Recentemente Bolsonaro fez mais uma declaração que chocou os brasileiros pelo seu grau de estupidez. Ele afirmou que o Brasil gasta demais em educação e que, por isso, lançará uma Lava-Jato para avaliar os gastos nessa área.
Em primeiro lugar, é preciso ter claro: o Brasil não gasta demais em educação. Bolsonaro faz uso de relatório da Secretaria do Tesouro Nacional de julho de 2018, publicado também pelo Globo. Porém, na própria reportagem (convenientemente no fim dela), os números são relativizados, indicando que tal cálculo (gasto em educação em relação ao PIB) não é a melhor forma de dizer se um país gasta ou não muito em educação:
“A matemática financeira, no entanto, se mostra mais complexa do que parece. Apesar de investir mais quando o valor é visto em proporção ao PIB, quando se divide o valor pelo número de alunos percebe-se que, na realidade, investe-se muito menos que nos países desenvolvidos.”
Ou seja, considerando-se outros fatores como o número de alunos do Brasil em relação a outros países, vê-se o que todo mundo já sabia: que o Brasil gasta menos que os países imperialistas na educação pública. Em levantamento comparando investimento por aluno em 2014 demonstra-se que gastamos METADE do que os outros países gastam:
“O estudo ‘Education at a Glance’ referente a 2014 mostra que, em média, países membros da OCDE investiram US$ 10.759 anuais por aluno, levando em conta todos os níveis de educação. O mesmo levantamento revela que o Brasil desembolsou apenas metade desse valor: US$ 5.610 anuais.”
Portanto, a afirmação de que o Brasil gasta demais em educação é falsa. O único fator que interessa na vida real é quanto investimos em cada estudante? Porque isso reflete uma melhor infraestrutura, alimentação mais saudável, vestimentas e professores bem remunerados aos estudantes, dentre outras coisas. Como podemos ver, a afirmação de Bolsonaro não passa de engodo matemático sem lastro na realidade.
Mas se a base do argumento de Bolsonaro é mentirosa, então qual o objetivo da anunciada Lava-Jato da educação? O objetivo de Bolsonaro é claramente colocar em prática a Escola Sem Partido (ESP), mesmo se não aprovada no Congresso Nacional. Esta será impulsionada, como o próprio presidente afirma, pelo Ministério da Justiça, Polícia Federal, Advocacia e Controladoria Geral da União.
Não nos enganemos. Sob o pretexto de combate à corrupção nas contas públicas, essa medida servirá somente para impor uma polícia ideológica nas escolas, contra professores e estudantes primordialmente.
Como já explicamos em outros artigos, a Escola Sem Partido serve não somente para combater qualquer possibilidade de livre expressão, pensamento e organização sindical e estudantil nas escolas. Ela também prepara a privatização das escolas públicas brasileiras. Assim, será objetivo da Lava-Jato da educação levantar dados para justificar a destruição da escola pública no país.
É dever da CNTE da CUT, assim como de todos os sindicatos da educação e partidos de esquerda, impulsionar a luta contra a Lava-Jato da educação, que é uma das formas de aplicação da Escola Sem Partido. Isso começa por combater a falácia de que o Brasil gasta demais com educação. Colado a isso devemos impulsionar a luta contra o pagamento da dívida pública, que consome mais de 40% do orçamento nacional todos os anos.
Essa dívida significa, na prática, o saque por banqueiros e acionistas, sob a justificativa de um débito já pago várias vezes e que só aumenta. É aí que deveria estar qualquer tipo de investigação séria. Porém, como não podemos esperar nada do Estado burguês, de Bolsonaro e do Congresso Nacional, só nos resta a nossa própria organização e luta contra este sistema podre.