Após a declaração de Trump de que o socialismo nunca retornará a esta nação, o Partido Republicano inaugurou uma guerra de mídia contra o setor identificado com o “socialismo democrático” no Partido Democrático. Esta situação é interessante: em um país onde o socialismo e o comunismo foram durante as décadas de guerra fria com a ex-URSS tratados como inimigos do país, eis que hoje a maioria dos jovens prefere o socialismo ao capitalismo.
Por outro lado, os que combatem Trump de forma mais aguerrida no Partido Democrata — entre estes os seguidores de Sanders (senador dos EUA, identificado como socialista e pré-candidato à presidência derrotado por Clinton nas últimas eleições presidenciais) e o grupo Democratas pelo Socialismo — apresentam propostas que se parecem mais com um capitalismo com direitos sociais do que com o socialismo, que pressupõe a abolição da propriedade privada dos meios de produção.
O que estes dois setores representam é uma divisão real da burguesia nos EUA e no mundo de como tratar a crise atual, que se abriu em 2008-2009. Agora, depois de a China ter sido considerada a “salvadora do mundo” por anos pelo seu crescimento ininterrupto, os últimos dados econômicos mostram que as coisas não andam tão bem assim. Em termos simplistas, a crise de 2008 foi uma crise clássica do capitalismo em que se produzia mais do que o mercado podia comprar e setores inteiros tinham que ser destruídos para recomeçar. Para tal, os Estados burgueses foram saqueados, fundos públicos que atendiam a direitos como saúde, educação e previdência foram esvaziados, uma dívida enorme em nome dos Estados foi contraída e alguma hora a conta tinha que chegar.
A conta está chegando e os capitalistas estão se dividindo em como fazer com que os trabalhadores, a pequena burguesia empobrecida e até setores da média burguesia paguem a conta. Uns acham que deve existir uma guerra aberta que esmague o proletariado e suas organizações. Outros, que devem existir mecanismos de compensação social que impeçam uma explosão maior.
Assim, vemos bilionários declarando que é um absurdo que eles paguem menos impostos, percentualmente, que seus trabalhadores e, surpresa das surpresas, até uma declaração de Alckmin, o candidato derrotado do PSDB, “vazada” para um colunista da Folha de São Paulo, onde ele diz que a proposta da “nova Previdência” de Bolsonaro é injusta com os mais pobres.
O outro setor é bem mais direto. O governo Bolsonaro, ao discutir a propaganda da reforma pretendida, mudou de “igual e justa para todos” para “igual para todos”. O sumiço da palavra “justa” por si só, representa uma declaração de guerra que os reformistas não entendem. Afinal, depois de décadas em que a burguesia atirava migalhas para seus cães de estimação, agora a fonte secou e nem ratos sobraram nos esgotos para alimentar os pobres pets abandonados.
Mas, para salvar a sua análise do fracasso total, existe um setor da burguesia que quer, sim, manter algumas compensações sociais para impedir o choque direto entre as classes, uma revolução e, quem sabe, horror dos horrores, novos bolcheviques e novas Repúblicas Soviéticas que mostrem que existe outro caminho além da marcha inexorável para a barbárie.
Assim, enquanto os sociais-democratas de ontem se tornam mais e mais burgueses democráticos, nós explicamos por que a classe operária e a juventude têm que combater as medidas de Bolsonaro e Trump e apresentar às camadas jovens do proletariado o caminho mais simples: expropriar os meios de produção e impedir que a barbárie capitalista de guerras, de tráfico de drogas, de miséria e exploração sem fim continue.
Editorial do jornal Foice&Martelo 131, de 23 de fevereiro de 2019.