As medidas amargas anunciadas pelo governo após a eleição, contrariam os interesses de trabalhadores e jovens que vestiram vermelho e foram às ruas para arrancar a vitória e derrotar o PSDB. A quem interessa o rumo escolhido pelo governo?
Logo após a vitória nas urnas, Lula e Dilma trocaram as camisas vermelhas da campanha e um discurso com traços de classe, por camisas brancas e a ênfase na “paz”, no “diálogo” e na “unidade” com os perdedores. Isso, na realidade, foi um recado aos capitalistas de que, apesar da polarização durante a campanha, estava assegurada a velha colaboração de classes. O fantasma de Michel Temer ao fundo, não deixava esquecer o caráter desse governo.
Mas se para manobrar com o povo, eles usam de imagens e palavras, para a burguesia precisam ir até o fim. Precisam ir para a prática.
Três dias após a vitória, o Banco Central anunciou a elevação da taxa de juros para 11,25% ao ano, o que tem implicações diretas no emprego e na carestia de vida. Essa medida, por outro lado, beneficia os investidores e especuladores, já que é essa a taxa aplicada para os juros da dívida pública.
Guido Mantega, o futuro ex-ministro da fazenda, e Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional, pressionados pelo fato do governo estar com déficit fiscal há 5 meses (os gastos superam a arrecadação) anunciam que o governo vai apresentar um plano de recuperação fiscal das contas públicas. Defendem uma combinação de medidas de contenção de despesas e aumento das receitas para o orçamento de 2015.
Mas com o aumento da taxa de juros e o compromisso de uma meta de superávit primário de 2% a 2,5% do PIB, em 2015. Fica claro que os cortes não serão nas bondades ao mercado.
Mantega esclarece quem apertará os cintos: “a União terá de reduzir despesas que estão crescendo, como seguro-desemprego, abono, auxílio-doença. Essas três despesas representam gastos de cerca de R$ 70 bilhões ao ano. A pensão por morte também deve ser reformatada, uma despesa de R$ 90 bilhões.”
Ou seja, o que se prepara são ataques a direitos sociais conquistados pela luta da classe trabalhadora! A crise econômica se aprofunda e, mais uma vez, os trabalhadores estão sendo presenteados com a conta a ser paga.
Dilma, por sua vez, distancia-se do PT e declara aos principais jornais: “Eu não represento o PT. Eu represento a Presidência da República. A opinião do PT é a opinião de um partido. Não me influencia, eu represento o país. Sou presidente dos brasileiros. Acho que o PT, como qualquer partido, tem posições de parte e não do todo, é deles, é típico.”
Essa declaração é um completo absurdo. Ela não apenas repete o já conhecido “eu governo para todos os brasileiros”, na defesa da colaboração de classes, mas aprofunda ao dizer que “(o PT) não me influencia”. Ela, na verdade, quer se diferenciar dos militantes, daqueles que usaram vermelho e foram às ruas para derrotar o PSDB e a direita.
A responsabilidade do rumo do partido está nas mãos de Dilma, Lula e da direção do PT, é isso que expressa a nossa Carta Aberta (ver: https://www.marxismo.org.br/content/carta-aberta-ao-companheiro-lula-presidente-dilma-rousseff-e-ao-diretorio-nacional-do-pt). As ações após a vitória, infelizmente, mostram que escolheram manter a rota de colisão com os interesses das massas. Aos jovens e trabalhadores, após terem barrado o PSDB, restará a luta nas ruas, nas fábricas, nas escolas, para arrancar as reivindicações e preparar uma saída política para o futuro. Nós estaremos lá, para apontar o caminho da Frente Única e da independência de classe, na luta pelo socialismo.