Momento decisivo para o desenvolvimento da situação em crise geral do sistema.
Saiu nesta sexta-feira, 15, o esperado relatório mensal do Fed (Banco Central dos EUA) Industrial Production and Capacity Utilization (Produção Industrial e Utilização da Capacidade). Pouca novidade. A produção industrial da maior economia do planeta continuou desabando no mês de Abril (-0,5%). Embora em um ritmo menos acelerado que no mês de Março (-1,5%), não se pode tirar nenhuma conclusão de que esteja acontecendo uma reversão do processo de desabamento: -19,2% no 1º Trimestre de 2009! Deve-se aguardar o fechamento do 2º Trimestre (Abril-Junho) para se reavaliar a verdadeira tendência.
A situação da produção na Zona do Euro e no Japão é mais sombria que nos EUA. O desemprego aumenta nestas áreas dominantes do mercado mundial na mesma velocidade que diminui a sua produção industrial e a utilização da capacidade instalada. Na Europa a situação está à beira do pânico social. No Japão, onde as exportações afundaram mais 26,8% no 1º Trimestre de 2009 frente ao trimestre anterior, o governo deve anunciar dia 20 de Maio que o Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia mundial caiu cerca de 16% nos três meses terminados em Março, seguindo-se a uma queda de 12,1% no 4º Trimestre de 2008. Essa contração japonesa no 1º Trimestre de 2009 terá sido a mais severa desde os recordes iniciados em 1955, superando o afundamento de 13,1% cravado durante a crise de 1974, também conhecida como a “1ª crise do petróleo”.
Varejo
Mas todos esses fenômenos que emanam mais diretamente da esfera produtiva de mais-valia da economia mundial não são levados muito a sério pelos economistas do sistema, muito mais preocupados em salvar o capital fictício – preço de mercado das propriedades, os chamados “ativos financeiros”, ações, títulos públicos, papéis de bancos, etc. É por isso que um indicador aparentemente muito menos determinante na ordem das coisas abalou os mercados globais na última semana, interrompendo a disparada iniciada em Março passado nas principais bolsas de valores mundiais.
Vejam como a Bloomberg noticiou a erupção do inesperado vírus:
“As vendas no varejo nos EUA caíram inesperadamente no mês de Abril, pelo segundo mês seguido, indicando que o crescimento do desemprego está levando as pessoas a segurar o dinheiro. O decréscimo de 0,4% seguiu-se a uma taxa revisada de 1,3% do mês de Março, conforme relatório publicado hoje pelo Departamento do Comércio, em Washington. Outros relatórios mostraram que as empresas continuaram a reduzir estoques de matérias primas, devido a desaceleração da demanda e aumento dos custos com combustíveis pressionando para cima os preços dos bens importados. Menos empregos, queda dos valores das casas e perdas recordes da renda das famílias podem limitar por anos a capacidade de gastar dos consumidores. As ações caíram pelo terceiro dia seguido, com os relatórios não indicando nenhuma recuperação da pior recessão em pelo menos meio século.” (Bloomberg.com – “US Retail Sales Unexpectedly Fell in April” – 13/05)
As vendas no varejo representam a demanda individual (não confundir com a demanda do governo ou a das empresas). Mas por que sua queda abalou tanto a confiança dos capitalistas na última semana? Acontece que se a evolução das vendas no varejo em uma situação de crise econômica não é tão importante para indicar as perspectivas mais precisas da crise, ela é decisiva para indicar a situação do fluxo de crédito na economia e, conseqüentemente, a rentabilidade dos bancos.
Armadilha
A perda da confiança e a paralisação do mercado de crédito privado é o grande desafio enfrentado atualmente pelos governos das principais economias. Desativar a armadilha da liquidez (taxas de juros próximas de zero e pesadíssima desintermediação financeira) é a primeira condição para salvar todo o capital fictício do sistema. Os bancos têm que voltar a emprestar e os consumidores a se endividar. Isso representaria a volta da estabilidade ao sistema financeiro mundial.
Ben Bernanke (presidente do Fed) não cansa de repetir que essa estabilização do sistema financeiro é a condição necessária para se recuperar tanto a produção quanto o comércio da economia, quer dizer, é a condição primeira para se escapar da catástrofe. Ora, é justamente a ausência desta recuperação das funções normais de intermediação financeira do sistema bancário que está a ser demonstrada pela forte diminuição do consumo individual nas principais economias.
A bola está na marca do pênalti: a crise geral (catástrofe econômica) só pode se manifestar com a explosão do capital fictício global. Se a situação do mercado monetário e de capitais (particularmente as bolsas de valores) recaírem na prostração que se encontravam até meados do mês de Março passado, o desenlace do atual período de crise estaria muito próximo. Mas Bernanke e seus colegas da Zona do Euro e do Japão ainda têm muita munição para segurar a situação. Talvez não. É muito difícil dizer agora as reais possibilidades desta luta dos capitalistas para salvar o sistema como um todo salvando em primeiro lugar o capital fictício.
Defrontamo-nos aqui não só com uma conjuntura prática de enorme complexidade, como também com uma importante questão teórica: qual a relação entre os mercados financeiros (e o próprio Estado que os representa) e as condições imediatas da produção e acumulação do capital propriamente dito? Falaremos alguma coisa sobre isso no próximo boletim.
* Este texto foi publicado no boletim Crítica Semanal da Economia.