Por Alan Woods – 27 de dezembro de 2007
Essa carnificina assassina sobre o PPP ocorre em meio à campanha eleitoral onde, após anos de ditadura militar, as massas estão ansiosas por mudanças.
Benazir Bhutto acaba de ser assassinada num ataque-bomba suicida.
A líder do Partido do Povo do Paquistão (PPP) tinha acabado de participar de um ato de apoiadores do PPP na cidade de Rawalpindi quando ocorreu o atentado.
As primeiras informações afirmaram que mais de 100 morreram, mas notícias mais recentes reduziram a estimativa de mortos para cerca de 15 pessoas.
Essa carnificina assassina sobre o PPP ocorre em meio à campanha eleitoral onde, após anos de ditadura militar, as massas estão ansiosas por mudanças. Havia uma onda de apoio ao PPP, o qual certamente ganharia as eleições previstas para o dia 8 de janeiro, tanto para as Assembléias Provinciais como para a Assembléia Nacional.
A campanha estava ganhando força, e a ala marxista do PPP estava ganhando apoio entusiástico para sua mensagem revolucionária e socialista em lugares tão distintos como Karachi e as áreas tribais do Waziristan no extremo norte do país. As eleições teriam refletido uma grande mudança à esquerda no Paquistão. É isso que tem deixado a classe dominante alarmada. É isto que está por trás da atrocidade cometida.
Este foi um crime contra os trabalhadores e camponeses do Paquistão, uma sangrenta provocação com a intenção de cancelar as eleições que o PPP certamente ganharia e de arrumar uma desculpa para mais restrições de liberdade, incluindo uma nova lei marcial e o reforço da ditadura. Trata-se de um ato contra-revolucionário que deve ser condenado sem reservas.
Quem foi o responsável? A identidade dos assassinos ainda não é conhecida. Mas quando perguntei aos meus camaradas em Karachi eles disseram “foram os mullahs”. As obscuras forças da contra-revolução em países como o Paquistão geralmente se escondem atrás do Fundamentalismo Islâmico. Há inclusive rumores de que Benazir teria sido alvejada a partir de uma mesquita, mas a imprensa ocidental insiste na hipótese de um homem-bomba suicida.
Independentemente dos detalhes técnicos do assassinato e de quem seja o agente direto deste ato criminoso, os promotores desta conspiração certamente são “peixes grandes”. Os chamados jihadis e fundamentalistas são apenas marionetes e assassinos de aluguel das forças reacionárias entrincheiradas nas elites paquistanesas e no aparelho de Estado, mais notadamente no Serviço de Inteligência Paquistanês (ISI), barões da droga conectados com os Talibans, além do regime saudita sempre ansioso em apoiar e financiar qualquer atividade contra-revolucionária no mundo.
A guerra no Afeganistão está tendo efeitos ruinosos no Paquistão. A classe dominante do Paquistão tinha ambições de dominar o país depois da expulsão dos russos. O exército paquistanês e o ISI têm interferido por décadas no Afeganistão. Eles ainda estão envolvidos com os Talibans e os barões da droga (que são a mesma coisa). Enormes fortunas são feitas via o tráfico que está envenenando o Paquistão e desestabilizando sua economia, sociedade e política.
O assassinato de Benazir Bhutto é mais uma expressão dessa podridão, degeneração e corrupção que está corroendo os órgãos vitais do Paquistão. A miséria das massas, a pobreza, as injustiças, exigem uma solução. Os latifundiários e capitalistas não têm qualquer solução. Os trabalhadores e camponeses buscam uma saída através do PPP.
Algumas pessoas ditas de “esquerda” dirão: “Mas o programa de Benazir não poderia representar uma saída.” Os marxistas do PPP estão lutando pelo programa do socialismo, pelo programa original do PPP. Mas as massas só podem compreender quais programas e políticas são corretas através de sua própria experiência.
