Editorial da edição nº 28 do Jornal Luta de Classes.
O Presidente do Senado, José Sarney, há muito tempo deixou de ser Senador por seu estado natal, o Maranhão. Sua filha é hoje governadora desse Estado, em uma situação no mínimo estranha: o STF (Supremo Tribunal Federal) cassou o mandato do governador eleito e, ao invés de mandar promover nova eleição, deu o mandato para o segundo mais votado. A Fundação Sarney é alvo de todo o tipo de denúncias, de recebimento e mau uso de verbas públicas; e seu Presidente é exatamente o presidente do Senado.
O Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira, usa o seu cargo para fazer campanha contra a reeleição do governador petista da Bahia. No Pará, Jader Barbalho pretende se tornar candidato contra a governadora petista Ana Julia ou “mandar” no seu governo, exigindo secretarias importantes. No Rio Grande do Sul, o PMDB terá um candidato para atrapalhar a vida do PT, que é o mais bem colocado nas pesquisas contra o PSDB.
Dois pesos e duas medidas: o governador do Rio exige que o PT não tenha candidato, “para não atrapalhar” a sua reeleição.
Sim, o PT cede e o PMDB avança. Sem contar que em locais históricos como São Paulo e Pernambuco o PMDB estará contra o PT e fará campanha para o candidato nacional a Presidente do PSDB.
Mas, é só isso? Ou devemos lembrar a estranha aliança onde o PT, depois de governar a cidade de Belo Horizonte durante anos, onde no Estado o governador Aécio Neves tem peso e é popular, o PT ao invés de apresentar candidatura própria, prefere fazer aliança com Aécio do PSDB, se sujeitando a um acordo para eleger um dos seus aliados que se filiou ao PSB? E agora, quando chegar a eleição nacional, ao lado de quem estará este prefeito eleito com o apoio do PT e do PSDB?
E os “nossos” outros “aliados”? O Maluf? O Collor? Qual o petista que tem orgulho desta turma estar do seu lado? Afinal das contas, por que a burguesia quer a aliança com o PT?
Em termos gerais, se olharmos o movimento do PMDB e também do governador de Pernambuco que é do PSB, percebemos que todos eles buscam sufocar o PT, diminuir o seu tamanho e a sua representação parlamentar, impedir o crescimento do Partido baseado na popularidade do Presidente Lula. Assim trabalham de um lado com os seus “aliados”: o PMDB, PSB, Maluf e Collor e, do outro, com a “oposição: o PSDB e DEM.
Está claro: para buscar o que realmente e de verdade lhe interessa a burguesia se une e se alia sempre para esmagar o PT, suas candidaturas e seu crescimento.
Assim é que no Congresso Nacional passou a famigerada “Emenda 3” que destruía toda a fiscalização e regulamentação trabalhista e que o Presidente Lula vetou, acertadamente, a pedido da CUT. Assim é que o Ministro da Agricultura recusa-se a assinar a medida que atualiza os índices de produtividade das terras para impedir que mais terras sejam destinadas à Reforma Agrária. Assim é que a emenda que prevê a jornada máxima de 40h semanais e aumento na remuneração das horas extras, do deputado Vicentinho do PT, conta com a oposição aberta do PSDB e DEM e de todos os outros burgueses, ainda que de partidos ditos “aliados”.
Sim, todos eles, aliados e oposição, se juntam contra o PT, contra os trabalhadores.
Hoje, com o Presidente Lula atingindo uma popularidade imensa, com a maioria dos trabalhadores olhando e dizendo: “é nóis lá!”, parte da burguesia se alia ao PT para impedir que os direitos dos trabalhadores avancem, para impedir que o nosso governo vá tão longe quanto necessário na defesa dos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres. Os partidos burgueses exigem sempre cargos e mais cargos que permitem a eles continuar com todas as negociatas que sempre fizeram com o dinheiro público; em troca exigem que o PT renuncie de suas bandeiras, que o PT fique quieto e que isso é necessário para a manutenção da“aliança” e dar governabilidade. E, estridentes e gritões, os burgueses criticam a cada minuto tudo o que o PT faz.
Lula tem mais de 80% da aprovação nacional. Todo esse “capital” pode e deve ser transferido para o PT, para os trabalhadores, porque é deles que vem essa aprovação. Todo esse “capital” poderia, por exemplo, ser usado para convocar uma Constituinte com regras que impedissem que o poder econômico prevalecesse como sempre prevalece em todas as eleições, uma Constituinte para dar voz real ao povo. E, dando essa voz ao povo pobre, o PT deve levantar aquelas bandeiras que sempre foram suas, as quais nossos “aliados” sufocam a cada dia:
- Petrobras 100% estatal, reestatização de tudo o que foi privatizado!
- Terra para quem nela trabalha, reforma agrária sob controle dos trabalhadores!
- Não pagamento da dívida (interna e externa), vamos usar o dinheiro para educação, saúde e trabalho!
- 40 horas semanais, aumento da remuneração das horas extras!
- Aposentadoria integral para todos os trabalhadores (como dizia o projeto original do PT), aprovação de todos os projetos de Paulo Paim que beneficiam os aposentados, revogação de todas as “reformas” da previdência!
- Estatização de todos os hospitais e laboratórios, de todos os planos de saúde, estatização de todas as escolas ou universidades que recebam verbas ou empréstimos governamentais!
Parece radical? Pode ser. Mas, ou damos passos concretos em direção ao socialismo, organizando, preparando e educando o povo trabalhador, ou a burguesia continuará com seus passos peçonhentos que descrevemos no início deste texto com a finalidade única de apear o PT do poder e enterrá-lo, como se nunca tivesse existido.
A Esquerda Marxista tem combatido ao lado dos trabalhadores, defendendo o PT contra os ataques da burguesia, para abrir a via da construção de um governo do PT apoiado na CUT e no MST, sem ministros capitalistas. Estas são as idéias do marxismo que continuamos a defender em direção ao socialismo, anseio fundamental que norteou a fundação do partido.