O seu programa, apesar dos limites nacionalistas, foi um dos motivos para que Castillo sofresse ataques por parte da mídia e das classes dominantes, incluindo outdoors em Lima com os dizeres “Comunismo é pobreza” e “Socialismo leva ao Comunismo”. O premiado escritor Vargas Llosa, que se opunha a Fujimori, chegou a afirmar que votar em Keiko seria “a única forma de salvar a democracia”. Em resposta à campanha de ataques, Castillo tentou apresentar uma face mais moderada para sua candidatura, propondo reverter alguns de seus compromissos anteriormente assumidos. Um dos economista da equipe de Pedro Castillo divulgou nas redes sociais documento afirmando que não serão realizadas estatizações, expropriações ou confiscos:Pedro Castillo plantea descentralización económica efectiva y revisar los contratos ley invirtiendo la proporción del reparto de ganacias, adjudicando el 70% para el Perú y 30% para las transnacionales.
— Partido Perú Libre (@PERU_LIBRE1) May 1, 2021
— Pedro Francke (@pedrofrancke) June 8, 2021Contudo, apesar da vitória da esquerda sobre a candidatura apoiada pela burguesia, não é possível ter ilusões nas ações do futuro governo. Embora se utilize de uma retórica marxista, o programa de Peru Livre é nacionalista, com apelos aos capitalistas para que trabalhem no desenvolvimento do país. O partido tem como modelo os governos de Correa no Equador e de Morales na Bolívia. Contudo, nessa questão há uma diferença histórica significativa: os governos de Correa e Morales ocorreram em um ciclo de alta dos preços das matérias-primas, permitindo certa margem de manobra para implementar algumas reformas sociais dentro dos limites do capitalismo. Castillo, contudo, assumirá não apenas em meio a uma pandemia, mas também na mais profunda crise do capitalismo. Portanto, para aplicar o programa pelo qual foi eleito, precisará combater os interesses da burguesia e do imperialismo. Caso contrário, governará tendo pouco espaço para realizar até mesmo limitadas reformas. Cabe destacar, contudo, que, apesar de todas as contradições do processo político peruano e das limitações estratégicas de Castillo e de seu partido, a derrota de Keiko Fujimori significa um duro golpe nos interesses da burguesia e do imperialismo. É preciso entender que a polarização na eleição presidencial no Peru se deu como parte de um processo político mais amplo da América Latina, onde o descontentamento acumulado causado pela crise capitalista e pelo aumento da exploração e da pobreza levou a levantes no Chile e no Equador e a movimentos massivos no Paraguai e na Colômbia, entre outros países. Pedro Castillo sofrerá todos os tipos de pressões para não aplicar o programa pelo qual foi eleito ou para implementá-lo de forma o mais moderada possível. Mesmo que suas propostas não sejam socialistas, tendo uma perspectiva nacionalista de reformas sem romper com o capitalismo, seu mandato será pressionado e atacado pela burguesia e pelo imperialismo. As classes dominantes sabem que, em um cenário de crise, ao mobilizar a luta dos trabalhadores, até mesmo o limitado programa de Castillo pode ser uma ameaça aos seus interesses e privilégios. O mandato de Castillo provocará ilusões nos trabalhadores e camponeses pobres, em especial por conta das promessas feitas na campanha e dos ataques que o futuro presidente continuará a sofrer por parte da burguesia. Os trabalhadores e camponeses pobres encerram o processo eleitoral se sentindo vitoriosos e fortalecidos, dispostos a continuar a se mobilizar por suas reivindicações, enxergando Castillo como um aliado para suas lutas. Durante o governo, deve seguir a efervescência social e continuará a ocorrer ações dos trabalhadores no sentido de garantir o atendimento de suas reivindicações. Contudo, a esperança provocada pelo novo governo vai se chocar com o não atendimento das promessas por parte de Castillo. Os trabalhadores peruanos farão sua experiência com o novo governo. Essa experiência, marcada por muitas mobilizações e lutas, com certeza fará com que os trabalhadores e os camponeses pobres superem as ilusões em Castillo e em seu partido. Diante do débil regime burguês e da instável situação econômica de país, abre-se a perspectivas não apenas de grandes lutas, mas também de profundas transformações na sociedade. [1] Embora a apuração ainda não tenha sido encerrada, a votação de Castillo não deve ser superada por Fujimori, considerando os dados divulgados pela Oficina Nacional de Procesos Electorales (ONPE)