As eleições de Janeiro dariam às massas uma oportunidade de avançar pelo menos um passo na direção certa, impondo uma derrota decisiva nas forças da reação e da ditadura. Então elas poderiam aprender sobre programas e políticas não em teoria, mas na prática.
Agora parece que o mais provável é que as massas terão essa oportunidade negada. O intuito desta provocação criminosa é bem claro: cancelar as eleições. Não vi ainda a resposta das autoridades paquistanesas, mas seria impensável que as eleições pudessem agora ocorrer em 8 de janeiro. Eles vão no mínimo adiá-la por algum tempo.
Que efeito isso terá nas massas? Eu acabo de conversar ao telefone com os camaradas marxistas da corrente “The Struggle” em Karachi, cidade onde eles têm combatido os grupos de ladrões reacionários do MQM, numa tensa campanha eleitoral. Eles dizem que há um sentimento geral de choque entre as massas. “Pessoas estão chorando e as mulheres estão em pranto em suas casas. Posso ouvi-las agora”, me disse o camarada.
Mas esse choque já está se transformando em raiva. “Há revolta nas ruas de Karachi e outras cidades. As pessoas estão bloqueando ruas e queimando pneus”. Há aqui um aviso para as elites de que a paciência das massas está no fim. O movimento das massas não pode ser parado pelo assassinato de um líder – nem mesmo de mil líderes!
As massas sempre aderem a suas organizações tradicionais. O PPP se desenvolveu no calor do movimento revolucionário de 1968-69, quando os trabalhadores e camponeses chegaram perto de tomar o poder.
O ditador Zia assassinou o pai de Benazir. Isso não evitou a ressurreição do PPP nos anos 80. Então eles exilaram Benazir e instauraram uma nova ditadura. Isso também não impediu o PPP mais uma vez voltar à tona nos últimos meses, como foi mostrado nas manifestações de 3 milhões de pessoas que celebraram a volta de Benazir.
As massas vão se recobrar deste choque momentâneo e desta dor. Essas emoções serão substituídas em tempo por raiva e desejo de vingança. O que é necessário é preparar as massas para uma nova ofensiva revolucionária que irá atacar os problemas do país pelas suas raízes.
A classe dominante pode adiar as eleições, mas mais cedo ou mais tarde elas terão de ser convocadas. Os reacionários calculam que o afastamento de Benazir vai enfraquecer o PPP. Esse é um sério erro de cálculo! O PPP não pode ser reduzido a um indivíduo apenas! Se isso fosse verdade, o PPP teria desaparecido com a morte do pai de Benazir, Zulfiqar Ali Bhutto.
O PPP não é apenas uma pessoa, mas sim a expressão organizada do desejo de mudança das massas. São os três milhões que vieram saudar o retorno de Benazir. São as dezenas de milhões que estavam se preparando para votar pela mudança nas eleições de janeiro. Esses milhões agora estão se lamentando. Mas eles não vão se lamentar para sempre. Vão encontrar meios efetivos de luta para se fazerem ouvir.
As massas devem protestar conta a morte da líder do PPP através de um movimento nacional de protesto: atos de massa, greves, demonstrações de protesto, culminando numa greve geral. Eles devem levantar a bandeira da democracia. Contra a ditadura! Não mais leis marciais! Novas eleições imediatamente!
A liderança do PPP não deve capitular a nenhuma pressão de adiamento das eleições. Deixem a voz do povo ser ouvida! Acima de tudo, o PPP deve retomar seu programa e seus princípios originais.
No programa de fundação do PPP está inscrito o objetivo de transformação socialista da sociedade. Ele inclui a nacionalização da terra, da indústria e dos bancos sob controle dos trabalhadores, e a substituição do exército atual por milícias de camponeses e trabalhadores. Essas idéias são tão corretas e relevantes quanto no período em que foram escritas!
Não há nada mais fácil do que levar embora a vida de um homem ou uma mulher. Nós humanos somos criaturas frágeis e podemos facilmente ser mortos. Mas você não pode matar uma idéia cujo tempo chegou!