Algo que começou como manifestação espontânea de jovens da periferia da cidade de São Paulo, ganhou repercussão nacional após a repressão da polícia e os episódios de segregação social patrocinados por shopping centers da cidade, com aval da justiça. São os “rolezinhos”, que agora se espalham pelo Brasil.
Tudo começou em dezembro, quando a Câmara Municipal de SP aprovou uma lei que proibia explicitamente a realização de bailes funks em locais públicos e em locais privados de acesso público. Sem entrar no mérito dos bailes funks, é evidentemente um abuso restringir em uma lei a realização de um evento de acordo com seu gênero musical. No final das contas, o prefeito Haddad, que está bem cauteloso depois que foi atropelado pelas mobilizações de junho, vetou o PL aprovado pela Câmara.
Mas a questão ultrapassou sua motivação inicial. Jovens começaram a se reunir aos milhares em shopping centers da cidade mostrando a falta de opções de lazer na periferia e, claro, divertindo-se a seu modo nesses encontros. A repressão policial, que deteve uma série de participantes, culminou no dia 11 de janeiro com o uso de bombas de efeito moral, gás pimenta e balas de borracha dentro do Shopping Metrô Itaquera, expulsando do centro comercial todos que pareciam um jovem da periferia. Também no dia 11 de janeiro, um shopping de luxo, o JK Iguatemi, após conseguir liminar na justiça, fez uma seleção na porta de entrada de quem poderia e de quem não poderia entrar. Foram barrados, é claro, aqueles que tinham cara de jovens pobres.
Tais ações colocaram fogo na questão, os “rolezinhos” ganharam o apoio de movimentos sociais e um conteúdo político mais claro, contra a repressão, o racismo e a segregação. Eventos foram marcados para essa semana em São Paulo e mais 8 Estados. A falsa democracia, a falsa liberdade, ficou escancarada. A verdade é que existem certos lugares privados, e também públicos, nos quais o pobre não deve entrar. É coisa que não precisa ser dita, está subentendida, mas alguns jovens romperam essa barreira. Mostraram que também querem e precisam de lazer, diversão e cultura, o que é negado a eles por esse sistema e seu Estado.
Essa manifestação deve ser entendida também dentro da situação política nacional e internacional. É bom lembrar que em anos anteriores, estouraram rebeliões de jovens das periferias na França, Inglaterra e Suécia. A Suécia ficou em chamas no ano passado após o assassinato pela polícia de um rapaz negro. Nacionalmente, tivemos as mobilizações de junho que prosseguiram no 2º semestre com o aquecimento das lutas de trabalhadores e movimentos sociais. A periferia de São Paulo também ficou em chamas após o assassinato pela polícia dos jovens Jean e Douglas. As pessoas não estão aceitando tudo de forma passiva, a situação política mudou e continua mudando.
O capitalismo não consegue proporcionar nenhuma perspectiva de futuro digno para a classe trabalhadora e a juventude, que, apesar de suas direções traidoras, seguidamente buscam demonstrar sua disposição de luta.
Os “rolezinhos”, é certo, não tinham um conteúdo político claro no seu início e nem seus participantes objetivos claros. Foi algo que surgiu e se massificou de forma espontânea, com toda a heterogeneidade e confusões próprias de uma ação organizada dessa forma. Mas o certo é que expressa uma rebeldia entre a juventude frente à sua situação e seu futuro. Com o desenvolvimento, principalmente após a repressão, é que começaram a ganhar a participação e solidariedade de movimentos organizados, além de uma pauta mais clara.
Para nós, a raiz do problema é o sistema capitalista. A falta de lazer, de cultura, esporte e educação para o conjunto da juventude são problemas impossíveis de serem resolvidos por esse sistema em sua fase decadente. Tudo o que vemos são cortes nos diretos e serviços para os trabalhadores e seus filhos em todo o mundo. Devemos explicar isso pacientemente, principalmente para a juventude que desperta para a luta, organizando o combate com os métodos e objetivos corretos para alcançarmos uma verdadeira vitória. Nesse sentido, é que desenvolvemos a campanha “Público, Gratuito e para Todos: Transporte, Saúde, Educação! Abaixo a repressão!” que pode ser conhecida nessa página do facebook: www.facebook.com/PublicoGratuitoParaTodos