Dólar, Inflação e dívida externa e interna

As últimas semanas foram marcadas pela entrada em cena das massas nas ruas, gritando e protestando, exigindo o rebaixamento do valor das passagens e reagindo contra a repressão. Esta situação fez com que algo que seria normalmente a manchete da maioria dos jornais desaparecesse no turbilhão de notícias: o dólar teve uma alta de mais de 20% e o Real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo! A inflação vai bem, obrigado e a geração de empregos cai constantemente. O desemprego continua estável no Brasil, mas algo vai mal.

As últimas semanas foram marcadas pela entrada em cena das massas nas ruas, gritando e protestando, exigindo o rebaixamento do valor das passagens e reagindo contra a repressão. Esta situação fez com que algo que seria normalmente a manchete da maioria dos jornais desaparecesse no turbilhão de notícias: o dólar teve uma alta de mais de 20% e o Real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo! A inflação vai bem, obrigado e a geração de empregos cai constantemente. O desemprego continua estável no Brasil, mas algo vai mal.

Os economistas burgueses, que há muito deixaram de analisar as verdadeiras causas dos fenômenos porque sabem que no fundo isso levará ao questionamento do modo de produção burguesa, enfileiram “fatos” que teriam conduzido a esta situação – desoneração tributária, diminuição do superávit primário, falta de investimentos, fala do presidente do Banco Central dos EUA, etc.

Voltaremos a esta lista posteriormente, mas antes vamos desvendar para nossos leitores as reais causas desta situação. A obra mais portentosa de Marx, O Capital, tem um subtítulo frequentemente esquecido: Crítica da Economia Política. Sim, o que Marx faz é justamente ao desvendar os mistérios do Capital, explicar que os seus movimentos tem a ver com a economia e a economia é parte da politica, é resultado da luta de classes.

Durante os últimos anos e particularmente depois da crise de 2008 o Brasil tornou-se o queridinho dos grandes aplicadores. O afluxo de capital era tão grande que o dólar chegou ao valor de 1,60 reais, quase voltando a paridade! Dilma e Mantega durante dois anos falaram em “guerra cambial”, desvalorização artificial das moedas fortes, etc., e esmeravam-se em Fórum após Fórum internacional em propagandear tal questão.

Nós explicamos na época que esta “guerra cambial” tinha atrás de si uma questão muito simples: para poder financiar os bancos e grandes empresas, os estados capitalistas tinham acumulado dívidas. Salvaram as grandes empresas e os grandes bancos assumindo suas dívidas. E a melhor maneira de poder “pagar” esta dívida, que era financiada internacionalmente (China, Brasil, Japão e Inglaterra são os maiores detentores de títulos do tesouro dos EUA) era desvalorizar a moeda, produzir inflação, reduzir os juros e pagar menos a seus credores. Logo depois da crise os juros nos EUA tornaram-se negativos em termos reais, sendo menores que a inflação! Ou seja, se você compra ou mantem títulos do Tesouro dos EUA você está perdendo dinheiro!

É evidente que tal manobra leva a diminuição do valor do dinheiro, assim como manobras suplementares de recompras de títulos com emissões, em outras palavras, na era do dinheiro eletrônico, isso funcionava, no Japão, nos EUA, na Europa, como uma verdadeira “emissão” de dinheiro, como se imprimíssemos papel sem as garantias de que este papel valia algo. Esta manobra é conhecida desde os tempos da idade média, quando os reis mandavam limar as moedas de ouro para produzir uma moeda a partir de outras quatro….

Nesta situação, o dinheiro fluía pra os países atrasados que não podiam aplicar a mesma tática, já que seu dinheiro, suas moedas, não tem “curso” internacional, não podem ser trocadas diretamente no mercado mundial (na prática, hoje, são poucas moedas que tem este valor. O Dólar, é claro, o Euro, o Yen Japones pela sua produção e investimentos internacionais. Além destes a Libra e o Franco Suíço, pela posição que estes países ocupam no sistema bancário internacional. Outras moedas, apesar de conversíveis, como o Dólar Australiano, não tem o livre curso destas outras cinco).

