Na madrugada de 26 de outubro de 2012 foi incendiado um dos espaços estudantis mais importantes e históricos do país: a sede do Comitê de Luta Estudantil do Politécnico – Comitê Estudantil em Defesa da Educação Pública (CLEP-CEDEP). Este espaço foi ganho depois da greve estudantil de 1968 e se manteve ativo por quase 44 anos para a organização dos estudantes filhos dos trabalhadores e para a organização do povo trabalhador em seu conjunto.
Na madrugada de 26 de outubro de 2012 foi incendiado um dos espaços estudantis mais importantes e históricos do país: a sede do Comitê de Luta Estudantil do Politécnico – Comitê Estudantil em Defesa da Educação Pública (CLEP-CEDEP). Este espaço foi ganho depois da greve estudantil de 1968 e se manteve ativo por quase 44 anos para a organização dos estudantes filhos dos trabalhadores e para a organização do povo trabalhador em seu conjunto. Aqui se abriga uma parte importante da memória dos estudantes mexicanos, contando com arquivos datados desde 1968 até as recentes lutas, muitos destes arquivos tristemente se perderam para sempre.
Este atentado aconteceu um dia depois da parada da ESIME Zacatenco e da marcha politécnica à Câmara dos Deputados onde se exigiu mais verba para a educação e ao IPN, e também uma verdadeira democracia. As mobilizações de ontem foram a continuação da luta desenvolvida desde 2 de outubro passado onde uma dezena de escolas do Instituto realizaram paralisações. No caso da ESIME Zacatenco foi uma semana inteira de greve com ações de massas contundentes que animaram a realização de paralisações em toda a zona norte do IPN, deixando claro nosso repúdio à nefasta Lei Federal do Trabalho que, no futuro eliminará nossos direitos como trabalhadores.
Querem passar a ideia de que o incêndio foi provocado por um curto-circuito e que a versão de um atentado é claramente falsa. Isso é apenas uma jogada que busca desviar o foco sobre a responsabilidade e do realmente ocorrido.Testemunhos do zelador que estava a cargo do edifício 1 (que é onde se encontra este local) disse que na madrugada houve movimentos de pessoas ali e que ele não se aproximou pensando que eram estudantes do CLEP-CEDEP. Durante a noite a energia elétrica de todos os edifícios é sempre cortada. Como pode haver um curto-circuito sem eletricidade? Este é um argumento inconsistente que os nós, estudantes da Escola Superior de Engenharia Mecânica não podemos aceitar. Para que acreditemos, as autoridades devem derrubar a ciência que nos ensinam na escola e demonstrar como fazer um incêndio por meio de curto-circuito sem ter corrente elétrica.
Este golpe não é coincidência, esta organização é a única sobrevivente da heroica luta de 1968 e já quiseram destruí-la em outras vezes, a perda dos arquivos históricos é um severo golpe contra a memória e tradição da luta dos últimos 44 anos. Mas esse ato apenas conseguiu fortalecer e recuperar com maior força nossa tradição e nossa história.
Por que golpear a CLEP-CEDEP? Porque é a organização mais capaz de enfrentar os desafios da história em cada etapa, porque em seu seio se formaram firmes lutadores que jogaram um papel importante no movimento operário, incluindo quadros que hoje estão no Sindicato Mexicano dos Eletricitários e muitos outros. Outros de seus membros estão na batalha na frente política ou nas organizações de bairros e em muitas outras frentes de luta por uma sociedade igualitária e justa.
A atual geração esteve presente jogando um papel de liderança nos protestos do #YoSoy132 contra a imposição de Peña Nieto. Diferente de outras organizações estudantis, o CLEP-CEDEP está muito longe do sectarismo, reconhece-se que não é possível transformar de maneira radical esta sociedade apenas pelos estudantes, é necessária a unidade de todo o povo e em particular somar-se à classe operária na ação. O movimento operário encontra-se organizado em sindicatos que às vezes estão burocratizados, organiza-se também no Morena, onde há lutadores valiosos, mas ali vemos que também há burocracia e políticas reformistas que não ajudam na luta pela emancipação. Isso pode repelir alguns estudantes a juntarem-se a estas organizações. O CLEP-CEDEP é uma organização claramente independente de qualquer partido político, seus membros jogaram um papel relevante na construção do Morenaje, que luta para que o Morena se livre de burocratas-carreiristas, e seja controlado pela base, por um partido dos trabalhadores com um programa socialista. Esta é uma forma clara do movimento estudantil lutar junto com os trabalhadores para transformar a sociedade, mas sem dúvida que isso não agrada nem um pouco o Estado e por isso nos atacam.
