Luiz Carlos, de 56 anos, foi abordado na rede atacadista Assaí em Limeira, interior de São Paulo, na sexta-feira (6/8), sendo acusado de roubo. Na abordagem, os funcionários responsáveis por fazerem a segurança do estabelecimento obrigaram o homem a tirar a roupa, ficando somente de peça íntima, para provar que não havia roubado nada. Um vídeo registrou a vítima chorando e rodeada de seguranças. Um boletim de ocorrência foi registrado por constrangimento.
Ao jornal EPTV, a esposa de Luiz Carlos disse que o marido tinha ido ao supermercado pesquisar preços e, por ter saído sem comprar nada, foi abordado por funcionários.
Casos como esse ou semelhantes acontecem com frequência. Em novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas foi morto no supermercado Carrefour em Porto Alegre. Tudo que fez a gerência e administração maior do supermercado foi demitir os responsáveis pela morte de João, além de oferecer uma indenização cujo valor foi acordado em 115 milhões de reais, o maior já fechado no Brasil por questões raciais, e que será usado para “ações de combate ao racismo”.
É fundamental que se explique que grandes empresas pouco se importam na realidade com ações de combate ao racismo, e mais fundamental ainda que se explique quais ações são essas, levando em consideração que o racismo, ideologia que beneficia o sistema capitalista, dá lucro a burguesia e permeia a condição de marginalidade da classe trabalhadora, principalmente negra.
Dar um alto valor de indenização e/ou simplesmente demitir funcionários não são ações que coíbem o racismo. Dar palco a questões identitárias, como muito é feito pela burguesia para nos fazer acreditar que estão ao nosso lado e que essa é a forma de acabar com o racismo, muito menos. A ação repressiva social é uma marca estrutural do racismo, tanto no Brasil quanto no mundo. A repressão que os trabalhadores negros sofrem têm raízes históricas que muito foram e são desenvolvidas, aprofundadas pelo capitalismo, mais ainda em sua fase imperialista.
Com tamanho colapso no qual o capitalismo nos joga, discutir esses acontecimentos numa perspectiva de classe é de suma importância para evidenciar que o combate ao racismo se fará com a derrubada total do sistema capitalista e de seus representantes. O que aconteceu com Luiz Carlos não pode simplesmente ser tratado como “constrangimento”. Luiz Carlos teve seu direito de ir e vir violado, teve sua integridade física e mental violentadas, foi de antemão tratado como um ladrão por ser negro. Isso não é nenhuma novidade, visto que em um país como o Brasil, que carrega uma massiva herança colonial de exploração, ser negro já é absurdamente tratado como um crime.
Nota completa lançada pelo Assaí
A empresa se desculpa pela abordagem indevida que causou o constrangimento ao sr. Luiz Carlos na última sexta-feira na unidade de Limeira. A companhia recebeu com indignação as imagens dos vídeos e se solidariza totalmente com o cliente. Como decisão imediata, ainda no final de semana, foi aberto um processo interno de apuração, realizado o afastamento do empregado responsável pela abordagem e, hoje, concluído o seu desligamento. A companhia também entrou em contato com a família do cliente, tão logo soube do ocorrido, se desculpando e se colocando à disposição para qualquer necessidade que ele tenha. Outras providências necessárias serão tomadas tão logo a investigação estiver encerrada. O caso deixa a companhia certa de que precisa reforçar ainda mais os processos com a loja em questão e todas as demais.
A empresa repudia qualquer ato que infrinja a legislação vigente e os direitos humanos. Considera o respeito como uma premissa fundamental para a boa convivência entre todos(as). O Assaí combate a violência, a intolerância e a discriminação, sejam elas de qualquer natureza, por meio de ações de conscientização, treinamento, compromissos públicos e manuais internos com orientação para os colaboradores e rede de relacionamentos, todos baseados no código de ética e na política de direitos humanos e de diversidade. No último semestre foram realizadas mais de 24 mil horas de treinamento sobre estes temas aos funcionários. A cia reitera que não tolera abordagens que fazem qualquer juízo de valor em relação à classe social, orientação sexual, raça, gênero ou qualquer outra característica. O Assaí está ciente do seu papel e sua responsabilidade perante a sociedade, os mais de 50 mil colaboradores e milhões de clientes que passam diariamente em nossas lojas – por isso, valoriza e respeita a diversidade em todas as suas formas de expressão.”
A nota por si só demonstra um cinismo profundo da empresa em relação ao ocorrido. Nela, a rede não chega nem a reconhecer o racismo, que é um crime. E ainda diz “juízo de valor em relação à (…) raça”, reforçando a ideia de que existem diferentes raças humanas. Aliás, essas grandes corporações já utilizam um argumento que conhecemos bem, de que realizam treinamentos sobre esses temas, que respeitam a diversidade, de que não toleram ações repressivas etc. Esse sentimento de revolta que demonstram ter não é real porque a repressão faz parte da geração de lucro para os capitalistas.
O fim do racismo só virá com a derrubada total do capitalismo. Marx, na sua suprema obra O capital, já auxiliava no caminho da emancipação dos trabalhadores, ao afirmar que “o trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro”. A emancipação da classe trabalhadora será obra dela mesma e, portanto, apoiar-se na organização política coletiva, compreender as opressões como fomentações do capitalismo e entender esse sistema decadente em sua contrariedade, fazendo-os a partir do estudo da teoria revolucionária são algumas das formas pelas quais alcançaremos a verdadeira libertação. Ser negro não é crime e organizar os caminhos para um novo mundo é uma expressão disso.
Justiça para Luiz Carlos!
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