O Brasil, neste sentido, ocupou um lugar particular. Dirigido por um partido operário, que chegou ao poder com as eleições e aplicando uma politica pró capitalista, a partir da coalizão com a burguesia, o Brasil tinha um lugar de destaque na política internacional: a Estabilidade. O Governo Lula garantiu a estabilidade e com ela garantia um “bom lugar para negócios”. A partir das promessas e acenos de Lula, a partir de alguns programas de aumento de crédito, a promessa do paraíso futuro conduzia a estabilidade. A entrada de Dilma começa a mudar este cenário e no ano passado tivemos a maior onda de greves dos últimos tempos. O “mercado”, este ser tão sensível, viu a situação e começou uma operação cuidadosa de retirada de seus investimentos, que não é tão rápida assim.

A reação do governo foi rápida, para um governo que todos acusam de ser devagar quase parando. Ela acelerou a política de desonerações tributárias, em particular a desoneração da folha de pagamentos. E as concessões de serviços públicos para a iniciativa privada. Desgraçadamente, para os economistas de plantão, que de economia tem que se fazer de mortos, estes “fatores” ao invés de diminuir a inflação e aumentar a produção tiveram efeito contrário! Como isso aconteceu?

A começar que nem toda desoneração é igual. Uma coisa é diminuir o IPI, um imposto indireto. Isto tem reflexo direto no lucro da empresa. Por quê? Porque do preço que é vendido, o empresário precisa pagar os salários (diretos e indireto, como FGTS e previdência social), o capital investido (maquinas e equipamentos, aluguel de prédios e serviços, etc.) e extrair o lucro bruto, que será dividido entre os bancos, o governo (impostos e taxas) e o lucro líquido do empresário. Ao diminui os impostos e taxas (seja um imposto indireto, como o IPI ou um direto, como Imposto de Renda de Pessoa Jurídica), o governo diminui a sua fatia no lucro e o empresário a embolsa diretamente.

Ao diminuir o salário indireto (contribuição sobre a folha de pagamento) o governo aumenta o lucro bruto. O empresário sorri. Mas o governo aumenta o imposto indireto (contribuição sobre o faturamento) e o empresário se sente lesado. Afinal, o lucro aumentou, mas quem ganha é o governo? O resultado é simples: ele aumenta o preço “um tiquinho” ou, em palavras dos economistas burgueses, ele “embute” o preço do imposto indireto no preço da mercadoria. Ah, sim, isso causa inflação. Porque se o valor da mercadoria não mudou (a quantidade de horas trabalhadas e o custo do capital fixo), se ela é vendida por um “preço” maior é porque temos então uma diminuição do valor do dinheiro. Em outras palavras, quem paga o pato é o trabalhador que vai comprar os produtos e serviços mais caros. Assim, o governo tira a sua lasquinha, o banco aumenta os juros um pouquinho e o trabalhador reage: mais greves! Bingo, voltamos à economia política do qual os economistas fogem que nem diabo da cruz.

Como isso foi feito pelo partido operário no poder (o PT), como a principal central sindical (a CUT) não reagiu, o resultado disso foi que esta reação foi desordenada, milhares de greves com resultados díspares. Mas disparou no coração dos investidores o medo de que as coisas não estavam tão calmas quanto antes, a relação entre o partido e seus eleitores já não era tão simples.

E nos EUA o crescimento desordenado da dívida pública precisa de alguma forma ser controlado. E o Presidente do Banco Central vem desvendar o segredo que todos sabem: a farra vai ter que acabar em alguma hora. O coração dos investidores palpita mais forte e a retirada de dinheiro dos países atrasados, derrubando a cotação de todas as moedas mundiais é o hit do momento. E o país no qual as massas saem nas ruas é o país que mais “sofre” por isso. E não adianta a ‘boa vontade’ de Dilma, do presidente do BC brasileiro e do Ministro da Economia. As massas na rua falam mais alto ao coração dos “investidores” que qualquer outra garantia que lhes possa ser dada.

A situação econômica começa a agitar a classe operária. A revolta da juventude vai seguramente calar fundo. E os gritos de greve geral, da necessidade de todos juntos para recuperar o que o governo e os patrões estão tomando vão se tornar mais fortes. Combinado com a necessidade de se defender da ofensiva da direita que se vê nas ruas, o movimento operário vai se colocar em cena, com suas próprias bandeiras. A Esquerda Marxista estará junto a ele para ajudá-lo a superar os obstáculos na direção da sua unidade, a começar pela direção da CUT e do PT, exigindo que estas direções rompam com a burguesia.