Eles golpeiam o CLEP-CEDEP porque de seu seio são forjados importantes quadros marxistas, tem sido um viveiro para fortalecer a Esquerda Socialista, a seção mexicana da Corrente Marxista Internacional. Isso é dito claramente porque nossa linha política marca como uma das principais tarefas dotar as organizações revolucionárias de quadros que lutem pelo socialismo. Atacam-nos por sermos marxistas, por sermos internacionalistas, por sermos defensores da educação para os filhos dos trabalhadores, por nos aliarmos com a classe operária e sermos consequentes lutadores por uma mudança profunda e radical de nossa sociedade.
Não negamos que ao ver nosso local histórico houve uma reação de tristeza, vários de nossos companheiros não puderam conter as lágrimas, vários graduados, ao ouvir a notícia faltaram em seus trabalhos para comparecer em nosso local. Mas não ficamos na tristeza, sabemos que este é um golpe do atual regime que se soma a outros ataques como o ocorrido contra os companheiros de Michoacán nas áreas rurais ou contra os estudantes da UACM que têm uma luta digna. Esse ataque foi informado à comunidade estudantil, há uma grande indignação, os estudantes sabem que esse é um golpe contra o conjunto do movimento estudantil e dos trabalhadores. Tomamos a decisão de realizar uma assembleia, onde não apenas os estudantes tomaram a palavra, mas também professores, todos explicaram a gravidade desses acontecimentos, os alunos apontaram o papel tão relevante que esta organização tem jogado para defender o Politécnico e a educação dos filhos dos trabalhadores.
A assembleia realizou uma marcha interna, sem esperar por chamar uma comissão todos os estudantes entraram na diretoria da escola. O diretor, apesar deste grave acontecimento, não estava presente, mas sim a direção geral. Deu-se um prazo de 15 minutos para que nos atendessem, finalmente ele chegou. Muitos estudantes e professores já estão fartos dessa autoridade incapaz e eles exigem sua renuncia, mas sabemos que este golpe vem de cima, de autoridades da direção geral, de autoridades federais do governo e de gente do governo do PRI. Este é o significado do retorno do PRI ao governo.
A assembleia obrigou as autoridades a dar um novo espaço para o CLEP-CEDEP, no qual já tomamos posse e de onde escrevemos este artigo. Dado que a infraestrutura foi queimada, decidimos tomar algumas cadeiras e mesas da direção da escola que são nossos principais móveis com os quais começamos a rearmar nosso novo espaço estudantil.
Deixemos claro que não vão nos deter, que não hesitaremos na luta por uma educação democrática, pública, gratuita e a serviço da sociedade, continuaremos lutando por uma sociedade socialista, onde não haja exploração do homem pelo homem, nem discriminação e onde o ser humano tenha direito ao estudo, trabalho digno e a viver uma vida plena.
Grande parte de nossos móveis foi carbonizado (mesas, arquivos, equipamento de som, etc.), muitos deles pertenciam ao IPN (ou seja, também é do povo e dos estudantes), mas outros foram conseguidos com muito sacrifício e apoio econômico de estudantes, professores e trabalhadores. Fazemos um chamado ao conjunto da comunidade politécnica, aos sindicatos, aos comitês do Morena e Morenaje, comitês do #YoSoy132, às organizações do nosso povo de luta e aos jovens e trabalhadores em geral a apoiar-nos para recuperar a infraestrutura que é a ferramenta básica para a luta.
Mas como já dissemos, a perda mais sensível são os arquivos históricos. Fazemos um chamado aos graduados do Comitê de Luta de todas as gerações, aos que participaram nas lutas estudantis nas últimas décadas, que tenham arquivos pessoais do movimento estudantil, que doem este material ou doem cópias dos mesmos. Este é um legado que devemos deixar à atual e futura geração, para animá-los a lutar e para que aprendam com a experiência da luta do passado.
Fazemos um chamado aos estudantes e trabalhadores para que compareçam no nosso novo local, não sabemos se teremos que montar guardas durante os fins de semana. Teremos que guardar e transportar o que sobrou de nossa antiga sede. Precisamos de seu apoio. Compareçam ao edifício 2, primeiro piso, anexo 3 (em frente às escadas do lado dos estacionamentos).
O Estado quer nos destruir, mas não conseguirá. Contra a repressão nossa resposta é aumentar nossa organização. Chamamos a todos os estudantes e jovens conscientes, que querem lutar por uma melhor educação e sociedade para que se integrem ao CLEP-CEDEP e à Esquerda Socialista.
Participem da reunião de balaço da luta do IPN e do atentado contra a CLEP-CEDEP no próximo sábado, dia 27 de outubro às 10h00minhs, na seção 9 da CNTE, Belisario Domínguez 32, perto do metrô Aende.
Sua repressão não nos deterá!
Aumento de verba e democracia para a educação!
Não à reforma trabalhista dos capitalistas!
Do novo local do Comitê de Luta, anexo 3 do edifício 2, primeiro piso.
Unidos e Organizados Venceremos!
Tradução: Marcela Anita