagandas para criar novas necessidades e assim elevar o consumo e fazer a economia girar. Não há como melhorar ou regular o capitalismo, é preciso derrubá-lo.
A tarefa dos socialistas na defesa do meio ambiente
Os marxistas lutam em defesa do meio ambiente compreendendo a necessidade da transformação radical da sociedade para que, de fato, seja interrompida a caminhada em direção à destruição da natureza e da vida no planeta, parte da caminhada em direção à barbárie proporcionada pelo capitalismo.
Assim como na pandemia, as vítimas centrais dos desastres ambientais são os mais pobres e o proletariado.
Estamos juntos com os jovens que tem saído às ruas contra as mudanças climáticas, apontando a necessidade de uma plataforma de classe, que conecte a luta em defesa do meio ambiente com a luta da classe trabalhadora e a luta pela transformação revolucionária da sociedade. Algumas demandas que consideramos necessárias neste combate:
- Prisão dos que provocam queimadas ilegais e confisco de suas terras.
- Estatização do transporte público, incluindo ferrovias, ônibus e serviços de carona. Investimento em larga escala em transportes públicos ecológicos, acessíveis e integrados.
- Reestatização das empresas de eletricidade, gás e água. Investimento em massa em energias renováveis.
- Estatização dos bancos, terrenos de especulação e grandes empresas de construção, a fim de construir habitações sociais de qualidade e realizar um programa de restauração dos edifícios existentes.
- Nenhuma compensação para ex-proprietários de empresas estatizadas. Controle e gestão democrática dos trabalhadores das indústrias estatizadas.
- Um plano, liderado por trabalhadores, para fazer a transição de setores poluentes para indústrias não poluentes.
- Colocar todos os recursos naturais – minas, rios e florestas – sob propriedade pública e controle democrático dos trabalhadores. Por um programa mundial de reflorestamento e despoluição de rios.
Para combater a destruição ambiental no Brasil e no mundo, é preciso um plano socialista de produção, uma economia baseada nas necessidades da sociedade e não nos lucros. Isso deve envolver a propriedade pública e o controle dos trabalhadores sobre os principais recursos econômicos, incluindo bancos, transportes, setor de energia, serviços públicos e os principais monopólios industriais. É parte central desse combate hoje, no Brasil, a luta para pôr abaixo o governo Bolsonaro e abrir caminho para um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais.