Disponibilizamos aos nossos leitores a primeira parte do relato do 29º Congresso da Esquerda Marxista. Ainda esta semana divulgaremos a íntegra do relato e em breve divulgaremos as resoluções ali aprovadas. Mãos à obra, na luta por nossa construção!
Entre os dias 28 e 30 de abril foi realizado o 29º Congresso da Esquerda Marxista, em Barra do Sul – no estado de Santa Catarina. Estiveram presentes na abertura dos trabalhos cerca de 90 pessoas, entre delegados e convidados, vindos de várias regiões do Brasil, para discutir as perspectivas políticas e as resoluções específicas da Esquerda Marxista para os próximos dois anos. Dentre os presentes, um número expressivo de militantes da juventude e sindicalistas. Pela Corrente Marxista Internacional esteve presente o camarada Fred Weston representando o seu Secretariado Internacional. O camarada Pocho, do Uruguai, participou dos trabalhos, e em sua saudação anunciou o seu ingresso na CMI – Corrente Marxista Internacional e a sua intenção de impulsionar em seu país a construção de uma seção marxista.
Fred Weston fez uma explanação sobre a situação e perspectiva mundial. Seu informe teve como base o texto preparatório do Congresso Mundial da CMI, que ocorrerá no próximo mês de julho na Itália. O camarada Fred traçou um panorama da atual crise mundial do capitalismo, na qual a classe dominante está cada vez mais dividida e desorientada diante de sua profundidade, uma crise que não esperava e nem tem ideia de como resolvê-la. “De repente, defronta-se com o fato de não poder manter o controle da sociedade com os velhos métodos. A instabilidade é o elemento predominante na equação em todos os níveis: econômico, financeiro, social e político. Os partidos políticos estão em crise. Os governos e os líderes surgem e caem, sem encontrar nenhuma maneira de sair da estagnação. O mais importante de tudo é que a classe trabalhadora se recuperou da comoção inicial da crise e está entrando em ação. Os elementos avançados dos trabalhadores e dos jovens estão começando a tirar conclusões revolucionárias. Todos estes sintomas significam que estamos entrando no primeiro capítulo da revolução mundial. Este se desenvolverá durante anos, possivelmente décadas, com ascensões e quedas, avanços e recuos; um período de guerras, revolução e contrarrevolução. Esta é uma expressão do fato de que o capitalismo esgotou seu potencial e entrou em uma fase de declive. O capitalismo vive hoje a sua maior crise histórica, provando que é indubitavelmente um obstáculo ao desenvolvimento das forças produtivas em nível mundial”.
Fred privilegiou em seu informe os últimos acontecimentos políticos na Europa, convertida nesse momento histórico no epicentro revolucionário mundial. Discorreu sobre os últimos movimentos da luta de classes, sobretudo na Grécia, Itália, Inglaterra, Alemanha e França, consequência dos constantes ataques à classe trabalhadora nesses países – cortes de salários, repressões policiais, ataques à previdência, aos direitos sindicais e tantos outros – e fez uma análise da desorientação das massas diante da crise, o que decorre da traição dos dirigentes reformistas dos partidos e organizações operárias e da falta de uma direção revolucionária nesse momento de afluxo da luta de classes.
Durante os debates que se seguiram à intervenção do camarada Fred várias intervenções foram feitas. O camarada Leonardo Badell, da Venezuela, fez sua contribuição para a análise da situação política e revolucionária nas Américas Latina e Central, destacando a situação de El Salvador, Chile e Bolívia onde a luta de classes tem fortemente se expressado nas inúmeras greves e no grande crescimento do movimento estudantil com a retomada das mobilizações operárias. Indicou ainda que: “a situação na Venezuela onde, neste período que antecede as eleições, as contradições acumuladas durante anos não desembocaram na tomada do poder; que ali as massas demonstram certo cansaço e desilusão diante da burocracia e indecisões da direção do PSUV. A gravidade da situação pode chegar a uma guerra civil, pois a burguesia se sente fortalecida com os obstáculos erguidos pelo reformismo e pode tirar proveito das vacilações da direção, o que pode funcionar como um chicote e empurrar a revolução mais adiante. O perigo de uma reviravolta à direita é real. Ou o movimento avança na direção da tomada do poder, ocupação de fábricas, estatização dos bancos e do comércio exterior, ou poderá entrar ameaçadoramente em declive”.
Ainda sobre a Venezuela, o camarada Caio Dezorzi, pré-candidato a vereador pelo PT em São Paulo, chamou atenção sobre o momento delicado que o país atravessa e ressaltou que “a Revolução chegou a um beco sem saída. Como não foram realizadas as principais tarefas da Revolução Socialista, uma situação caótica de estancamento econômico, inflação, desemprego e queda dos níveis de vida tomou lugar. O problema está na direção da Revolução. As vacilações constantes, oscilando à direita e à esquerda, a negativa a expropriar os latifundiários, os banqueiros e os capitalistas, levou ao desastre atual. As massas estão cansadas de discursos sem fim sobre socialismo, enquanto muitos dos seus problemas cotidianos continuam sem solução. A situação se complica ainda mais com a enfermidade de Chávez. Sem ele os desenvolvimentos serão completamente imprevisíveis. A burocracia do PSUV não goza da confiança das massas e a direita se encorajaria para buscar tomar o poder em suas mãos. Uma guerra civil não deve ser descartada. As eleições de outubro deste ano serão o ponto crítico e a agudização da luta de classes na Venezuela poderá colocar todo o continente, principalmente os países que falam a língua espanhola, em convulsão”.
