Pandemia, mais de 130 mil mortes pelo país, seis meses que homens e mulheres trabalhadores vivem a incerteza do amanhã, lutando dia após dia pelo sustento e sobrevivência. Se não bastasse o caos e ataque constante de um governo negacionista e bárbaro, no dia 09 de setembro, mulheres de todo país sentiram na pele a dor e desprezo de uma justiça sanguinária e conservadora fruto desse sistema opressor, que trata a carne humana de acordo com as cédulas que há no bolso do réu. Se você for principalmente mulher, mesmo com todas as provas incriminatórias suficientes, será ignorada e humilhada por aqueles que dizem seguir as leis.
Mariana Ferrer, jovem de atualmente 23 anos, viveu em 2018 um dos maiores terrores “comuns” entre mulheres do mundo todo: foi dopada e estuprada dentro do próprio ambiente de trabalho (um beach club de luxo em Florianópolis – SC). “Minha virgindade foi roubada de mim, junto com meus sonhos”. Após viver uma noite de terror, chegar ensanguentada em casa, desesperada e confusa, sendo levada pela mãe a delegacia ainda “abobada”, a garota precisou se submeteu aos mais diversos exames, passar pela tortura de ter que relatar todos os dias o que vivenciou para diversas autoridades e médicos (em sua maioria homens), tomando coquetéis de remédios que, de acordo com seu relato, mais a fazia mal do que ajudava.
Sem apoio de ninguém – a não ser de sua família – Mariana foi à luta, coletando todas a provas que conseguia, desde gravações de câmeras de segurança até DNA presente no sêmen do estuprador que foi deixado em sua roupa. Contudo, a coerção de um sistema podre e discriminatório não se agradou com as denúncias da jovem.
Mariana conta em seus relatos que chegou receber visitas surpresas de policiais e delegados armados em sua residência para interrogá-la, momentos em que ela e a irmã se encontravam sozinhas. “Sempre foi papel da polícia descobrir quem é o autor do crime e puni-lo, mas, a partir de um momento, começou o empenho deles em obstruir provas e proteger os envolvidos”. Acontece que o acusado é André de Camargo Aranha, um empresário que, segundo a vítima, era um dos clientes mais ricos e frequentes no Café de La Musique.

Com medidas cruéis, os advogados do estuprador chegaram a manipular arquivos da jovem, apresentando ao juiz supostas postagens de fotos nuas da vítima como uma forma de justificativa. Além disso, Mariana possuía uma conta em uma rede social onde fazia constantes denúncias, dando voz a outras garotas que já haviam passado pelo mesmo terror naquele estabelecimento e, do dia para noite, essa conta foi apagada por ordem judicial, sem muitas explicações.
E foi, após dois anos, que a justiça de Santa Catarina alegou “falta de provas” no caso e inocentou o acusado. Em nota o juiz afirmou que era melhor inocentar cem acusados do que condenar um inocente (medida essa que não se aplica aos jovens da periferia que passam anos presos sem nenhuma acusação). O advogado de Aranha comemorou nas redes sociais, enquanto a família da vítima segue assustada.
“Mariana vive praticamente dentro do quarto. Tem sequelas que são irreversíveis. O estupro é muito isolador. Não bastasse o crime em si, ainda há a injustiça e a insensibilidade das pessoas que não sabem o quão devastador é esse crime”.
Não há muito o que dizer. É notório que nesse sistema opressor e misógino a mulher não tem voz. A violência faz parte da vida de mulheres trabalhadoras por todo o país, porque o capitalismo, além de subjugar a mulher através da exploração assalariada, busca transformá-la em propriedade privada. Infinitas Mariana’s passam por violações e são silenciadas. O machismo e o capitalismo são faces da mesma moeda, protegendo majoritariamente homens ricos, que usufruem do seu poder econômico para controlar a vida de uma mulher de acordo com seus interesses.
A plena emancipação da mulher não irá acontecer nesse sistema burguês, dividido em classes que oprime e pune como lhe convém. Esse caso é só mais um exemplo que a ilusão da democracia burguesa não permite a liberdade que as mulheres buscam. É necessário olhar para as causas principais e não apenas aos eventos isolados, não aceitar políticas reacionárias e fragmentadas, que limitam a luta, entendendo que só com uma revolução socialista conseguiremos de fato um caminho à emancipação, para uma sociedade sem opressões de gênero, cor da pele, orientação sexual, nacionalidade ou credo religioso.
Cada vez mais a barbaridade do sistema capitalista fica mais visível, expondo as atrocidades que ocorrem nesse Estado burguês e seu Judiciário. Quantas mais Mariana’s precisam derramar sangue para serem ouvidas? Dentro desse sistema não há voz disponível às mulheres e nunca terá. Buscar soluções dentro do capitalismo, onde impera o machismo, patriarcado e misoginia e segmentar as lutas contra essas opressões em critérios identitários só trará mais dor e sofrimento. É preciso unir as mulheres trabalhadoras num sólido movimento socialista, portanto, que combata junto com os homens trabalhadores a causa de todo o mal.
Justiça para Mari Ferrer! Fim da violência contra as mulheres! Abaixo o machismo e o capitalismo!
Relato de Mariana Ferrer, para quem tiver estômago:
https://twitter.com/marianaferrerw/status/1245860737945227269