Mesmo com a proposta muitíssimo recuada da Federação Única dos Petroleiros (FUP) para suspender a greve – que solicitava a suspensão das demissões da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (FAFEN-PR), suspensão da implementação da nova tabela de turno e retomada da mesa de negociações sobre as demissões e demais itens do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) –, o governo Bolsonaro não aceitou o acordo. De forma arrogante continua jogando muito duro contra a greve dos petroleiros e tenta criminalizá-la.
Em decisão individual, na noite do dia 17 de fevereiro, o Ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Granda, declarou que a greve dos petroleiros é abusiva, ilegal, de motivação política e afirma que os trabalhadores não estão cumprindo o contingente mínimo estabelecido em liminar anterior de 90% do efetivo, podendo causar desabastecimento. Além disso, autoriza a Petrobras a convocar os trabalhadores a voltarem ao trabalho em caráter judicial, e autoriza a aplicação de eventuais sanções disciplinares. Também ameaça de multa diária, dependendo do porte do sindicato, nos valores que variam de R$ 250 mil a R$ 500 mil e bloqueio de contas.
Depois de 18 dias, a greve continua avançando. Já são 121 unidades paralisadas, com mais de 20 mil trabalhadores – de um total de 46 mil – parados em todo o Brasil. As equipes de contingência já não conseguem dar conta de manter a produções nos níveis normais. O cansaço e a fadiga começam a afetar o trabalho. O apelo por parte da Petrobras para que os operadores aposentados voltassem ao trabalho não teve quase efeito algum. Mais cedo ou mais tarde a produção será impactada.
A força da greve de uma das categorias mais forte do país começa a ganhar o apoio da população, já que os demais trabalhadores sentem na pele o que significa pagar por serviços privatizados como luz e telefone. Essa força se chocará com a intransigência do governo Bolsonaro, que precisa derrotar os petroleiros para seguir em frente com seu projeto de privatização e de reforma administrativa.
A greve começa a tomar contornos dramáticos e comprova aquilo que temos dito há alguns anos: “Não existe onda conservadora no mundo”. O que temos é uma forte polarização na sociedade, os trabalhadores não estão derrotados e seus aparatos continuam intactos. Acreditar que existem condições políticas para um regime fascista no Brasil, repetir ao infinito que a democracia está em perigo, está levando estes dirigentes a um beco sem saída. A análise errada da situação política leva muitos dirigentes dos trabalhadores a insistirem na conciliação de classes. Quem rompeu os 13 anos de governos de conciliação de classe não foram as direções dos trabalhadores e sim as classes dominantes, pois precisam aplicar suas contrarreformas para garantir seus lucros.
A política de conciliação de classes está isolando as lutas das diferentes categorias, como a dos Correios e a dos trabalhadores da Casa da Moeda, que continuam em um impasse e a ameaça de privatização permanece. Assim como impede que a CUT se dirija aos trabalhadores acuados, como é caso dos trabalhadores da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), que estão tendo suas condições de trabalho destruídas e isso já impacta até na qualidade da água fornecida pela empresa. Neste momento, a CUT deveria realizar assembleias em todos os locais de trabalho, em cada categoria, para discutir e decidir como ajudar os petroleiros. Entretanto, a CUT continua com a política de conciliação de classes, até mesmo com o governo Bolsonaro.
Os petroleiros podem derrotar o governo Bolsonaro, mesmo isolados, por conta do papel que jogam na produção, mas para a maioria das categorias, lutar sozinho é muito difícil. Se todos os trabalhadores estivessem unidos a vitória estaria muito perto.
A classe dominante parece decidida a derrotar os petroleiros, o que abriria o caminho para um rápido processo de privatizações. Este é um dos primeiros embates sérios entre o movimento operário e o governo Bolsonaro. Os petroleiros estão decididos a fazer os maiores sacrifícios para deter as privatizações e garantir todos os empregos, estão buscando o apoio da população com manifestações de rua e venda de botijões de gás a preços subsidiados. A classe trabalhadora mesmo tendo passado por 13 anos de um governo de colaboração de classes, está rapidamente conectando com as tradições do movimento operário e uma nova capa de trabalhadores estão entrando na luta.
A arrogância do governo Bolsonaro pode fazer despertar as melhores tradições do movimento e mostrar a verdadeira força dos trabalhadores, que há muito tempo já não precisam mais da burguesia para tocar a produção.
Todo apoio à greve dos petroleiros!