Já o camarada Andreas Maia, do Rio de Janeiro, nos lembrou Lenin, quando este escreveu que não existe fim econômico para o sistema capitalista: ou este é derrubado revolucionariamente pela classe trabalhadora ou encontrará um meio de se perpetuar. “O sistema encontrou diferentes saídas para os problemas econômicos, ora utilizando seu ‘braço esquerdo’, as Frentes Populares, ora utilizando seu braço direito, o fascismo, reinventando-se constantemente. Muitos tentam ainda argumentar que a crise não é do capitalismo, mas sim do modelo neoliberal; que existe um ‘capitalismo mau’ e um ‘capitalismo bom’; mas não há saída para a crise econômica e o entravamento das forças produtivas senão a revolução socialista. Apenas a revolução socialista pode pôr fim ao capitalismo. Apesar de crescente, os marxistas ainda são uma pequena força. E nunca foi tão forte a crise de direção das massas no mundo. Nessas circunstâncias, como conseguir ganhar as massas?” Andreas nos recordou ainda do rápido crescimento que teve o partido bolchevique nos anos da Revolução Russa, atribuindo esse crescimento à aplicação da política de Frente Única; enfatizou ainda a importância dessa política para a construção do verdadeiro partido revolucionário.
Vista parcial do plenário: Serge Goulart (de pé ao fundo) dá o informe sobre situação nacional. Na mesa, Alexandre e Roque
O camarada Roque, Vereador de Bauru pelo PT, pré-candidato à reeleição, discorreu sobre a necessidade da construção de uma Internacional que dê aos trabalhadores uma perspectiva revolucionária neste momento de crise. Segundo Roque, é fundamental que os marxistas intervenham para levar aos trabalhadores, neste momento de crise mundial, a perspectiva da tomada do poder pela classe operária, sem o quê torna-se impossível a construção de uma direção revolucionária.
Vários camaradas deram importantes contribuições acerca do papel fundamental da juventude nos movimentos revolucionários, que saindo à frente das lutas ocupa importante lugar na situação em que vivemos. Exemplos disso tivemos na América Latina, na Primavera Árabe e nas manifestações que ocorrem a Europa e EUA. Mas todos destacaram a importância destes movimentos se conectarem com as lutas dos operários. Houve também inúmeros comentários acerca dos efeitos da crise mundial no Brasil, que atualmente está em sua aparente “calmaria”. O governo, por meio de uma falsa propaganda, apresenta a situação econômica como uma avalanche de êxitos, e o país como a nova potência mundial. Vários camaradas, especialmente Serge Goulart, da direção nacional do PT, e Luiz Bicalho, diretor do SINDIFISCO (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita), alertaram inclusive sobre o perigo de crer nas propagandas oficiais que falseiam estatísticas e dados para criar uma imagem pública de recuperação e prosperidade. “Os efeitos da crise puderam ser retardados aqui, mas o Brasil não é uma ilha, sofrerá inevitavelmente as consequências da crise econômica – o que, se de um lado trará sérias consequências desastrosas para a classe trabalhadora, de outro a fará colocar-se em movimento quando o governo estiver incapaz de fazer concessões que estão escudadas na imensa bolha de crédito que foi criada”, disse Serge.
Várias intervenções analisaram o forte impacto que tais acontecimentos terão sobre o país e a consciência das massas, a vida política e a situação econômica, destacando a importância de que a Esquerda Marxista esteja preparada para essa próxima fase onde as contradições se agravarão.
O camarada Miranda, pré-candidato a prefeito pelo PT na cidade de Caieiras disse: “devemos destacar a importância do combate dos marxistas no interior das organizações das massas, que munidos da tática de frente única, devem dialogar e explicar à vanguarda que começa a se desgarrar das direções tradicionais que a tarefa central é a construção de partidos revolucionários de massas sob o terreno da independência de classes, partindo das reivindicações soldando a juventude às lutas operárias, pelo socialismo”.
Após mais de cinco horas de debate, o camarada Fred Weston encerrou sua fala ressaltando que a crise mundial do capitalismo vai aprofundar a luta de classes e causará forte impacto nas organizações de massas, o que implica na necessidade de construir as forças do marxismo na perspectiva revolucionária da tomada do poder pela classe trabalhadora. Fred conclui dizendo que: “os últimos acontecimentos devem trazer aos marxistas apenas um maior entusiasmo, determinação e confiança no futuro socialista da humanidade, tendo como objetivo elevar toda a Internacional ao nível das tarefas históricas que o momento nos impõe. Cada um de nós não pretende nada menos que mudar o mundo, ombro a ombro com os trabalhadores na construção da Internacional, por um mundo sem oprimidos e sem opressores, por um mundo socialista”!
Fotos: Francine Hellman