A onda conservadora vai tomar conta! Essa ideia desesperada tem contagiado a maior parte dos ativistas e organizações que se reivindicam de esquerda. Entretanto, as manifestações deste domingo (26/3) organizadas pela direita revelaram a vazante da maré liderada por entidades como o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem Pra Rua. Com pautas diversas, do apoio à Operação Lava Jato até a defesa da Reforma da Previdência, o que era visto como uma onda perdeu a força que aparentava.
De mais de um milhão anunciados nos protestos pré-impeachment, a maré baixa observada no fim de semana registrou alguns milhares espalhados por todo o país. Em São Paulo, os “verde e amarelo” enfrentaram o contraste da Avenida Paulista, que evidenciou seu pífio desempenho. No ninho dos bolsonaros, os organizadores negaram-se a oferecer uma contagem para o Rio de Janeiro.
Na “República de Curitiba” e em Belo Horizonte, os números otimistas falam de três mil participantes. Seriam 1,5 mil em Salvador. Em Brasília, são contabilizadas 630 pessoas. Outras capitais não registram mais do que algumas centenas, como Porto Alegre, Recife e Fortaleza.
Em todo o país, a PM e a imprensa burguesa esforçam-se em não emitir contagens, embora seja muito mais fácil contabilizar pequenos conglomerados do que manifestações massivas. Com closes fechados em pequenos grupos na maior parte do tempo, a cobertura televisiva tentava camuflar o esvaziamento dos atos, apesar de ter apoiado sua preparação.
Para aqueles que se lançam ao mar da política, desconhecer as leis do socialismo científico se mostra tão perigoso quanto ignorar as leis que regem o funcionamento dos oceanos quando se está em alto mar. Uma onda, assim como um fenômeno social, decorre de determinadas condições, obedece a determinadas leis internas, e terá um necessário resultado.
O fenômeno social que a maioria da esquerda caracteriza como “Onda Conservadora” também obedece a essa dinâmica. E desprovidos da capacidade de pensar dialeticamente, apenas conseguem ver “conservadorismo” ou “progresso” no cenário. Adotar tal concepção se mostrou errôneo para a ciência, para a filosofia, e se revela cada vez mais para a política.
Com o enfraquecimento das manifestações chamadas pela direita, então se pode dizer que a tal onda está perdendo força? Afinal, mesmo os poucos milhares que saíram domingo caracterizados com as cores nacionais gritavam Fora Temer. Apontavam os políticos do Congresso Nacional como inimigos. Clamavam pela prisão de Lula e Dilma, mas também de Eunício, de Aécio e de todos os acusados de corrupção pela Lava Jato. Ao mesmo tempo em que parte dos organizadores declamava discursos favoráveis à Reforma da Previdência, surgiram cartazes contra a medida.
Para responder a essa pergunta, recorremos ao estudo do fenômeno natural adotado para a metáfora em questão. Uma onda pode ser ocasionada por diversos motivos: interferência do vento, tremores nas profundezas do oceano ou até mesmo eventos externos que atinjam o mar. Quando algum desses elementos influi nas águas, forma-se uma onda. Constituída, ela percorre uma longa distância na superfície, a pista, para então chegar na areia.
O que muitos veem como “Onda Conservadora” consiste em uma das várias decorrentes dos tremores na crosta da sociedade capitalista, em suas classes, nos grupos e nas camadas que as constituem. Elas se confluem, mudam de qualidade, de quantidade, e adquirem novas formas de aparência. De suposta “Onda Conservadora”, passa a abalar a permanência das próprias instituições da sociedade e de seu funcionamento. O fracasso da direita neste domingo revela esse processo.
O que se preparam são novos tremores, e novos ventos, cada vez mais fortes e violentos. As contradições profundas do sistema capitalista apenas conseguem oferecer distúrbios em sua superfície. Esses continuarão confluindo para formação de novas ondas. E essas se chocarão cada vez mais ameaçadoras contra a ordem estabelecida, e por consequência contra as reconfortantes explicações desprovidas de dialética dos teóricos do reformismo de esquerda. De ondas “conservadoras” e de “progresso”, os distúrbios nas profundezas sociais capitalista se mostram cada vez mais como ondas de transformação social.