Imagem: Tadeu Rocha

Seca no Amazonas: fogo, fumaça e calor extremo

Dos 62 municípios do Amazonas, 50 estão em estado de emergência por conta da seca severa que atinge o estado. Às margens da área urbana de Manaus, o nível do Rio Negro já está pouco acima de 13 metros, o menor volume desde que a medição começou a ser feita há 120 anos. De acordo o Serviço Geológico Brasileiro, a previsão é que até o final do mês de outubro esse volume caia ainda mais.

Em períodos de cheia, o rio chega a 29 metros e permanece navegável por mais de 700 km, permitindo o deslocamento de barqueiros que fazem o abastecimento de alimentação, combustível e outros insumos essenciais.

Por conta da vazante, lagos e igarapés que cortam as cidades estão secos, mercadorias não chegam ao se destino e professores e alunos ficam impedidos de chegar às escolas. Isso fez com que as aulas fossem suspensas em 48 escolas de 55 comunidades ribeirinhas de Manaus, que passaram a ter aulas remotas. A gestão do prefeito David Almeida (Avante) tomou a mesma decisão durante a pandemia e, como aconteceu em 2020, 2021 e 2022, não foram oferecidas condições para que as crianças tivessem acesso à internet. A zona rural de Manaus possui pouca ou nenhuma estrutura de redes de cabeamento ou mesmo telefonia móvel, o que torna inviável a realização de aulas remotas. Novamente as crianças têm seu acesso à educação negado pela incapacidade do Estado de prover seus direitos fundamentais.

O aquecimento das águas do Oceano Pacífico, conhecido como El Niño, tem provocado temperaturas próximas aos 40°C e umidade relativa do ar abaixo de 40% em uma região acostumada com 80% ou 90%. Com o volume menor e maior quantidade de sedimentos, a água aquece muito acima do normal e mata os peixes que servem de alimento a milhares de pessoas.

Junto a isso, o mês de setembro foi marcado pelo número massivo de incêndios florestais. Este foi o maior registro desde 1998, deixando o Amazonas, que já estava com altas temperaturas, coberto pela fumaça. O sul do estado se tornou uma nova fronteira do agronegócio e boa parte das queimadas serve para abrir pastos. Autazes, a 111 km de Manaus, é um polo de produção leiteira e também um dos municípios que mais concentram focos de incêndios.

A seca deixa as águas dos rios cada vez mais barrentas e revela imensos bancos de areia que são um risco para a maior parte dos barcos regionais, criando grandes dificuldades para o abastecimento de água potável e comida. Mesmo diante de tudo isso, a publicidade do governador Wilson Lima (União Brasil) mantém o discurso de que os culpados pelo aumento das queimadas são a dona de casa que queima lixo doméstico (prática comum nas áreas onde não há coleta) ou os fumantes que jogam bitucas de cigarro.

Os verdadeiros culpados, latifundiários e grileiros que vivem em enclaves de luxo nas áreas mais nobres de Manaus ou em outros estados, sequer são citados. Por que ninguém é preso por causar os incêndios? Onde estão as equipes de emergência que o governador insiste em dizer que atuam ostensivamente? Enquanto Manaus se tornava a segunda cidade do mundo com a pior qualidade do ar, o prefeito postava fotos na academia.

Parte do problema que o Amazonas enfrenta é provocado por fenômenos naturais extremos que podem estar relacionados com a atividade humana em todo o planeta. Mas os efeitos imediatos sofridos pela população do estado são consequência direta do descaso, da falta de planejamento e de investimento por parte do governo. Assim como ignorou os alertas para a falta de oxigênio durante a pandemia, Wilson Lima ignorou os alertas de altas temperaturas causadas pelo El Niño que vinham sendo publicadas desde o início do ano.

Para a burguesia, a Amazônia é apenas mais uma reserva de riqueza a ser explorada sem qualquer preocupação. Grileiros e latifundiários ganham milhões de dólares através da venda dos chamados “créditos de carbono”, que nada mais é do que transformar a floresta em fonte de especulação financeira na bolsa de valores. Enquanto isso os pequenos agricultores, indígenas e ribeirinhos vêm sua fonte de sobrevivência virar fumaça, que causa desconforto e doenças nos trabalhadores urbanos que precisam se deslocar mesmo nos dias em que os médicos recomendavam à população que permanecesse em casa.

É fundamental a organização dos trabalhadores em aliança com as demais classes oprimidas para cobrar imediatamente todas as medidas necessárias ao abastecimento e à segurança da população do Amazonas. Água potável, alimentos e materiais para a purificação de água barrenta precisam chegar a todas as comunidades afetadas. Os pescadores e barqueiros que não podem trabalhar precisam ter seu sustento garantido. Máscaras e outros equipamentos de segurança devem ser distribuídos nas áreas afetadas pela fumaça e os incêndios devem ser combatidos de uma vez por todas.

No futuro, essa mesma unidade será capaz de romper com a destruição e a barbárie do capitalismo para construir uma sociedade em que a floresta possa permanecer de pé e sua riqueza seja utilizada para garantir as necessidades de todos.