Editorial da 7ª Edição do jornal Tempo de Revolução. Faça sua assinatura e receba no seu e-mail!
Em “Reforma ou revolução”, escrito há mais de 120 anos, Rosa Luxemburgo trava um combate com os chamados revisionistas que defendiam a possibilidade de se alcançar progressivamente o socialismo por meio dos sindicatos, das reformas sociais e da democratização política do Estado. Eduard Bernstein e Conrad Schmidt, alvos da crítica de Rosa, foram expressões do que hoje conhecemos como “reformistas clássicos”, isto é, que abandonaram a luta pelo socialismo em uma época em que o capitalismo era capaz de conceder conquistas à classe trabalhadora, migalhas em comparação às enormes riquezas acumuladas pela exploração do proletariado.O que predomina hoje entre os dirigentes das organizações do movimento operário é o distanciamento inclusive do “reformismo clássico”. Para boa parte dos atuais dirigentes o socialismo deixou de ser um objetivo mesmo que distantes e lembrado nos dias de festa.
Em “Dois artigos sobre o centrismo” (tradução livre), Trotsky nos ajuda a compreender o que se passa:
“Visto historicamente, o reformismo perdeu completamente seus anfitriões sociais. Sem reformas não há reformismo; sem capitalismo próspero, não há reforma. A ala reformista de direita torna-se antirreformista no sentido em que ajuda a burguesia direta ou indiretamente a esmagar as antigas conquistas da classe trabalhadora.”
18 de agosto: os mesmos erros se repetem
Toda a “esquerda” brasileira tem acordo em afirmar que a PEC 32, também conhecida como Reforma Administrativa, é um ataque a direitos históricos dos trabalhadores e aos serviços públicos, em particular pelo ataque à estabilidade dos servidores e o avanço da iniciativa privada em serviços públicos. Centrais sindicais e sindicatos de servidores organizaram um Encontro Nacional online em 29 e 30 de julho que definiu o 18 de agosto como dia de greve dos servidores e mobilizações. No entanto, como explicamos em um artigo publicado no dia 16/8, poucas centrais sindicais (e sindicatos) realmente mobilizaram suas bases para combater a reforma. O que vimos foram mobilizações parcas e o já velho discurso de que tudo se resolverá em 2022.
No Paraná, APP-Sindicato, o maior sindicato de trabalhadores em educação do estado, chamou paralisação, mas não mobilizou a categoria e o resultado foi uma baixíssima adesão ao 18 de agosto em todo o estado. Os outros sindicatos seguiram o mesmo caminho. Uma parte nem aprovou paralisação e os que aprovaram não mobilizaram. O Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac) nem assembleia convocou para decidir sobre a paralisação. Em Cascavel o resultado foi uma baixíssima adesão à manifestação com apenas 300 participantes e em Curitiba não foi diferente.
Em São Paulo, cerca de 3 mil pessoas – um número pequeno para uma das maiores cidades do mundo – se reuniram em um ato que aconteceu apesar das direções sindicais. As imagens divulgadas das mobilizações em outras capitais como Rio de Janeiro e São Luís, por exemplo, mostram como foi baixa a participação dos trabalhadores na “greve nacional”.
Esses são alguns exemplos do que ocorreu (ou não ocorreu) em 18 de agosto pelo país. Sem entrar na questão da real utilidade, ou inutilidade, de se organizarem as famigeradas lutas de um dia, vemos que nem isso os principais aparatos e dirigentes estão dispostos a organizar.
Estamos diante da maior crise da história do capitalismo e a burguesia não pode oferecer nem as migalhas. Há tempos estamos nesta situação em que os chamados reformistas (de direita e os de esquerda) são o principal obstáculo para qualquer luta da juventude e da classe trabalhadora. A “greve geral” de 14 de junho de 2019 contra a Reforma da Previdência de Bolsonaro, as lutas pelo Fora Bolsonaro em 2020 e novamente a possibilidade de uma greve geral em 2021 são apenas alguns exemplos de combates sabotados por essas organizações (CUT, PT, PCdoB etc.) e seus dirigentes.
Diferente dos “reformistas clássicos” combatidos por Rosa, os reformistas de nossa época não são capazes de lutar nem por reformas. O que eles mantêm é a crença na inutilidade ou impossibilidade da conquista do poder pelos trabalhadores e o desprezo pela teoria. Todo o ônus de sua ação em defesa das instituições burguesas recai sobre a classe que dizem representar.
A maioria dos dirigentes sindicais converteu-se em burocratas, mais preocupados com a preservação de seus privilégios do que com a defesa dos interesses dos trabalhadores. Passaram-se para a defesa da conciliação de classes e a integração das organizações dos trabalhadores à burguesia e ao Estado burguês. Por isso nosso combate é pela independência de classe dos sindicatos e nossa defesa é a de sindicatos democráticos, de base e em luta pelo socialismo.
Acreditar que os problemas de nossa classe podem ser resolvidos pelo capitalismo inevitavelmente irá levar o defensor dessas ideias à adaptação e defesa do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção. São esses dirigentes que hoje direta ou indiretamente contribuem com a continuidade do governo Bolsonaro e suas contrarreformas. Vender a falsa ilusão de que tudo se resolverá em 2022 por meio das eleições é aceitar um governo que não fez nada para barrar o avanço da pandemia que em breve atingirá a marca oficial de 600 mil vítimas.
Derrubar a PEC 32 e pôr abaixo o governo Bolsonaro
Na edição passada do Tempo de Revolução e em artigo publicado em nosso site explicamos todas as consequências dessa contrarreforma e mobilizamos a partir da base para construir a paralisação do dia 18. Nós defendemos dentro do movimento dos trabalhadores um ponto de vista revolucionário de classe. Para os marxistas, a luta sindical e parlamentar são parte do processo de organização e educação da classe trabalhadora, para que por meio da luta por suas reivindicações transitórias (nesse caso as reformas estão incluídas) seja possível fazer a ponte entre a necessidade imediata e a luta pela revolução.
Acima de tudo, compreendemos a necessidade de um partido revolucionário da classe trabalhadora, pois como Marx e Engels explicaram no Manifesto Comunista:
“Os comunistas desdenham esconder seus pontos de vista e objetivos. Eles declaram abertamente que seus fins só podem ser alcançados com a derrubada pela força de todas as condições sociais existentes.”
Devemos nos organizar para defender as conquistas de nossa classe e apresentar uma alternativa à miséria capitalista. As cenas recentes de homens e, principalmente, mulheres desesperadas para fugir do Afeganistão após a tomada de Cabul pelo Talibã é um importante exemplo do que nos oferece o regime burguês. Após 20 anos de ocupação imperialista, o que os Estados Unidos deixaram foi um país arrasado e sob o controle de um grupo de ideologia medieval. Mais do que nunca a humanidade está diante do dilema “socialismo ou barbárie”.

Convidamos os jovens e trabalhadores que anseiam por alternativas genuinamente socialistas de luta contra os ataques desse sistema a ajudar a construir os comitês de ação, a conhecer nossas posições e fazer parte da Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI).