Uma frase que deveria ser levantada por todos, mas na prática vemos o contrário na realidade brasileira, onde a vida negra vale menos que alguns quilos de carne. No dia 1º de maio aconteceu mais um brutal caso de crime racista, desta vez em Salvador na Bahia. Os jovens Bruno Barros (29) e Yan Barros (19) foram assassinados após serem pegos com alguns quilos de carne no supermercado Atakadão Atakarejo, no bairro Amaralina. Os seguranças do supermercado não lhes ofereceram nenhuma saída, optaram por espancá-los e depois entregá-los para uma facção que se encarregou de executar os dois.
Não é de hoje que acontecem casos brutais contra pessoas negras em supermercados no Brasil. Os últimos anos foram marcados por mobilizações da população negra, da classe trabalhadora, contra os casos recorrentes de violência racista. Não podemos esquecer do caso de João Alberto (40), no ano passado, que foi espancado e morto por seguranças do Carrefour de Porto Alegre, caso que gerou uma onda de manifestações que encorparam, na época, as manifestações de massas Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) que ocorreram por todo o mundo.
O caso dos dois jovens, tio e sobrinho, é uma das manifestações práticas das contradições da atual crise econômica que aflige todo o mundo capitalista, intensificado pela criminosa gestão do governo federal e de todos os capitalistas durante a pandemia, que colocou o Brasil de volta no mapa da fome. No final de 2020, mais de 19 milhões de brasileiros tinham experimentado o gosto amargo da fome e viram o desemprego aumentar rapidamente, eliminando qualquer possibilidade de muitos brasileiros visualizarem uma saída em meio às crises econômica e sanitária. O desespero de tal situação leva algumas pessoas a aceitarem a morte certa, imposta de cima para baixo, ou buscar alguma saída para obtenção do básico, que é a comida necessária para sobreviver. Junto a tudo isso, temos o aumento dos preços de produtos alimentares básicos como carne, arroz, leite etc. Esses aumentos que têm beneficiado apenas os capitalistas responsáveis pelas grandes indústrias, e que é dolorosamente sentido por toda a população pobre do país, no caso dos dois jovens não foi diferente.
Em um sistema que não oferece nenhuma saída para os trabalhadores, algumas pessoas se veem obrigadas a correr riscos para conseguir um pouco de comida e isto não deve ser visto como crime, a menos que aqueles que julgam dessa forma não tenham a mínima visão de toda a crise que afeta o país, e principalmente que afeta a população negra. Deve ficar bem claro que os jovens foram pegos tentando obter comida e nada mais que isso. É óbvio que a fome não deveria ser a realidade em lugar nenhum, mas a miséria é um dos pilares que sustenta o capitalismo e enquanto ele existir, a miséria e a fome não poderão ser erradicados completamente, na verdade a tendência é seu aumento, como observamos durante a crise da pandemia.
Mas dentro das lógicas desse sistema, os dois jovens negros foram criminalizados, e seu julgamento foi dado exatamente como vem sendo desde as fundações do país, da forma mais cruel possível e sem possibilidades de defesa, pois afinal, PARA ELES VIDAS NEGRAS NÃO IMPORTAM e o preço que se deve pagar pela luta por sobreviver é tortura e morte.
É necessário que se construa um movimento amplo contrapondo a atual criminalização da vida dos negros no país, sem nunca perder de vista que a população negra foi desde sempre lançada para a margem da sociedade brasileira e sofre diariamente todo tipo de violência e crueldade que vai do subjetivo ao mais velado possível.
A liberdade dos funcionários para escolherem se os dois jovens iriam viver ou ser torturados e mortos infelizmente é algo “normal” o capitalismo. Chamamos todos a adotar as palavras de ordem “Ser negro não é crime!” e se organizar para construir um movimento definitivo pela derrubada do sistema atual, a única saída para a real emancipação dos trabalhadores branco e negros e para o fim absoluto do racismo.
- Ser negro não é crime!
- Justiça para Bruno Barros e Yan Barros!
- Vidas negras importam!